sábado, 2 de janeiro de 2021

DESUMANIDADE DO HOMEM CONTRA O HOMEM DÁ A TÔNICA DESTE QUE É UM DOS MAIS SOMBRIOS FAROESTES ITALIANOS

Uma das joias do western italiano que não obtiveram o merecido reconhecimento é este Caçada ao Pistoleiro  (d. Franco Giraldi, 1967), um dos filmes mais amargos de todo o filão, que embute uma discussão sobre as tentativas de mudar uma sociedade de cima para baixo, a partir do empoderamento de um político bem intencionado.

A ação transcorre na região de Tuscosa, estado do Novo México (EUA), onde caça-prêmios são estimulados pelas autoridades a dizimarem impiedosamente os procurados vivos ou mortos, sem sequer cogitarem a segunda hipótese, de entregá-los com vida.

O pistoleiro mais hábil e cuja cabeça  vale a maior quantia, Clay McCord (Alex Cord), está cansado daquele morticínio sem fim e é atormentado por ataques de dor que o fazem temer uma repetição da sina do pai epiléptico, a arrastar--se pelo chão dos saloons durante suas convulsões.

Um governador idealista, Lem Carter (o grande Robert Ryan!), oferece anistia a todos os perseguidos que depuserem as armas, dispostos a iniciar uma nova vida. E, decepcionado por nenhum deles estar aceitando seu oferecimento, vai pessoalmente a Tuscosa verificar o que dera errado.

McCord resolve negociar a aceitação da oferta, reivindicando, contudo, uma compensação melhor do que os 50 dólares estipulados. 

E passa a ter contra si, além dos caça-prêmios empenhados em evitar que a recompensa mais almejada vire pó, o chefe de uma cidade-refúgio de ex-bandidos, que praticamente os escraviza e teme perder seu negócio caso o exemplo frutifique.

A desumanidade do homem contra o homem dá a tônica do filme, sombrio a ponto de parecer um pesadelo. E, para bom entendedor, fica clara a intenção de colocar em xeque as ilusões da era kennedyana, quando muitos ingênuos acreditaram que o ocupante da Casa Branca, com um simples estalar de dedos, faria lobos virarem cordeiros... 

Para terminar, sou obrigado a um spoiler para os leitores ficarem sabendo qual é o final verdadeiro do filme, que censores e mercadores das artes desfiguraram na TV brasileira, ao suprimirem os dois ou três minutos derradeiros. Depois, em VHS, pudemos ver a obra sem happy end fajuto, contudo tal versão não é mais facilmente achada).  

Após um verdadeiro calvário, McCord acaba enfim sendo anistiado e vai embora desatento (o restante é cortado nesta versão melhor do que nada do Youtube), mas dois caça-prêmios que ignoram sua nova condição o emboscam e matam. Ao encontrar o documento da anistia no seu bolso, um deles comenta: "Acho que agora vou mas é caçar búfalos". (por Celso Lungaretti)  

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