sexta-feira, 30 de dezembro de 2022

INTIMIDANTE, A OVERSOSE DE AUÊS EMBOTA O RACIOCÍNIO CRÍTICO

Quem sonha com uma vida sem privilegiados,
não se identifica com reis e suas coroas...
S
er revolucionários é ser iconoclasta, pois todos os ídolos oscilam entre o sublime e o ridículo, ora se comportando com grandeza, ora tropeçando nas cascas de banana da vida. Quanto muito, sua quota de acertos é maior que a dos sem holofotes.

Como estou cansado de remar contra a corrente, dispus-me a ficar alheio à enxurrada de auês que a morte do Pelé inevitavelmente provocaria. 

Mas, para o bem ou para o mal, meus sentimentos falaram mais alto e acabei abrindo o jogo num grupo de discussão da web. 

Então, já que o gênio saiu da garrafa, deixemo-lo à solta 

Rei Pelé? Viramos monarquistas? Ele foi o melhor futebolista do mundo no século passado e um cidadão com suas contradições, virtudes e fraquezas, como qualquer ser humano. 

A obsessão em magnificar seus feitos e passar pano em seus defeitos me parece ser ainda uma sequela do complexo de vira-lata. Em tão poucas coisas nos destacamos que extrapolamos desmedidamente a dose quando algum brasileiro obtém reconhecimento mundial. 
...mas sim com quem  existe para trazer  alegria ao povo!

E dizer que Pelé jamais será superado é simplesmente negar a dinâmica da História, além de não haver termo de comparação possível ou imaginável entre o futebol do tempo dele e o atual. 

Com espírito crítico, o que dá para se dizer é que Pelé foi o melhor do século 20, Messi é por enquanto o melhor do século 21 e ponto final. Tudo que vem depois disto costuma ser ufanismo e patriotada.

Quanto a maior atleta do século passado, só existiu um realmente completo, ou seja, tão extraordinário como esportista quanto como cidadão: Muhammad Ali. 

Mas, é claro que a imprensa burguesa jamais passará recibo disto, tendo sido ele um boxeador que abriu mão de um cinturão de campeão e de milhões de dólares em bolsas para não avalizar uma guerra injusta, participando de eventos cujo objetivo era empurrar soldados para os campos de batalha e a morte inútil. (por Celso Lungaretti)
"...a perfeição é uma meta/ defendida pelo goleiro/ que joga na seleção/
e eu não sou Pelé nem nada/ se muito for, eu sou um Tostão" (tendo
esta música sido lançada no tempo da censura brava, circulou muito
que o verso acima originalmente seria a perfeição é uma merda) 

2 comentários:

Anônimo disse...

Se Pelé houvesse despontado no futebol e fosse cria do Modesto da marginal sem número, duvido que tu carregaria nas tintas sobre ele! Duvido! O ranço contra o Negão está introjetado e recôndito no teu inconsciente; todavia, vida que segue...

celsolungaretti disse...

Paixão clubística está longe de ser minha principal motivação. Sou um pouco mais sofisticado do que isto.

Também nunca me interessei muito pelas querelas familiares dele.

Mas, depois de ter passado o Mundial de 1970 preso no DOI-Codi do Rio, torci muito pelo Brasil na Copa seguinte. E fiquei decepcionado por perceber que, na semifinal contra a laranja mecânica, o Brasil poderia ter ido para o intervalo com uns dois gols de vantagem. Jogou melhor e pecou nas conclusões.

Na segunda etapa, contudo, a Holanda abriu o placar, passou a dominar a partida e não deu mais chances para o Brasil.

Aí sim peguei bronca do Pelé, e por um motivo bem maior: conhecendo-o desde que seus jogos pelo Santos começaram a ser televisionados, vendo/lendo amiúde suas entrevistas e tirando conclusões próprias de tudo isso, tive absoluta certeza de que ele só resistiu tanto aos apelos generalizados para que voltasse a defender o Brasil em 1974 porque cultuava a própria imagem e temia despedir-se com um fracasso. Preferia sair por cima, como tricampeão.

Essas vaidadezinhas mesquinhas eu não perdoo. Admirei o Maradona por ir todo baleado disputar uma Copa para atender aos apelos que vinham de todo lado. Nem pensou na sua imagem, quis é corresponder ao carinho dos torcedores, acima de tudo.

O Pelé fez exatamente o contrário, uma opção narcisista. E para piorar, quando voltou a calçar as chuteiras para ganhar os dólares do Cosmos, não podendo mais alegar que sua negativa se devera ao fato de já ter-se despedido oficialmente e querer manter a palavra, saiu-se com uma infâmia.

Ele, que nunca dera a mínima para o que sofríamos nos porões do regime militar, alegou que se recusou a voltar à seleção em 1974 porque o Brasil estava sob ditadura. Só que o auge do terrorismo de Estado foi em 1970, quando ele atuou e não disse uma única palavra a respeito, e não em 1974, quando as atrocidades da repressão haviam se reduzido a uns poucos e esporádicos episódios.

A luta na qual morreram tantos companheiros valorosos e estimados não deveria jamais ser utilizada como desculpa esfarrapada por um sujeito que não tinha a mais remota noção de quem éramos e por que travávamos aquela luta desesperada.

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