sábado, 20 de novembro de 2021

O DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA DE 2015 FOI MARCADO POR ESTE ARTIGO ANTOLÓGICO DO APOLLO NATALI CONTRA O RACISMO

E
m 31 de outubro de 2015, a atriz Taís Araújo passou a ser vítima de infame ação concertada no Facebook: uma foto dela que já estava no ar havia quase um mês de repente se tornou alvo de um sem-número de comentários preconceituosos provenientes de diferentes perfis. 

E deu esta altiva resposta:
"Eu não vou apagar nenhum desses comentários. Faço questão que todos sintam o mesmo que eu senti: a vergonha de ainda ter gente covarde e pequena neste país, além do sentimento de pena dessa gente tão pobre de espírito. Não vou me intimidar, tampouco abaixar a cabeça".
Três semanas depois, o episódio foi lembrado num artigo antológico do meu amigo de décadas e colaborador inesquecível deste blog, Apollo Natali, alusivo ao Dia da Consciência NegraÉ com muito orgulho que o republico neste ano da desgraça de 2021. (CL)
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"
Querida Taís de todo o Brasil, esse seu desabafo contra o racismo, que faz entristecer o coração brasileiro, é apenas mais um entre os milhares deles, semelhantes, sofridos, diários, esparramados pelo mundo, desde que mundo é mundo. 

Entre eles estão os marcantes, históricos, grandiosos desabafos contra a discriminação de um Nelson Mandela, um Martin Luther King, de um Joaquim Nabuco. 

Este último, com seu persistente desabafo jurídico abolicionista abalou a mais longa escravidão de negros do mundo, que desconsoladamente aconteceu neste nosso querido Brasil durante sufocantes 358 anos.

Os mais inconformados dizem que a escravidão no Brasil vigorou arrastados 388 anos, desde o seu descobrimento, em 22 de abril de 1500, até a assinatura da Lei Áurea, em 1888. Não. A mais longa escravidão, a mais demorada  trevosa inclinação do ser humano, a de escravizar seu semelhante, foi a dos hebreus, no Egito700 anos.

Sem resposta à pergunta que não cala 
 por que racismo? - resta-nos o conforto de festejar as iniciativas de parte da humanidade não-racista em marcar, com datas comemorativas, a ação, a luta, o esforço, a memória de personalidades brancas e negras, para erguer o estandarte da dignidade das pessoas negras e de outras colorações não-brancas.

A batalha de Nelson Mandela contra o apartheid na África do Sul foi apoiada por organizações de mulheres brancas, ativistas, a combater o odioso racismo institucionalizado contra os negros por parte de uma minoria branca. Não é confortador? Disse Mandelaestamos lutando por uma sociedade em que as pessoas parem de pensar em termos de cor. Não é uma questão de raça, é uma questão de ideias.           

Sobra-nos no Brasil a aflição de constatar discriminação até por parte de negros e índios: Helda de Sá, uma mestiça cabocla amazonense, só depois de dobrar sistemática oposição de militantes do movimento negro e indígena, conseguiu cadastrar-se como a única delegada mestiça a participar da 1ª Conferência Nacional de Promoção da Igualdade Racial, em 2005, em Brasília. Discriminação por quê?
Um ano depois, ao comemorar-se o
Dia Internacional pela Eliminação da Discriminação Racial, o governador Eduardo Braga, movido pela Nação Mestiça-Movimento Pardo-Mestiço, sancionou lei tornando o Dia do Mestiço, 21 de março, uma data oficial do Estado do Amazonas, em homenagem a todos aqueles que possuem mais de uma origem racial no Brasil, mulatos, caboclos, cafuzos, ainocos, entre outros, e seu papel na formação da identidade nacional.
  
Na sequência, em 24 de junho, comemora-se o Dia do Caboclo, que foi o primeiro mestiço brasileiro. E em 2010 o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística ,descobriu, afinal,  que os brancos deixaram de ser maioria no País, se comparados ao total das outras classificações de cor e raça.

Agora, neste 20 de novembro, o Brasil comemora o Dia Nacional da Consciência Negra, data da morte do escravo Zumbi dos Palmares, em 1695, para  lembrar a resistência do negro contra a escravidão, desde o primeiro tráfico de africanos para o Brasil,  iniciado menos de meio século depois de sua descoberta.  
Pouco mais de mil cidades brasileiras, entre os 5.570 municípios do país, celebram o Dia da Consciência Negra. Dependem da aprovação dos prefeitos. Há brancos que se empertigam contristados diante de altares e olvidam as lições de humanidade de suas religiões.

Entidades como o Movimento Negro, o maior do gênero no País, organizam palestres e eventos educativos, visando principalmente crianças negras. A instituição procura evitar o desenvolvimento do auto-preconceito, ou seja, da inferiorização perante a sociedade.

Mesmo nos Estados Unidos, onde a realidade é o secular massacre de negros nas cidades sulistas e o atual, televisionado, desrespeito aos seus direitos, existe o Dia de Martin Luther King, feriado nacional, oficializado em 1983, comemorado na terceira 2ª feira de janeiro, data próxima ao aniversário do líder morto em 1968.

O quadro nos Estados Unidos ainda hoje é de protestos de negros por todo o país e repressão dos brancos contra eles, como nos velhos tempos de Luther King.  

Mas, não devemos perder a fé em nossos irmãos brancos, disse o próprio Luther King, no auge de sua luta. 

De algum modo, acrescentou, esperançoso, precisamos acreditar que os mais desnorteados dentre os brancos possam aprender a respeitar a dignidade e o valor de cada ser humano.

Obama se preocupava com o que acontecia na escola com suas filhas negras, com sua esposa, e sentia particularmente a humilhação comum sofrida pelo negro em seu pais. O senador, à saída de restaurantes, era tratado como um manobrista.

Desabafo do primeiro presidente negro dos Estados Unidos, Barack Obama, do tempo em que era senador: 
— o índice de mortalidade infantil entre os americanos negros e pobres é semelhante ao da Malásia;
 entre os negros é comum o desemprego e processos criminais que um em cada três deles vai sofrer;
 brancos ganham em média 70% mais do que os negros;
—há discriminação sistemática e prolongada por parte de grandes corporações, sindicatos ou áreas do governo municipal;
— há bairros em que não se vendem imóveis a negros, etc.

A miscigenação está tornando os Estados Unidos mais negro e moreno. Contudo, em geral, os membros de todas as minorias continuam a ser medidos pelo grau de assimilação da cultura branca, o quão próximo seus padrões de discurso, suas roupas ou seu comportamento estão da cultura branca dominante; e quanto mais uma minoria se desvia desses padrões exteriores, mais sujeita fica aos preconceitos.

Meu próprio desabafo contra as sombrias manifestações de racismo que se perpetuam no planeta azul, e sem pretensões de qualquer exibicionismo humanitário, é oferecer à nossa magoada Thais Araújo, e a todos os demais magoados negros, e todos os brancos, e todos de todas as colorações, duas matérias minhas sobre opressão aos negros que estão flutuando no Google.

Uma, de título um pouco forte porque inevitável, Tio Sam, Tio Sam, que matas os teus negros, é uma paráfrase dos ditos de Jesus Cristo: Jerusalém, Jerusalém, que matas os teus profetas
por Apollo Natali

São desabafos e lamentações de Martin Luther King sobre a opressão dos brancos contra os negros de seu país.

Outra, de título 
Escravidão!, é a resenha-de-uma-resenha do total de 50 que compõem um livro de História que pretende explicar o Brasil (escrevo História com maiúscula e ponto e basta). 

A obra, coordenada pelo jornalista Lourenço Dantas Motta, chama-se Introdução ao Brasil – um banquete no Trópico, dois volumes, Editora Senac São Paulo."
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