dalton rosado
O NEONAZISMO NA CRISE DO CAPITAL
"O mal não pode ser banal e radical a uma só vez.
o mal pode ser extremo, mas nunca radical
Só o bem pode ser... profundo e
radical" (Hanna Arendt)
A Grande Depressão de 1929/1939, fruto da crise do capital na segunda revolução industrial fordista, descambou na 1ª Guerra Mundial e foi o combustível da 2ª, bem como do surgimento do nazismo.
O genocídio mundial do século 20 e suas guerras têm origem na natureza capitalista; em sua essência e natureza ao mesmo tempo segregacionista pela riqueza em relação à pobreza e ordenamento político-belicista de luta pela hegemonia econômica das nações economicamente fortes por ele criadas.
A crise do capital oportuniza o sentimento supremacista xenófobo, segundo o qual os que se apropriam da riqueza advinda do sistema produtor de mercadorias empenham-se em submeter os empobrecidos a um torpor insano e cruel, fadado ao genocídio bélico.
Vivemos tempos similares e com maior gravidade, tanto pela dimensão da crise como pela capacidade destrutiva nuclear e ecológica da terceira revolução industrial cibernética que em tudo e por tudo é incompatível com a lógica de sustentação do capital. Esse é o combustível do surgimento do neonazismo sem disfarces e pejos.
A contradição entre forma capitalista e seu conteúdo intrínseco negativo explicitado está nos levando para o cadafalso, e sua superação é, ao mesmo tempo, necessária e incompreendida.
Nada mais exemplar do cadafalso do que as afirmações de Donald Trump no dia de sua segunda posse: sentindo-se legitimado pelos aplausos nazistóides, desandou a cometer sincericídio, deixando à mostra os seus delírios de onipotência.
Na entrevista concedida aos jornalistas com ar de informalidade previamente estudado e no qual ele não se preocupou em segurar a língua por se sentir legitimado para dizer tudo que representa retrocesso civilizatório sem peias, saíram bijuterias perigosas que mais parecem advindas de um pesadelo aterrador.
Vejamos, resumidamente, algumas das mais contraditórias:
-- saída do acordo do clima de Paris, estímulo à prospecção e consumo de petróleo, e combate à energia limpa das eólicas.
Como negacionista incorrigível que é desde os tempos da vacina contra covid, Trump finge desconhecer o alerta dos cientistas sobre a emissão de gás carbônico na atmosfera pelos Estados Unidos, maior emissor mundial, e decide que seu país vai seguir em frente nessa faina atmosférica sem dar bola para os eventos climáticos mundiais que se avolumam em quantidade e intensidade, tanto que acabam de devastar Los Angeles, a segunda maior cidade dos Estados, causando dezenas de mortes e prejuízos de bilhões de dólares.
Por considerar que os EUA são os grandes compradores de mercadorias de todo o mundo (o que faz com dólar falso impresso pela Federal Reserve ao seu bel prazer e aceito inadvertidamente alhures como moeda universal), entende que pode taxar as mercadorias que compram de todos os produtores mundiais e, especialmente, da China, grande fornecedora de mercadorias baratas para o Tio Sam.
Pretende, com tal política de relações com o comércio externo, estimular a produção local, sem levar em conta que o padrão salarial dos estadunidenses é incompatível com os custos de produção num mercado no qual vence quem vende mais barato e melhor.
Logo, logo, restará comprovada essa bravata, justamente porque tal política provocará uma alta ainda maior da inflação já bastante elevada para os padrões estadunidenses que foi o combustível da derrota de Kamala Harris.
Além da inflação, haverá escassez de mercadorias para consumo e atualização dos meios de produção que necessitam permanentemente de modernização do capital fixo (máquinas tecnológicas, robôs, computadores, etc.), e aumento do desemprego, num efeito contrário ao por ele desejado.
-- restrição ao reconhecimento da diversidade de gênero.
Pelo decreto presidencial somente se reconhece os gêneros masculino e feminino, e desse modo os hermafroditas (definidos na biologia como pessoas que nascem concomitantemente com os dois sexos) não serão aceitas como tais.
Os homossexuais, por sua vez, estarão excluídos de uma condição de respeito à diversidade sexual implicitamente contida neste decreto, como se ela não existisse de fato, e tudo no melhor/pior estilo oficial nazistóide.
-- restrição ao direito constitucional (que, como tal, precisará de difícil confirmação no Congresso dos EUA) de cidadania aos nascidos em solo estadunidense.
Doravante, para que um nascituro seja considerado cidadão dos Estados Unidos. deverá atender a critérios de avaliação definidos burocraticamente sobre a aceitação ou não de tal condição.
-- restrição de abrigo aos refugiados e outro de deportação de imigrantes ilegais.
O decreto de restrição aos direitos dos refugiados é um claro ato de desumanidade para com os que. pelos mais variados motivos na linha de guerra ou perseguição política, cheguem aos Estados Unidos.
Da mesma forma serão deportados os imigrantes que o governo considere ilegais. Observe-se que o próprio Donald Trump é descendente de imigrantes alemães (Frederick Trump, seu avô, da etnia celta, nasceu na Alemanha e se tornou um imigrante rico nos Estados Unidos).
Em suma, os decretos trumpianos de restrição de direitos refletem a desumanidade contida na estrutura ideológica de um governo conservador, avesso à fraternidade de uma relação social acolhedora, a qual somente é possível sob um contrato social desprovido da competitividade fratricida induzida pela forma-valor, gênese do capitalismo e sua natureza segregacionista e criminosa.
A presunção e pretensão da supremacia estadunidense seria apenas um natural desejo de prosperidade nacional contido no dístico Make América great again se não fosse, concomitantemente, um desejo xenófobo de domínio sobre os demais países. Vide, p. ex., algumas respostas dadas durante as várias entrevistas:
"O Brasil precisa dos Estados Unidos, mas nós não precisamos dele""A Organização Mundial de Saúde nos explora, e é por isso que estamos saindo dela" (o negacionismo, ele sim, é a verdadeira razão)."Todo mundo rouba dos Estados Unidos" (inverte o fato de que, com o dólar oficial falso, os EUA tudo compram mundo afora de graça)."A China controla o Canal do Panamá" (o que não é verdade, pois o canal é controlado por uma agência do governo panamenho, o qual, vale lembrar, é ligado aos Estados Unidos)."Se as brics prejudicarem os interesses dos EUA, vou taxá-las em 100%""Acho legítimo invadirmos o México à procura dos cartéis do crime organizado por lá""Não vamos mais comprar petróleo da Venezuela", e por aí vai.
Ele é pedante e desrespeitoso com as nações, e parece acreditar que é o dono do mundo, mas não passa de um narcisista perigoso neste ocaso do capitalismo de mercado que dá sinais claros de inviabilidade e desestabilidade.
Se ele quer a América grande novamente, é porque reconhece que já não é mais suficientemente grande como ele quer no seu sonho megalomaníaco de bilionário mimado e prepotente.
A verdade é que um fim se aproxima, seja o nosso como espécie ou como seres dependentes do capital. A segunda hipótese é a que queremos e por ela lutamos. (por Dalton Rosado)
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