Nestes tempos de retrocesso civilizatório, com turbas de psicopatas descarregando suas frustrações contra quaisquer alvos que seus manipuladores apontem, é uma lufada de ar puro o filme Inferno no Pacífico (1968), que tem como tema, exatamente, a necessidade de os homens unirem-se para a sobrevivência, passando por cima de antagonismos artificiais e preconceitos insuflados.
É um filme de dois atores só, mas que atores! Lee Marvin, carismático ao extremo, interpreta um piloto estadunidense; Toshirô Mifune, principal responsável pelo sucesso dos filmes de samurai além-fronteiras do Japão, um capitão de navio. Os acasos da 2ª Guerra Mundial fazem com que esses dois se encontrem como sobreviventes dos seus respectivos efetivos, sozinhos, numa ilha deserta.
Inicialmente se hostilizam, mas aos poucos vai-lhes caindo a ficha de que têm de aprender a conviver, caso contrário tudo se tornará mais difícil para os dois (ou para o que não for assassinado pelo outro).
Então, a duras penas, superam os condicionamentos militares e passam a se ver como dois indivíduos, não como frações da máquina de guerra de seus respectivos países.
A direção, superlativa, é do britânico John Boorman, um dos grandes nomes do apogeu cinematográfico nos anos 60 e 70, quando enfileirou filmaços como À queima-roupa, Amargo Pesadelo, Zardoz e Excalibur, a espada do poder, além do subestimado Exorcista II: o herege, que coloco entre as melhores sequências de filmes de grande sucesso comercial já realizadas.
Foi crucificado pelos críticos que atuavam como meros estimuladores do consumo. Motivo: injetar vida inteligente numa franquia hollywoodesca destinada a oferecer situações previsíveis e emoções baratas.
E, conforme o cinema ia perdendo densidade e qualidade, Boorman seria cada vez mais obrigado a subjugar-se à tirania do mercado, desperdiçando o muito que havia de cineasta criativo dentro dele. (por Celso Lungaretti)
Nenhum comentário:
Postar um comentário