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quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

O 'MONSTRO DA MAMADEIRA' E OS MONSTROS DA LEI E ORDEM

A coluna desta 5a. feira de Rogério Gentile na Folha de S. Paulo, Injustiça brasileira, expõe um caso semelhante ao da Escola Base --aquela acusação igualmente precipitada e bombástica (assédio sexual) que, em 1994, um delegado ávido por holofotes fez aos proprietários de uma escola para crianças em São Paulo. 

A mídia sensacionalista açulou a turba e os coitados tiveram a escola depredada, além de quase serem linchados. Depois, ficou provado que eram inocentes.

É revoltante ao extremo. Transcrevo-a na íntegra.

Daniela Toledo do Prado tinha 21 anos quando foi acusada por uma médica, em uma sala de emergência, de cometer um crime pavoroso: matar a própria filha, uma criança de um ano e três meses, com uma overdose de cocaína.

Em estado de choque, sem conseguir dizer quase nada em sua defesa, foi presa e levada pelos policiais, sob gritos de "vagabunda", para a cadeia, onde foi espancada.

Seu rosto ficou desfigurado. Teve a clavícula e a mandíbula quebradas. Perdeu a audição do lado direito -uma das detentas enfiou e quebrou uma caneta em seu ouvido. Apesar dos gritos, ninguém a socorreu e, somente após duas horas, foi levada, em coma, para o hospital.

Trinta e sete dias depois, porém, foi solta quando um laudo provou que não era cocaína o pó branco achado na mamadeira e na boca da menina. Mesmo assim, a Justiça só a absolveu em 2008, dois anos após perder a filha e, como ela costuma dizer, a sua própria vida.

Desempregada, evita até hoje sair de casa sozinha por medo de apanhar em razão da repercussão do caso -era chamada de "monstro da mamadeira". Toma antidepressivos, assim como seu filho de oito anos; diz sofrer dores fortes na cabeça e convulsões. "Não me esqueço do delegado. Dizia ter aberto o corpo de minha filha, que estava cheio de cocaína."

Embora terrível, o caso de Daniela não é uma exceção no Brasil. Cerca de 205,5 mil pessoas, ou 40% do total, estão encarceradas, muitas há anos, sem julgamento. São os chamados "presos provisórios", confinados frequentemente nas mesmas celas de criminosos condenados.

Quantos, de fato, são culpados e deveriam mesmo estar presos? Impossível saber. Os que um dia conseguirem provar sua inocência poderão recorrer à própria Justiça em busca de indenização. Daniela, após tanto sofrimento, conseguiu. Ganhará módicos R$ 25 mil e uma pensão mensal vitalícia de R$ 414. Isso, claro, se o governo Alckmin, que nega culpa do Estado no episódio, não conseguir reverter a decisão.

P.S.: pesquisando o caso para esclarecer a dúvida de um leitor, descobri que ele é pior ainda do que parece. Tratou-se de uma ARMAÇÃO para desqualificar Daniela, que havia denunciado um quintanista de medicina por ESTUPRO. Há um extenso relato aqui. Minhas sinceras desculpas por ter fornecido informação incompleta.
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