RETÓRICA DE BOLSONARO EMBUTE CONFISSÃO DE
QUE AMAZÔNIA VIROU
TERRA SEM LEI
Ao discursar para os chefes de estado reunidos na Cúpula das Américas, em Los Angeles, Bolsonaro referiu-se com respeito e compostura ao caso do indigenista brasileiro Bruno Pereira e do jornalista britânico Dom Phillips, sumidos desde domingo passado na região do Vale do Javari, no Amazonas.
Quem ouviu os comentários tóxicos que o presidente brasileiro fizera anteriormente, teve a impressão de que o Bolsonaro do encontro internacional estava completamente fora de si.
No evento patrocinado pelo governo americano, Bolsonaro disse que, "desde o primeiro momento, nossas Forças Armadas e a Polícia Federal estão numa busca incansável".
Rogou a Deus para que os desaparecidos "sejam encontrados com vida". Já nos dois comentários radioativos feitos na véspera e no início da semana, o presidente havia praticamente culpado as vítimas pelo próprio infortúnio ao sustentar que o jornalista e o indigenista meteram-se numa "aventura não recomendável" em área perigosa.
A nova manifestação de Bolsonaro é tardia, insuficiente e constrangedora. Chega tarde porque a essa altura o governo brasileiro já está pendurado nas manchetes de ponta-cabeça ao redor do mundo. Restou a sensação de que Bolsonaro, espremido numa viagem ao estrangeiro, diz com atraso e por pressão o que se absteve de declarar na primeira hora por convicção.
A manifestação não é suficiente porque vem desacompanhada de evidências sobre a suposta "busca incansável".
Nesta 5ª feira, o ministro do Supremo Tribunal Federal Luís Roberto Barroso deu prazo de cinco dias para que o governo apresente relatório sigiloso sobre as providências que adotou para localizar os desaparecidos. As palavras do presidente constrangem porque expõem a contradição da sua retórica.
No despacho em que requisitou informações sobre as operações para localizar Dom e Bruno, o ministro Luís Barroso anotou: "Sem uma atuação efetiva e determinada do Estado brasileiro, a Amazônia vai cair, progressivamente, em situação de anomia, de terra sem lei. É preciso reordenar as prioridades do país nessa matéria".
Plantou chuva e colheu tempestade em ocasião inoportuna |
Bolsonaro repetiu nos Estados Unidos que o Brasil protege a Amazônia e oferece "exemplo para o mundo na questão ambiental". O mesmo Bolsonaro refere-se à região amazônica como um pedaço do mapa tão inseguro que transforma o trabalho de um indigenista e de um jornalista numa "aventura" letal.
É como se o presidente confessasse que, no Vale do Javari, uma área acossada por traficantes, pescadores, caçadores, madeireiros e garimpeiros ilegais, vigora a lei da selva.
Ali, a Funai deixou de existir. A bandidagem prevalece até sobre as Forças Armadas, que têm a responsabilidade legal de zelar pela integridade do território nacional nas zonas fronteiriças. (por Josias de Souza, acertando na mosca!)
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