sexta-feira, 12 de novembro de 2021

GILBERTO GIL VAI VESTIR O FARDÃO E TOMAR O CHÁ DAS 5 NA ABL. O QUE FAZEMOS COM ELE? DEVEMOS COLOCÁ-LO NA RODA?

"Muito feliz em ser eleito para a cadeira 20 da Academia Brasileira de Letras. Obrigado a todos pela torcida e obrigado aos agora colegas de Academia pela escolha", 
disse Gilberto Gil, eufórico por haver se tornado um merdalhão
do sistema com registro em cartório...
Viver envilece, disse Maurice Druon. E como!

Devemos colocar o Gil na roda? Não, a tortura é uma das piores abjeções em que pode incorrer qualquer ser humano, uma covardia sem limites. 

Eu me contento em atirar-lhe a roda nas fuças. 

No caso, a música que ele compôs quando queria revolucionar uma sociedade podre e não dela receber as honrarias reservadas aos antigos rebeldes que venderam a alma ao sistema e foram por ele perdoados.

Em 1965, ele desafiava: "Se lá embaixo há igualdade/ Aqui em cima há de haver/ Quem quer ser mais do que é/ Um dia há de sofrer/// Quero ver quem vai voltar/ Quero ver quem vai fugir/ Quero ver quem vai ficar/ Quero ver quem vai trair".

[Antes que os patrulheiros cricris tentem me desqualificar com os habituais clichês sobre racismo, esclareço: vejo não só o Gil, mas outros compositores de música popular (inclusive o causasiano Bob Dylan), como meros tolos pretensiosos quando aceitam servirem de chamarizes gratuitos nessas jogadas promocionais visando gerar repercussão para prêmios literários que hoje ninguém sério leva ainda a sério.

De resto, ver o Gil de 2021 trair tão impiedosamente o Gilberto de 1965 não me surpreende. Houve precedente.
Cumprindo o acordo firmado com a ditadura militar para obter a garantia de que não seria preso ao retornar para o Brasil, em 1972 ele deu entrevista a repórter da
TV Globo logo no desembarque do avião, tendo afirmado taxativamente: "Não tenho mais compromissos com a História".

No início da década seguinte, contudo, já estava reatando tal compromisso, só que com roupagem nova, mais chegada à negritude e a uma festiva superestimação do potencial transformador de ritmos como o reggae.

Aí, na coletiva de imprensa de lançamento do disco Um Banda Um, depois de ouvi-lo proferir umas tantas afirmações triunfalistas nessa linha, disparei a pergunta: "Ué, então você já reatou os compromissos com a História?".

Aquelas menininhas que trabalhavam de graça em jornais de bairro (só para poderem posar de repórteres e ver de perto seus ídolos) queriam me agredir. Onde já se viu colocar nosso mito nessa saia justa?

Poucas semanas depois fiz uma entrevista individual com o Gil para escrever o texto da edição da revista MPB a ele dedicada. Rimos ambos na chegada e nada dissemos sobre aquele episódio...

Mas, vestir o fardão da ABL, que tanto ele ridicularizava outrora, passa um pouco da conta. É o atestado de óbito de um artista enquanto artista. 

Depois de se prestar a tal palhaçada, alguém ainda acreditará em posicionamentos que  venha a assumir contra o sistema? O corvo disse: nunca mais! (por Celso Lungaretti)

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