dalton rosado
A HORA DA CONVERGÊNCIA
Há momentos na história em que as divergências de condução da superação da crise econômica e política ficam de lado, para que nos fixemos num ponto consensual.
O #ForaBolsonaro ganhou uma expressão de unidade majoritária que está deixando atônitos os recalcitrantes defensores do retrocesso civilizatório, hoje flagrantemente minoritários.
Quando vemos um deputado como Kim Kataguiri, para o qual os pressupostos liberais de defesa da ordem capitalista e da democracia burguesa com viés de direita constitucionalista são cláusulas pétreas, se juntar a movimentos sociais de pauta específica (como movimentos de mulheres, antirracistas, sindicalistas, lGBTQI+, religiosos, partidos de direita e de centro, torcidas de futebol, grupos culturais, etnias indígenas, MST, MTST, e até com a turma da cracolândia) sem os questionar, engrossando uma rejeição uníssona, a constatação é óbvia: Boçalnaro, o ignaro, já não mais governa!
As manifestações de grandes contingentes humanos confirmaram o que as pesquisas de opiniões públicas (todas) já haviam detectado: caiu a ficha dos brasileiros em relação ao Boçalnaro.
Quem o sustenta é uma base parlamentar que usa a sua fragilidade governamental para exercer o costumeiro fisiologismo. Mas, como todos os oportunistas, cessada a oportunidade e a conveniência, eles mudam de lado com a mesma facilidade de quem troca de roupa.
Mas o caminho do impeachment é mais político do que jurídico.
No campo político ele ainda resiste graças ao fisiologismo do centrão, um cancro na vida brasileira, e é aí onde reside o problema de tempo de tramitação e aceitação parlamentar de vontade política de quem se beneficia politicamente de um governo frágil; mas isto também tem limite.
Razões jurídicas existem aos montes, e as mais proeminentes são as diretrizes governamentais de:
— desmatar – Os crimes ecológicos são graves e se constituem como lesa-humanidade, de vez que contribuem para a agravamento do aquecimento global já evidente, causado pela emissão de gases na atmosfera pelos grandes capitalistas;
— matar – O negacionismo, que fez do Brasil o país com mais mortes por coronavírus em relação à sua população e que nos levará também para o 1º lugar em números absolutos (aproximamo-nos dia após dia dos mais de 600 mil mortos dos EUA, já que o número de óbitos diários aqui é cada vez maior que o de lá);
— furtar – Agora os fortes indícios de venda ilegal de madeira da Amazônia e tentativa de superfaturamento e contratação de compra de uma vacina antes mesmo de ser aprovada pela Anvisa, enquanto tantas outras mais baratas e eficazes eram rejeitadas, fizeram cair o ultimo bastião de falsa moralidade anticorrupção do governo (comparada com as mutretas atuais, a grana obtida com as rachadinhas daquele passado de mandatos parlamentares medíocres era uma merreca para dar de gorjeta aos serviçais).
Mas, o procedimento parlamentar do impeachment é muito mais político do que jurídico e, portanto, somente a mobilização popular e o vigor das denúncias de corrupção e de negacionismos aos tratamentos científicos podem, conjuntamente, acelerar a queda de um governo que já não governa, mas tenta nos impingir intermináveis18 meses de agonia.
O aprendiz de ditador que aí está desde cedo propôs um autogolpe. Gostaria de constranger o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal com apoio militar e popular que lhe desse aparência de um governo civil com poder de mando totalitário. Esta era a pretensão.
O Brasil, contudo, não é uma republica das bananas, fácil de se dobrar, como supunham os energúmenos oportunistas de direita, pois amadurecemos nos 57 anos transcorridos desde o golpe de 1964.
Em que pese a repugnante desigualdade social, somos um país continental de 210 milhões de habitantes e economia significativa, senão em termos de números absolutos, pelo menos quanto ao fornecimento de matéria-prima em alimentos, minérios e alguns manufaturados.
Não poderia, assim, se prostrar a aventureiros sem raízes políticas doutrinárias mais consistentes e que acreditavam poder governar com um ministério de energúmenos; canastrões; fanáticos de direita com seus discursos de ódio e de desconstrução de todos os ganhos civilizatórios; e, ainda por cima, orientados por teorias exotéricas de almanaques astrológicos.
É incrível como, nestes dois anos e meio de desgoverno, fizeram as vezes de ministros tantas e tão grotescas excrescências, a exemplo dos já expelidos Abraham Weintraub, Ernesto Araújo, Ricardo Salles e Eduardo Pazuello.
Se os mais preparados fracassam pela inconsistência mesma de tentarem governar a escassez de recursos financeiros suficientes para prover as demandas sociais, resultado de uma anemia mundial e regional econômica crescente, não seria um militar indisciplinado e parlamentar medíocre, orientado por alucinações doutrinárias exotéricas que sequer entende, quem iria conduzir o Brasil a um porto seguro.
Boçalnaro bem que tentou viabilizar o autogolpe, mas não recebeu apoio militar e popular que lhe dessem suporte. Agora tenta salvar pelo menos seu atual mandato, e já se desespera diante da constatação de que o seu discurso ultraconservador e de bravatas superficiais já não ilude nem mesmo os menos esclarecidos.
Não há clima para rupturas institucionais de direita, no estilo militarista, diante das manifestações de repulsa ao desgoverno, até porque 2021 não é 1964. E quem carrega a faixa presidencial está longe de ser um reformista como João Goulart, não passando de um representante do que há de mais retrógrado no capitalismo, ademais oriundo das hostes militares (mesmo que tenha sido por elas defenestrado exemplarmente). O seu vice-presidente é general de alta patente, não esqueçamos.
O caminho mais curto e eficaz para a retirada do Boçalnaro é a denúncia pelo Ministério Público Federal junto ao Supremo Tribunal Federal pelo cometimento de crime de responsabilidade; e, para tanto, se faz necessário que haja um clamor popular e de organizações da sociedade civil neste sentido, forçando o MP a romper as amarras da inércia do procurador-chefe, caninamente fiel a quem o colocou no cargo.
Não que um general como Hamilton Mourão represente esperanças de um governo eficaz, até porque tal não é possível dentro da estrutura de mediação social e governamental capitalista; mas será um exemplo de que o Brasil não aceita que lhe impinjam retrocessos políticos.
Todo apoio aos atos #fora Bolsonaro! (por Dalton Rosado)
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