A partir do escândalo de corrupção envolvendo três pastores que vendiam licitações de verbas do Ministério da Educação e da decorrente demissão do ministro Milton Ribeiro, podem anotar, vai começar a queda da importância dos evangélicos na política brasileira.
Não se trata de profecia, praga ou mau agouro. Não! É uma conclusão lógica, matemática, tão segura como dois mais dois são quatro.
Vamos demonstrar com o rigor exigido pelos próprios evangélicos, utilizando os mesmos instrumentos com os quais conseguiram, nestes últimos anos, crescer dos minguados 8 ou 9% aos atuais 30-35% com os quais elegeram o presidente da República.
Até o dia 21 de março, todas as pesquisas e previsões sobre o crescimento dos evangélicos no Brasil davam conta de que eles ultrapassariam os 50% e deixariam para trás os católicos nos próximos dez anos. Politicamente, ocupam um terço do Congresso, têm quatro ministros e estão espalhados pela máquina governamental. Sem interrupção nesse crescimento, o número de eleitores evangélicos poderia levar a uma maioria nas câmaras municipais, estaduais, federal, no Senado e no STF.
A decorrência, segundo as tendências atuais, seria a de uma modificação no conteúdo dos programas didáticos das escolas. A adoção, p. ex. da teoria do criacionismo no curso primário levaria a um estrangulamento do desenvolvimento da ciência no país.
O castigo nas crianças como forma de educação, a condenação legal do homossexualismo, considerado uma falha educacional dos pais em relação aos filhos, como pensava o ex-ministro da Educação Milton Ribeiro, levariam o Brasil a um retrocesso fundamentalista, capaz de asfixiar toda nossa cultura, arte, cinema e literatura.
Um interessante estudo, publicado há cinco anos pela Unicamp, fazia algumas comparações entre religiosos e não religiosos no Brasil e chegava a algumas conclusões interessantes.
Embora sendo o menor segmento, menos de 4 milhões de pessoas, os espíritas formam um grupo de pessoas com mais idade, melhor renda e melhor escolarização, enquanto os evangélicos são o grupo mais pobre e menos escolarizado.
Por sua vez, os ateus e sem religião formam um grupo importante de cerca de 14 milhões de pessoas dentro da população.
Ou seja, fatores como a formação escolar, a formação cultural, a situação econômica (de precária à confortável), são variáveis que podem influir na questão da opção religiosa.
De uma maneira geral, pode-se dizer que pobreza e falta de cultura podem reforçar a necessidade de se recorrer a crenças religiosas básicas, simples, cujo forte são reuniões em grandes grupos, expressões ou palavras corriqueiras a se repetir, acompanhadas de gestos que podem levar a tipos de transes coletivos; e lideranças fortes, pastores que gritam contra o pecado e ameaçam os pecadores.
O reforço cultural nas escolas primárias e secundárias, sem vínculos religiosos, o acesso ao ensino superior para todos, a liberdade de criação artística sem limites morais e religiosos, a presença de livros em todos os lares e não de um só livro, como ocorre nos países europeus, recolocará o Brasil no caminho que vinha trilhando.
A partir desse momento, se acentuará a atual perda de credibilidade dos evangélicos, destinados também a verem decrescer gradativamente o número de seus fiéis, na proporção do aumento da média de renda salarial da população.
A atual perda de credibilidade dos pastores evangélicos –uns por corrupção, outros por serem contra a democracia e defenderem golpes, violência e tortura, segundo a trilogia Deus, Pátria e Família nazifascista–, fará com que nas próximas eleições muitos desses pastores não sejam reeleitos.
O fim da dinastia Bolsonaro retirará do aparelho governamental os representantes do reacionarismo religioso e acabará com o retrocesso vivido nestes 39 meses pelo Brasil.
Mas podemos também utilizar os próprios argumentos bíblicos evangélicos para mostrar porque os seus pastores e seus políticos, a maioria se revelando corrupta, golpista e reacionária, perderam a proteção divina.
A mercantilização das igrejas evangélicas lembra, p. ex., a passagem bíblica da expulsão dos vendilhões do templo:
"A minha casa será chamada casa de oração; vós, ao contrário, estais fazendo dela um covil de salteadores"(Mateus 21:12,13)
"Então o Senhor disse a Moisés: 'Depressa! Desce imediatamente, porque o teu povo que trouxe do Egito está a corromper-se; desviou-se e rapidamente abandonou as minhas leis. Fizeram para si um bezerro. Estão a prestar-lhe culto e a sacrificar-lhe dizendo: Aqui tens os teus deuses, ó Israel, que te fizeram sair do Egito!'" (Êxodo 32: 7)
E, ainda, o uso constante e indevido da invocação divina:
"Não tomarás em vão o nome do Senhor, o teu Deus, pois o Senhor não deixará impune quem tomar o seu nome em vão" (Êxodo 20: 7)
De retorno à sua igreja em Santos, o pastor Milton Ribeiro terá provavelmente o sentimento de ter sido traído não só por Bolsonaro (que não colocou o rosto no fogo por ele, muito menos a mão), mas também por seus próprios irmãos pastores como Marcos Feliciano e Silas Malafaia, que sentiam estar virando o vento contra os evangélicos e começaram a temer a ira divina, depois de tantos abusos cometidos.
Marco Feliciano enviou até mesmo um tuíte a Milton, compelindo-o a se transformar no Cristo bolsonarista, sacrificando-se para salvar seus colegas pastores pecadores: Peço, por favor, se licencie até o término das investigações porque nós evangélicos estamos sangrando, escreveu Feliciano.
Silas Malafaia, que age como o sacerdote protetor de Bolsonaro, não teve nenhuma clemência com seu irmão Milton Ribeiro (Vergonha total. Tem de ser demitido para nunca mais voltar!).
Líder da bancada evangélica, o deputado Sóstenes Cavalcante criticou os dois pastores que agiam com Milton Ribeiro, e mais conciliador que Malafaia e Feliciano, pediu investigações sobre o caso.
Os pastores que não se indignaram face a tamanha blasfêmia merecem colher o descrédito que plantaram |
Todos eles sentiam que Deus abandonou os evangélicos, decepcionado com suas condutas, sangrando o governo Bolsonaro em ano eleitoral.
Vem aí uma onda de perda de credibilidade e de descrença nos homens da Bíblia. E Milton Ribeiro, um tanto ingênuo na sua defesa em casa de lobos, já deve ter percebido ter sido um mero peão nas mãos de uns e outros.
Um boneco na mão não queimada do ventríloquo Bolsonaro, que poderá ter um processo civil e, com a perda de imunidades, ser adiante condenado à pena de prisão. (por Rui Martins)
Um comentário:
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Está muito otimista.
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P'ra baixo todo santo ajuda p'ra cima a coisa toda muda...
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Hoje recebi duas solicitações para seguirem o meu perfil do Instagram, que só tem foto de plantas.
Bem, uma delas era de um membro do grupo de Filosofia da Arte/Univérsica dentro da Futurologia.
Decerto porque tenho acompanhado dois grupos de estudos de Heidegger. Além, de ter feito alguns questionamentos a respeito de determinismo e livre arbítrio.
Aceitei.
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Futurologia e Arte eu sei o que é, mas Univérsica?
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Enfim, estou percebendo e me inteirando de que, mesmo no pensar racional, o pessoal procura encontrar algum saída mística (Univérsica!?).
Isso o povo letrado... imagine os analfabetos funcionais?
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