david emanuel coelho
A DECOMPOSIÇÃO POLÍTICA DO BOZO É UM
REFLEXO DA DECOMPOSIÇÃO ECONÔMICA E SOCIAL
Bolsonaro não é um acidente na história brasileira, mas sim um elemento histórico criado pelas condições políticas impostas pela classe dominante.
A radicalização neoliberal em operação há pelo menos 6 anos tem levado a um estado de completa anomia da sociedade. O empobrecimento é patente, a violência cresce de forma implacável e, para fechar o quadro, uma pandemia veio mostrar o desprezo pela vida do homem comum por parte dos mandatários.
Ao mesmo tempo, reformas draconianas desregulamentam as relações trabalhistas, deixam milhões sem aposentadoria, desestruturam o serviço público, ampliam a destruição do meio ambiente, a dependência externa e o endividamento popular.
Em síntese, a burguesia brasileira opera um processo claro de selvageria social, enfraquecendo o tecido social e as instituições coletivas ao mesmo tempo em que fortalece o clima de cada um por si.
Em tal contexto, Bolsonaro é campeão. Trata-se do representante mais bem acabado da lógica deste neoliberalismo radicalizado, pois defende o ideal quase darwinista de prevalência do mais forte e de luta generalizada.
Na pandemia, foi possível visualizar esta sua ideia em ato, quando simplesmente defendeu a tese da imunidade de rebanho, posição francamente genocida à medida que milhões morrem e sobrevivem apenas os biologicamente mais aptos.
O ethos de Bolsonaro é o caos. Ele vive da desconstrução, da decomposição. Para além da boa vida de riquezas, pescarias e comida, o que lhe traz gozo é estar em confronto com alguém ou com algum posicionamento.
Não que ele tenha qualquer projeto bem elaborado. Seu maior projeto é ele mesmo, a fruição das benesses do dinheiro. A rigor, ele é o vazio, a destruição niilista em sua configuração plena.
E, por isso, ele se constitui no melhor representante e melhor ator do projeto da burguesia brasileira nos dias atuais. Tal projeto socio-econômico de disfuncionalidade geral só poderia ser bem conduzido por um indivíduo igualmente disfuncional.
Mas o que é difuncional na economia e nas relações sociais também se torna disfuncional nas relações institucionais. Daí a guerra aberta por Bolsonaro contra o STF e outras forças que tentam impor um regramento ao seu poder. O presidente espalha o caos justamente para conduzir seu processo destrutivo, prolongamento do projeto neoliberal radical.
Parte da burguesia brasileira, especialmente a agrícola, o apoia. Deseja a radicalização do caos para poder agir livremente, sem regras ambientais, sem operações contra o trabalho escravo, sem preocupações com agrotóxicos e podendo tomar terras de índios indiscriminadamente.
Para esta burguesia, o STF é um empecilho e a justiça só deveria existir para colocar pobres e ativistas na cadeia.
Mas outra parte se assusta. Ligada sobretudo ao setor financeiro, ainda acredita na aparência da legalidade. Narcísica, fica atenta ao que se fala sobre o Brasil no exterior, não quer tomar o título de selvagem. Não aceita igualar-se aos ruralistas derrubadores de árvores.
As duas frações da burguesia coincidem no aprofundamento da anomalia neoliberal, mas uma ainda não aceita todas as consequências desta anomalia. Luta contra a realidade e tenta frear o monstro que ajudou a pôr no governo.
Esta facção não percebe que a decomposição social e econômica só pode levar à igual decomposição política e institucional. O destino do que ainda se chama Brasil paira num julgamento hermenêutico. (por David Emanuel Coelho)
4 comentários:
Bolsonarismo no 7 de setembro - Le Monde Diplomatique
https://www.youtube.com/watch?v=8uiz7FtOmOU
Que texto maravilhoso expressa com veracidade toda a situação politica e econômica que estamos vivenciando.
O bozo nasceu em meio a um cenário de corrupção que ninguém aguenta mais, ou vc aceita o bozo ou aceita a corrupção!
Ele não nasceu EM MEIO a um cenário de corrupção, mas sim como uma EXACERBAÇÃO do que há de pior nesse cenário: a roubalheira do Paulo Maluf amalgamada com o autoritarismo militar que fez brotarem estatais como cogumelos, para serem saqueadas pelos detentores do poder.
É por ter a corrupção entranhada no seu DNA que ele não poderia jamais combatê-la; e por ser um adepto do nacionalismo estatizante que ele não entregou ao poder econômico o que se comprometera a entregar, em troca do que foi por ele colocado na presidência da República, mediante a eleição mais manipulada de todos os tempos no Brasil.
Ou seja, o Bozo é o que há de pior nos dois mundos, o da democracia corrupta e o das ditaduras estatizantes.
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