segunda-feira, 21 de fevereiro de 2022

COMBATES À MISOGINIA E AO RACISMO INTEGRAM A LUTA CONTRA O CAPITALISMO–1

dalton rosado
RACISMO ESTRUTURAL E DISSOCIAÇÃO DE GÊNERO NO BRASIL  
"Davam-nos água imunda, podre e dada com mesquinhez; a comida má
e ainda mais porca; vimos morrer ao nosso lado muitos companheiros 
por falta de ar, de alimento e de água. É horrível lembrar que criaturas
humanas tratavam a seus semelhantes assim e que não lhes doía
a consciência por levá-los à sepultura asfixiados e famintos!"
(Maria Firmina dos Reis no livro Úrsula,
sobre como eram tratados os negros
no Brasil do século 19)
Cantou Elza Soares (1930-2022), na música A carne, que a carne mais barata do mercado é a carne negra. 

Tinha razão de dizê-lo a menina negra da favela, mãe aos 12 anos, originária do Planeta Fome, que ainda encanta o Brasil com sua voz redentora e imortal.    

Acrescento que, sob o capital, a carne negra pode ser, em muitos casos, ainda mais barata do que quando da época da cruel escravidão direta feudal, na qual o dono da mercadoria humana muitas vezes (quando o negro não morria de fome e açoite por não servir ao propósito da produção) mantinha o seu animal de carga bem alimentado, tal como um fazendeiro que engorda o boi antes de vendê-lo por quilo.

Um negro musculoso, forte e obediente, com boa saúde, dentes saudáveis, era uma máquina humana de produção num tempo em que não havia energia elétrica e as máquinas, ainda incipientes, eram movidas a vapor, 
Olimpíadas 1986: medalhistas fazendo
a saudação 
do Poder Negro no pódio

Que alforria foi essa, que mandou o negro morar nos morros, ganhar salário cada vez mais mínimo ou ficar sem salário nenhum quando desempregado.

E isto mesmo estando apto ao trabalho abstrato produtor de valor, seu único sustento como cidadão, sem assistência médica e educacional, e sendo considerado bandido até que prove o contrário? 

Um trabalhador negro que foi morar num condomínio de moradores de baixa renda, fugindo da violência das milícias e dos traficantes na favela, acabou assassinado na semana passada pelo vizinho militar por ser confundido com um ladrão ao chegar em casa. 

Outro trabalhador negro, imigrante congolês, trabalhador que fazia biscates como ajudante de quiosque, vai cobrar salário atrasado e é assassinado por uma turba violenta e transbordante de ódio.

Também nos últimos dias, repetindo o que costumeiramente acontece, um homem negro foi comprar pão e acabou atingido pela bala disparada por alguém que o confundiu. Com o quê?

Nas encostas de morros que desabam sobre casas nas chamadas áreas de risco, famílias de negros morrem soterradas. 

Nas chacinas da favela, dentre mais de duas dezenas de mortos, a maioria é de negros ou mulatos; e nos presídios. a proporção de negros encarcerados supera em muito a percentagem de negros na população brasileira. 

Nas universidades públicas, pagas com o dinheiro dos contribuintes, a presença de negros é inferior à percentagem destes na população; idem, idem nas profissões liberais de prestígio, cargos de comando empresarial, no judiciário, no legislativo, e por aí vai...
Moise Kabagambe era 
um alvo e não sabia

Quando um negro ascende socialmente a um cargo de comando social, mas não se volta contra o racismo estrutural nem o denuncia, iguala-se na prática aos seus opressores sistêmicos. E, pior, está como que a dizer, enganosamente: "Olhe aqui, a democracia capitalista nos permite isto!".  

As histórias de discriminação racial e violências contra a bela etnia negra são infindáveis e corriqueiras. 

Não concordo com o regime cubano de capitalismo de Estado pelo simples fato de que não tolero poder político vertical e que age sob a tutela ditatorial das regras da produção capitalista estatal, ainda que por lá exista um discurso de coloração original humanista, cada vez mais desbotada...  

Mas apraz-me ver os negros cubanos alfabetizados, livres da violência urbana do crime organizado e com padrão de IDH superior a qualquer outro das Américas Central e do Sul, bem como do Caribe. 

Apraz-me ver muitos negros como excelentes médicos ou como atletas de ponta de países bem mais populosos,  conquistando medalhas de ouro de países nas Olimpíadas.

E sei o porquê de nenhum deles querer migrar para o Haiti ou para qualquer outro país-latino americano da periferia do capitalismo.

Pelo menos para isto a revolução cubana serviu.  (por Dalton Rosado – continua neste post)

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