terça-feira, 15 de fevereiro de 2022

OPORTUNISTA? SIM. MAU CARÁTER? SIM. MAS NÃO COLABORADOR DA DITADURA

G
ylmar dos Santos Neves (1930-2013) foi o maior goleiro brasileiro de todos os tempos. Teve participação fundamental nas conquistas da Copa do Mundo de seleções pelo Brasil (1958 e 1962) e de clubes pelo Santos (1962 e 1963).

[Um revisionismo politicamente demagógico converteu os Mundiais do Santos em Copas Intercontinentais, mas não reconheço tais besteirinhas: para mim, continuam valendo os resultados conquistados nos gramados pelas chuteiras imortais!]

Gylmar  tinha amigos na sede principal da repressão paulista (Oban e depois DOI-Codi) e, após pendurar as luvas, montou em parceria com um deputado reaça, seu cunhado Ricardo Izar, um negócio de venda legalizada, para militares e delegados, de veículos apreendidos com os resistentes, sem cobrança de impostos, contando para tanto com autorização especial a ele concedida pelo governo federal.

Gylmar, portanto, era um mau caráter e andava em péssimas companhias. Sabendo disto, eu jamais tomaria uma cervejinha com ele.

Mas, colaborador da ditadura?! É uma irresponsabilidade fazer-lhe acusação tão pesada sem apontar um único resistente que ele tenha dedado, um único aparelho cuja localização ele haja apontado, um único ato ou declaração desse cidadão sempre discreto que  porventura tenha facilitado a vitória dos terroristas de estado sobre nós.

Ele colaborou, isto sim, com o próprio bolso, já que recebeu como recompensa, por seus préstimos de despachante, uma concessionária da GM no bairro do Tatuapé. 

E eu, tendo sido um dos primeiros prisioneiros a acusar publicamente os torturadores de rapinantes, por se apropriarem de tudo de valor que encontravam conosco quando caíamos nas garras deles, permito-me duvidar de que os veículos cuja documentação o Gylmar lavou pertencessem a presos políticos. Seria embaraçoso demais se viesse a público, aqui ou no exterior.

Tudo me faz crer que fossem aqueles destinados ao nosso uso contínuo, adquiridos com a grana que obtínhamos expropriando bancos  (já os utilizados em ações armadas eram apanhados pouco antes e abandonados logo depois).

Então, se alguém tinha algo do que se queixar eram os bancos, pois os carros comprados com o dinheiro deles deveriam é ir a leilão para que tais agiotas consentidos pudessem ser reembolsados. Devemos chorar as dores dessa corja?

E mais: vale a pena atingir a memória de um morto, portanto impossibilitado de se defender, por tão pouco e tanto tempo depois? Ele não fez o suficiente para merecer de nós um mínimo de consideração? (por Celso Lungaretti)  

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