Um dos maiores clássicos da sétima arte em todos os tempos, M, o vampiro de Dusseldorf, dirigido pelo grande Fritz Lang em 1931, continua sendo, para nossa vergonha, extremamente atual.
Mostra um homem perturbado (Peter Lorre), que tem a idade mental de uma criança... e assassina outras crianças.
Bem mais significativo do que a história de serial killer, contudo, é este desdobramento: os criminosos, não suportando mais a presença maciça de policiais nas ruas a atrapalharem suas atividades, resolvem cuidar eles mesmos do infanticida.
Capturam-no e o submetem a um grotesco julgamento do submundo, terminando, claro, por condená-lo à morte. Lang insinuava que o nazismo ascendente era isto, criminosos assumindo o poder na sociedade e encenando farsas sinistras.
Como os ultradireitistas de lá não tinham QI negativo como os brucutus da horda bolsonarista, não lhes passou despercebida tal intenção.
Como consequência, Peter Lorre, que era judeu, deixou a Alemanha logo após o término das filmagens, enquanto o meio judeu Fritz Lang seguiu seu exemplo dois anos depois. O filme foi proibido pelos nazistas em 1933.
Agora a vida está imitando a arte de forma mais completa ainda em nosso país, pois, assim como durante a escalada do nazismo na Alemanha, seus herdeiros brasileiros estão empoderados e tudo fazem para avacalhar a Justiça burguesa, subsituindo-a por uma fake justice das sarjetas
Temo que a vida acabe imitando a arte também no tocante às distopias sobre o fim da humanidade. E o pior é que já nem sei se merecemos destino melhor... (por Celso Lungaretti)
3 comentários:
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Teremos um destino melhor, Celso.
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A pancada do bumbo mudou e alguns ainda estão dançando no ritmo antigo.
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Acompanho o canal Expandindo Mundos com Luciano e Gustavo e nele o Luciano está mostrando sua luta para replantar uma floresta no sítio ancestral. Suas tentativas de viver o minimalismo. As ferramentas que inventa. As pequenas conquistas (um micro-trator recentemente) graças aos ganhos da companheira, ao adsense e ao financiamento coletivo. É uma linda história sendo contada ao vivo e a cores na rede social.
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E isso ficará gravado na "nuvem" por muito tempo servindo de exemplo e inspiração para os filhos deles e outros tantos que assistem.
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Esta é a possibilidade bonita da nova memória e do novo meio de produção de conteúdo.
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Porém, se os antigos nazistas puderam sair impunes alegando que estavam "obedecendo ordens" (menos Klaus Eichmann), os atuais não terão como fazer tal alegação.
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As atrocidades que cometerem estarão todas na "nuvem". Todas no imenso repositório de memórias que se tornou a internet.
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Como explicarão as futuras gerações a incivilidade de atacar pessoas indefesas?
Como posar de correto e alegar obediência?
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Não! Eles serão julgados e, diferente dos oficiais antecessores, serão confrontados diretamente com seus crimes.
Suas postagens.
Seus momentos de narcisismo doentio.
Até com suas qualidades.
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Não há como destruir uma rede. Ela é cheia de nós.
Nossa documentação está melhor e a memória mais resiliente.
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Dias melhores virão.
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Correção Adolph Eichmann.
Companheiro,
eu me fio mais numa frase do Engels sobre a derrota da rebelião dos gladiadores (que acenava com a possibilidade do fim da escravidão) e a queda do Império Romano, 466 anos depois: "Quando um sistema econômico esgotou sua possibilidade de desenvolver as forças produtivas, mas quem poderia ser o sujeito de sua superação, rumo a um estágio superior de civilização, foi tirado de cena, sobrevém a barbárie".
A citação não é textual porque li tal frase lá por 1967/68, considerei-a extremamente importante a ponto de reter seu significado básico na memória até hoje, contudo não consigo mais localizá-la.
Mas, é como vejo a coisa: a vitória da reação em 1968 nos atirou neste atoleiro em que continuamos nos debatendo meio século depois. A saída seria uma economia direcionada para a satisfação das necessidades humanas e não para a acumulação ensandecida do capital. E tudo dependerá de a humanidade cortar as cabeças da hidra antes de ser destruída por ela.
Só que a vida sob a estagnação agônica do capitalismo se torna cada vez mais besta e bestial (um inferno pamonha, na brilhante definição do Paulo Francis). É difícil suportar esse retrocesso sem um final à vista.
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