quinta-feira, 19 de junho de 2025

NUMA DÉCADA AGÔNICA, ESTE FILME RESGATOU NOSSOS SONHOS E ESPERANÇAS. HOJE TAMBÉM NOS FALTA UM ALENTO

Um dos filmes com intenções políticas mais poéticos da história do cinema, Jonas que terá 25 anos no ano 2000 (que completará meio século no ano que vem...) mostra uma Suíça que, em meados da década de 1970, retornara à plena normalidade capitalista, nada restando dos ventos de mudança que sopraram fortes em 1968, com exceção de um ou outro indivíduo isolado que representava alguma faceta das utopias cultivadas pela geração anterior.

Já não existia um projeto coletivo a imantar tais vertentes, mas os pequenos profetas (como o ótimo diretor Alain Tanner  os qualificou em entrevistas) continuavam tentando levar adiante, isoladamente, aquilo em que acreditavam. Eram oito, todos com os nomes iniciados por M (de maio, o mês das barricadas francesas).
O personagem Mathieu segue as pegadas de Rousseau

Uma teia de circunstâncias inesperadas os vai colocando em contato, até que os oito se reúnem numa única ocasião, congraçando-se na fazenda do personagem que se dedica ao cultivo de vegetais sem contaminação química. É quando almoçam exultantes, numa sequência, belíssima, que simboliza a 
Santa Ceia

Bem naquela fase e sob tais auspícios, o casal de fazendeiros gera um filho, que terá o simbólico nome de Jonas. 

A alusão é ao profeta que foi engolido pela baleia mas sobreviveu, assim como o filme acena com a esperança de que a criança sobreviverá à gordura capitalista para, no ano 2000, corporificar uma nova e definitiva síntese dos ideais dos pequenos profetas.

Embora o filme não esclareça como isto se dará, parece destacar sobretudo a via representada pelo personagem Mathieu (São Mateus?), que Rufus interpreta.

Ele quer educar as crianças de forma que não percam sua bondade natural, escapando ilesas aos condicionamentos ideológicos que uma sociedade corrupta lhes tenta impor, mais ou menos como Jean-Jacques Rousseau preconizou em Emílio, ou Da Educação

Hoje, quando as melhores esperanças da humanidade parecem ter ficado para trás, substituídas pelos piores augúrios quanto à própria sobrevivência da nossa espécie, Jonas... é um filme simplesmente obrigatório. 

Até por colocar em discussão o que realmente vale a pena discutirmos: se 1968 foi uma primavera que passou em nossas vidas ou o ensaio geral de uma revolução que ainda chegará? (por Celso Lungaretti)
Clique aqui para assistir ao filme completo no Youtube

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