O átomo da sociedade capitalista é a propriedade privada dos meios de produção. É ali onde se dá a relação básica, fundamental, de exploração do trabalho e de acúmulo do capital.
A existência da propriedade privada já é um elemento que instaura a adversidade no mundo social, erigindo o interesse privado em móvel máximo da ação dos indivíduos.
Mas a realidade capitalista não é estática. Ao contrário, se existe uma sociedade na qual o movimento assume fundamental importância, é a capitalista, pois o regime da acumulação é feito pelo movimento do capital em busca de crescimento, potencialmente infinito.
Muitas vezes, esta lógica de acumulação impõe a necessidade de expandir os negócios para lugares distantes: primeiro, regiões de um país, depois países vizinhos menores e, finalmente, regiões em outros continentes.
O objetivo sempre é controlar mercados, explorar a força de trabalho e as riquezas agromineirais destes lugares.
O país inaugurador deste processo foi a Inglaterra. Primeiro, ela anexou os países de sua vizinhança imediata – Escócia, País de Gales, Irlanda – e, não sendo o suficiente, partiu para além mar, impondo domínios na África, na Ásia e no Pacífico Sul.
Foi logo seguida pela França, que já tendo um território continental extenso, avançou igualmente sobre os povos africanos e asiáticos.
Ao clube, juntaram-se, ao fim do século 19, Bélgica, Alemanha e Itália, com os mesmos objetivos de dominação de territórios além-mar. Por outro lado, Rússia, Império Austro-Húngaro e Otomano disputaram as regiões do leste da Europa e do Oriente Médio.
No entanto, o que impulsionou o Imperialismo foi a necessidade das burguesias locais de cada país europeu em ampliar a sua acumulação capitalista, em direta concorrência com as burguesias dos outros países. Ou seja, na base estava a lógica da propriedade privada e seu imperativo de, ao mesmo tempo, apropriação privada e ilimitada.
As duas guerras mundiais foram expressões da luta dos países imperialistas, sendo a 2ª Guerra também resultado da reação burguesa às lutas revolucionárias dos trabalhadores europeus.
A novidade do pós-guerra foi a destruição total da Europa e sua subjugação às duas potências vencedoras do conflito: EUA e URSS. Os capitalistas europeus ocidentais aceitaram se subordinar à burguesia estadunidense porque era o único caminho para sobreviver enquanto classe, no momento em que os antigos regimes coloniais sucumbiam na África e na Ásia.
Por outro lado, a URSS, estalinizada, mantinha domínio sob os países e povos do leste europeu, exatamente como era a pretensão do antigo Império Czarista. Para enfraquecer os europeus ocidentais e fazer frente aos EUA, os soviéticos davam suporte às lutas de independência de africanos e asiáticos. Foi daí que surgiu a teoria de que apenas EUA e Europa seriam imperialistas.
A Rússia, enfraquecida, viu o avanço dos EUA e dos europeus sob os países que antigamente estavam sob a órbita da URSS no leste Europeu. É aqui onde entra a Ucrânia.
Este país é o mais importante mercado do leste europeu, com ampla população, portos comerciais importantes, recursos minerais fartos e regiões férteis para a agricultura. EUA e Europa, impulsionados pela lógica de alargar seus mercados, passaram a fazer fortes investidas para trazer a Ucrânia para sua zona de controle. A burguesia russa, contra-atacou, levando às últimas consequências a luta por manter sua vizinha sob seu controle.
Os ucranianos, então, estão no meio de uma disputa sim interimperialista. Obviamente, os EUA e a Europa possuem poderio econômico maior que a Rússia, mas os russos souberam reequilibrar o jogo com poderio militar.
No cerne da querela, contudo, está a lógica excludente e ilimitada de acumulação da propriedade privada. Quando esta acumulação se estanca a um ritmo baixo, ocorre o imperativo de buscar no exterior uma saída. EUA e Europa se expandem rumo às fronteiras russas, enquanto a Rússia tenta resistir ameaçando abertamente com uma guerra nuclear.
Pensar, portanto, a dinâmica mundial a partir do marxismo é pensar a partir do movimento de acumulação da propriedade privada.
Desconsiderar as raízes econômicas da geopolítica é alimentar ou a visão superficial das relações internacionais – onde a geopolítica é apenas o movimento da luta entre Estados-Nações – ou o esquematismo estalinista, onde tudo é colocado pela ótica bipolar da guerra fria de conflitos entre o imperialismo dos EUA e a defesa nacional dos demais estados.
Nenhuma é realista ou concreta. (por David Emanuel Coelho)
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