Claramente, as eleições 2022 são uma página importante na luta de classes no Brasil. A disputa entre capitalistas e trabalhadores se tornou ferrenha nas ruas, praças, redes sociais, igrejas, escolas e locais de trabalho.
Nestes últimos, inclusive, muitas vezes de forma criminosa, com assédio eleitoral por parte dos patrões contra seus empregados. Ameaças de demissão, de cortes de vagas, terrorismo salarial, criação de listas negras, tudo isso entra no rol das armas usadas pelo patronato para tentar impor aos funcionários sua opção política.
Ao mesmo tempo, o povão está imensamente mobilizado, saindo às ruas e fazendo campanha. Muitos chegam até a enfrentar o patronato reacionário. O país está mobilizado como nunca esteve em décadas, sinalizando o momento dramático vivido pelo Brasil neste contexto.
Há praticamente uma divisão entre os contingentes do atraso – agronegócio, igrejas evangélicas, militares, etc. – e as resilientes forças da lucidez e do progresso. Funesto é que o atraso surge socialmente enquanto o futuro; e o progresso, como o passado.
Daí a campanha fechada em torno de Lula ser predominantemente defensiva, pautada não numa nova proposta para o país, mas em manter o mínimo ainda restante de vida digna.
É como se estivéssemos à beira do fim do Império Romano e o agrupamento em torno de Lula fossem os restos da sobriedade romana e seu espírito cosmopolita, tentando resistir bravamente ao avanço dos bárbaros e do cristianismo apocalíptico.
Foi trágico daquela vez, está sendo agora, pois naquele momento tanto um grupo quanto o outro estavam comprometidos com a mesma base econômica, de grande propriedade rural e do trabalho escravo.
Não é diferente agora: ganhe quem ganhar, a base econômica do país seguirá intacta e a lógica de transformar o Brasil numa colônia agrário-extrativista prosseguirá em frente.
Daí o título deste artigo. Lula não é o representante autêntico da classe trabalhadora mas, até mesmo, seu inimigo; contudo, passa por ser seu grande salvador.
Para usar outra metáfora com a Roma antiga, é o povão se aglutinando em torno de César, mesmo este sendo apenas mais um representante dos grandes latifundiários.
E me referi a um efeito ótico porque às vezes o desvio da luz ou da imagem gera uma ilusão. A ilusão está calcada em algo real, que é a luz, mas se trata de uma forma distorcida da realidade.
O mesmo acontece nesta eleição, do lado do povo trabalhador. Lula, por um desvio de ótica, aparece enquanto um líder popular, representante da classe, quando não o é.
Já Bolsonaro faz as vezes de representante efetivo da classe capitalista brasileira, o que lhe confere mais uma vantagem com relação aos trabalhadores.
A luta de classes, contudo, acontece apesar das ilusões. E as massas vão às urnas no domingo decidir seu futuro de forma feroz. (por David Emanuel Coelho)
Nenhum comentário:
Postar um comentário