sábado, 28 de fevereiro de 2009

BANCOS SURFAM NA CRISE E A PRODUÇÃO AFUNDA

Os agiotas estão entre os piores exemplares do gênero humano, ao lado dos torturadores, dos assassinos seriais, dos traficantes, dos molestadores de menores e outras aberrações.

Em qualquer circunstância, um agiota só pensa em aumentar sua fortuna. Não lhe importa que suas vítimas sejam reduzidas à penúria, percam os lares, passem fome, prostituam suas crianças, cometam suicídio.

Move céus e terras para arrancar até o último centavo que lhe devem e sai em busca de outros desesperados para oferecer-lhes não uma tábua de salvação, mas a âncora que os arrastará para as profundezas.

É um abutre em forma humana, tendo o calculismo como característica dominante e a ganância como motivação suprema.

Mas, poderão indagar os leitores, por que lançar tal catalinária contra Shylock (o mercador de Veneza), um personagem tão remoto como o dramaturgo que o criou, William Shakespeare?

Porque Shylock, qual um vampiro, não morreu. Apenas alterou sua aparência. Institucionalizou-se, atendendo hoje pelo nome de banco.

E, enquanto não lhe cravarmos uma estaca no coração, continuará sugando nosso sangue, nossas energias, nossas esperanças.

Estas divagações me foram inspiradas pelo comentário econômico de Octávio Costa na IstoÉ nº 2.051, A lógica dos bancos, sobre a preocupação exclusiva dessas instituições durante a crise global do capitalismo: salvarem a si próprias, sorvendo avidamente o oxigênio de que os setores produtivos carecem para não sufocarem.

Pior mesmo, só essa ingenuidade digna de outro personagem imortal da literatura (Cândido, de Voltaire), ou coisa pior ainda, do Governo Lula: propiciou aos bancos os recursos para eles irrigarem a economia, atenuando a recessão... e agora constata que não fizeram nada disso. Apenas embolsaram a grana, sem sequer agradecerem.

Eis os trechos mais marcantes da ótima coluna de Octávio Costa:
"Os bancos no Brasil têm razões que a própria razão desconhece. Com a economia de vento em popa, praticavam juros e spreads muito elevados porque os custos operacionais e os tributos eram muito altos. Também tomavam por referência a taxa básica de juros, Selic, fixada nas alturas pelo Banco Central (BC) para exorcizar os riscos inflacionários. Mas o cenário mudou. E, para enfrentar a crise econômica mundial e assegurar o fluxo de crédito no País, o governo criou uma série de facilidades para os bancos: liberou R$ 100 bilhões em depósito compulsório, baixou a Selic e reduziu os impostos sobre operações financeiras. Como consequência lógica, esperava-se o aumento no volume de crédito e a queda das taxas de juros e dos spreads. Mas isso não aconteceu... 
"Fica claro que não surtiu o efeito desejado o rol de medidas do Banco Central. A aritmética dos bancos não bate com as contas da equipe econômica. A liberação do compulsório deveria resultar em maior competição e maior volume de crédito. Mas os cinco maiores bancos do País - Itaú- Unibanco, Banco do Brasil, Bradesco, Santander Real e a Caixa - preferiram engordar em R$ 7 bilhões as provisões para créditos duvidosos. (...) O saldo de provisões em dezembro somou R$ 55,9 bilhões, 48,4% a mais do que em dezembro de 2007. A maior provisão foi a do Itaú-Unibanco: R$ 3 bilhões no quarto trimestre. O presidente-executivo do banco, Roberto Setubal, achou prudente reforçar o balanço. 'O ajuste da economia brasileira às novas condições da economia mundial levará algum tempo, reduzirá o crescimento e aumentará o desemprego e a inadimplência', previu."
Saudado como herói pela grande imprensa quando fundiu seu negócio com outra casa de agiotagem, Setubal esqueceu de dizer que "o ajuste da economia brasileira às novas condições da economia mundial" levará muito mais tempo, impondo sacrifícios terríveis ao nosso povo, graças a atitudes como a que ele tomou, cujas consequências óbvias serão exatamente as de reduzir o crescimento e aumentar o desemprego e a inadimplência.

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