A OPOSIÇÃO JÁ ESTÁ NAS RUAS
Passada as eleições, a esquerda foi para casa descansar. Deve retornar daqui a dois anos para uma nova caça ao voto. Infelizmente, a luta de classes não tira férias.
Após a derrota de domingo e o silêncio atordoante de seu líder, a extrema-direita saiu às ruas em ações coordenadas de bloqueios nas estradas. O movimento, com participação minoritária de caminhoneiros, é liderado massivamente pelo agronegócio (sobretudo dos estados do Sul e Centro-Oeste) e por bolsonaristas radicais dos grandes centros urbanos.
A intenção dos manifestantes é pura e simplesmente dar um golpe: anular as eleições e impor um governo militar. E o nome do Bolsonaro não aparece mais nos discursos e falas, talvez sinalizando desde já um descolamento dos seguidores com o líder caído.
Contudo, entre a intenção e a realidade vai um longo caminho e, obviamente, um golpe nas condições atuais do Brasil é algo remoto – não impossível, mas extremamente improvável.
Gaviões da Fiel atravessaram bloqueios na marra |
Isto porque o grande capital doméstico está fechado com Lula, da mesma forma que o grande capital estrangeiro (daí o reconhecimento imediato, por parte dos principais líderes mundiais, da vitória de Lula, com o francês Macron e o estadunidense Biden entre os primeiros da fila.
Por enquanto, a rebelião vem dos setores médios e pequenos do empresariado, sobretudo dos ruralistas, insatisfeitos com verem freada a faina destrutiva contra a natureza, os indígenas e os trabalhadores rurais. Nada indica, porém, que não possa crescer no futuro, gerando até a ingovernabilidade do governo Lula.
Na realidade, tais ações bolsonaristas têm servido para reenergizar o movimento após a humilhação dos resultados eleitorais e a festa popular Brasil afora. O sentido tem sido o de manter a tropa unida e motivada, a postos para futuras batalhas. Enquanto a esquerda saí de cena, esvaziando as ruas, a extrema-direita as ocupa em ações praticamente de guerrilhas.
Mais trágico é não se aprender com a história. Em 2014, apenas um mês depois da derrota definitiva das manifestações de 2013, surgiram as primeiras manifestações pelo impeachment de Dilma, as quais iriam, em ondas sucessivas, crescer até a vitória em 2016.
Começaram também pequenas, com gente da classe média vestida de verde e amarelo. Ninguém à época acreditava no potencial desta turba em colocar um incapaz na presidência.
A ultradireita permanece ativa e mobilizada. Suas ações logo após o resultado eleitoral são o primeiro ato de oposição ao novo governo Lula e doravante devem seguir em frente, com maior ou menor intensidade.
Quando as contradições inconciliáveis começarem a rachar o arco de alianças eleitoral do PT e a crise econômica bater forte, esta oposição estará pronta para dar o arremate, já visando nova investida ao poder.
E isto será com ou sem Bolsonaro. Este fará de tudo para manter-se na liderança do processo e, caso continue em liberdade, terá mais facilidades para tanto. Para contornar este cenário, só com sua prisão e o desmonte da estrutura fascistóide montada por ele no aparato estatal.
Lula e os petistas, contudo, parecem ter outros planos. Com os louros da vitória eleitoral, foram para casa descansar, confiando no Xandão para cuidar de tudo.
Nisto ignoram a lição de Maquiavel: o poder nunca está fundamentado nos poderosos, mas na massa do povo. (por David Emanuel Coelho)
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