dalton rosado
OS MEUS ELEITOS
Não voto, mas é claro que as eleições presidenciais deste domingo (30) têm importância fundamental para todos e, obviamente, para mim.
Até não votar por opção conceitual e doutrinária é uma forma de votar, de protestar –ou, ainda, de marcar posição (de alerta) sobre o day after.
Uma vitória do Boçalnaro, o ignaro representaria, para todo o povo brasileiro, um retrocesso civilizatório e material inaceitável, motivo pelo qual o meu ato de protesto ou omissão do voto tem sido questionado. Mas insisto que é um alerta, mesmo que represente um grito no deserto.
Aliás, tudo indica que seja bastante improvável tal resultado, a esta altura do 2º tempo e com os reiterados tiros nos pés dados pelo próprio candidato e seus correligionários próximos:
— a história do pintou um clima;
— a desindexação do salário-mínimo à inflação que estaria nos planos secretos do Paulo Guedes; e
— as sandices do Bob Jeff, o cowboy tupiniquim tresloucado, uma espécie de Adélio Bispo usando armamento de verdade ao invés de lâmina retrátil.
Seria a volta de posturas intolerantes nos costumes e da aceitação de restrições de direitos trabalhistas, salariais, fome e morte em nome da economia (caso da covid) e de uma hipotética retomada do desenvolvimento econômico e do mercado.
A legitimação de tantas proposituras absurdas e retrógradas pelo voto seria um retrocesso de dimensões históricas e, talvez, sofregamente duradouras.
A vitória de Lula agora é bastante provável, de vez que as eleições tomaram um nítido conteúdo de classes, com o candidato sebastianista detendo a preferência da faixa bem mais numerosa, a de baixa renda (mesmo que parte do patronato pressione fortemente tal estrato social).
Mas, classifico a eleição de Lula como mal bem menor, fruto de uma convergência de segmentos influentes e mais lúcidos da sociedade civil que somaram forças, superando divergências conciliáveis, algumas ditas progressistas e outras nem tanto, o que nos aponta para uma distensão social momentânea.
Quando digo que a distensão é momentânea, quero alertar para os graves problemas socioeconômicos e ecológicos que certamente cairão no colo do Lula.
Eles estão a requerer soluções fora da caixa e do pensar habitual, mas não são sequer percebidos pelo candidato social-democrata-trabalhista.
Lula, no seu afã de parecer palatável aos setores elitistas do mundo político e econômico brasileiro, tende a adotar, de forma simplista, soluções antigas para problemas novos.
O mundo em depressão econômica causada por fatores endógenos à sua própria lógica funcional está a clamar por medidas antes inimagináveis, como:
— a transição gradativa e preferencial de energia fóssil para energias limpas (eólica e fotovoltaica), e não o fortalecimento da Petrobrás como se ainda estivéssemos no tempo do petróleo é nosso;
— a produção alimentar voltada para a satisfação das necessidades de consumo popular, de modo a acabar com a tragédia do fome num país que é o segundo maior produtor mundial de alimentos;
— a guinada na visão que se tem do mercado, passando-se a considerá-lo um mal social a ser extirpado e não um fator de equalização dos problemas sociais;
— o abandono da crença arcaica de que tudo se resolverá com a retomada do desenvolvimento econômico, substituída por um receituário que priorize o desenvolvimento humano e a melhora da qualidade de vida;
— a formatação de uma estrutura jurídico-constitucional de base, a fim de que não tenhamos mais de aceitar os centrões da como vida indispensáveis à sobrevivência da democracia burguesa e esta como indispensável para que não sobrevenham ditaduras.
Estou contando as horas para que ultrapassemos este momento de discussões eleitorais estéreis e possamos nos debruçar sobre soluções viáveis e duradouras dos nossos destinos.
Assim, quero falar de coisas prazerosas que me acompanham nos últimos 60 anos; quero falar dos nossos grupos brasileiros musicais que tantos prazeres nos proporcionaram.
Seguindo a ordem cronológica, começarei pelos cariocas (naturais ou por adoção), subdivididos em dois blocos, o primeiro com Tim Maia, Roberto Carlos, Erasmo Carlos, Jorge Ben Jor, que se uniram inicialmente no conjunto Os Sputniks, para depois encantarem o Brasil com melodias tão originais quanto belas.
O segundo com os expoentes da Bossa Nova, quais sejam Tom Jobim, Vinícius de Morais, João Gilberto, Chico Buarque, Roberto Menescal, Ronaldo Bôscoli, Carlos Lira, Johnny Alf, Nara Leão, Silvinha Telles, Elizeth Cardoso, Agostinho dos Santos, Astrud Gilberto, Miúcha e outros.
Os baianos, também subdivididos em dois blocos, o primeiro formado por Gilberto Gil, Caetano Veloso, Maria Betânia, Gal Costa, Tom Zé, Torquato Neto, Capinam,
O segundo integrado pelos novos baianos Morais Moreira, Baby do Brasil, Paulinho Boca de Cantor, Pepeu Gomes, Elomar, Carlinhos Brown, Luiz Caldas, Luiz Galvão, Daniela Mercury, Ivete Sangalo, Margareth Menezes, Cláudia Leite e outros.
Os mineiros do Clube da Esquina, com Milton Nascimento, Fernando Brant, Lô Borges, Márcio Borges, Toninho Horta, Beto Guedes, Flávio Venturini, Wagner Tiso, Tavinho Moura e outros.
Os cearenses, agrupados em torno no que se convencionou chamar Pessoal do Ceará, com Belchior, Raimundo Fagner, Ednardo, Rodger Rogério, Teti, Jorge Melo, Petrúcio Maia, Fausto Nilo, Augusto Pontes, Stélio do Vale, Brandão e outros.
Os pernambucanos e paraibanos, com destaque para Geraldo Vandré, Alceu Valença, Geraldo Azevedo, Lenine, Chico Science, Zé Ramalho, Elba Ramalho, Nana Vasconcelos, Reginaldo Rossi e outros
Estes são os meus eleitos, que formaram grupos de produções musicais em cada região e que dão ao Brasil o belo título de país do chamado 1º mundo da música planetária.
Como diz o meu amigo e editor jornalístico Osvaldo Araújo, a música é o que mais se aproxima do divino.
Vou ouvi-los para que me ajudem a superar a mediocridade e a tormenta... (por Dalton Rosado)
"Quem sabe o canto da gente, seguindo
na frente, prepare o dia da alegria!"
Um comentário:
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Grande Dalton!
Participei de um meet a respeito de política e martelei seus conceitos de valor da forma-valor.
Cheguei até a referir a crença na mercadoria-fetiche como um surto esquizofrênico.
Hehehe. Maneirei, é claro, mas percebi o quanto são ignorantes as pessoas sobre a sua condição de escravos de uma reificação, uma lógica autotélica e outras palavras difíceis que você fala. Que não usei, por óbvio.
Falamos de política. Escanteei, meu conceito de política como um jogo no qual não existe simetria de oportunidades e informação e é, logo, um jogo desonesto.
Substitui pelo de Dale Carnegie - a arte de dizer o que o outro quer ouvir.
Falsidade a enésima potência.
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Escolher não escolher é uma escolha válida quando as escolhas são péssimas.
E é tudo tão contingente que podemos mudar de opinião.
Somos livres. Tão livres que somos condenados a liberdade.
O que não podemos é ter má-fé e atribuir nossas escolhas a isto ou aquilo.
***
Já o momento político atual é de caos.
A demagogia é filha da oligarquia e a tirania (governo de criminosos) é filha da demagogia.
O tirano nasce dos acordos que o demagogo faz para se manter no poder.
E o tirano, necessariamente, tem que ser eleito pelo povo.
A índole criminosa do tirano, e seu entorno, leva ao caos e ao desrespeito ao contrato social.
É por isso que a "campanha" política é um mar de lama. O sujo falando do mal-lavado.
O caos!
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Avante!
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