segunda-feira, 2 de novembro de 2020

NA VOTAÇÃO DECISIVA DO REALITY SHOW DA CASA BRANCA, TRUMP FOI... D-E-M-I-T-I-D-O!

dalton rosado
O SIGNIFIFICADO DA DERROTA DE DONALD TRUMP
"
É tolo minimizar a diferença entre ambos. O presidente é
a grande mola em favor do fascismo global. Seu oponente
deu passos reais à esquerda. A vitória não só afastaria
um pesadelo, como colocaria a luta social em condições
muito melhores, no mundo todo" (Noam Chomsky)
Derrotado de forma acachapante por Joe Biden, é pouco provável que Donald Trump vá fazer as pirraças que andou prometendo, como um menino mimado que não se conforma quando outro garoto o vence num desafio e toma seu doce. O jus sperniandi só faria aumentar o ridículo.  

Joe Biden é também empresário de sucesso, mas havia diferenças a serem consideradas. Mesmo sabendo que, permanecendo a relação social mediada pelas mercadorias, tudo continuará como dantes do quartel de Abrantes, nós tínhamos forte motivos para almejar a sua vitória. 

A questão é simples: 
— enquanto um se empenhava em criar muros separatistas, como se ainda estivéssemos sob o capitalismo selvagem, o outro defendia que a exploração do homem pelo homem fosse desenvolvida com um mínimo de civilidade;  
— enquanto um quer criar nichos de canais de participação do mundo empresarial em áreas flagrantemente sociais como a assistência à saúde (com a extinção do Obamacare), o outro admite que o Estado pode e deve ter uma visão social-democrata, atenuando a desumanidade do capitalismo mediante mediante medidas que, embora paliativas, podem fazer a diferença entre a vida e a morte dos pobres;
— enquanto um não hesita em sequestrar crianças dos seus pais deportados como forma de criar um terror entre desesperadas famílias de imigrantes e assim manter os Estados Unidos longe  do que equivocada e desumanamente  considera como invasores criminosos (e dos mais variados e aviltantes tipos de crimes, como Trump escancara em sua retórica), o outro apelaria para mecanismos menos traumáticos, ainda que desejasse os estadunidenses protegidos pelos mais diversos mecanismos,  inclusive a emissão desenfreada de dólar exportado e por todos incautamente aceito, ainda que sem lastro e sem valor;
— enquanto um não passa de um jogador que usa as regras do jogo no limite do legal e se aproveita de tudo que permite a dubiedade das entrelinhas da lei (como no caso do não-pagamento de imposto de renda sobre seus lucros pessoais), o outro é menos agressivo quando a questão é sustentar com seus tributos o Estado assistencialista, ainda que opressor; 
— enquanto um é e tudo faz para parecer ser um poderoso macho alfa, sedutor de mulheres que se deslumbram com sua fantástica fortuna, o outro é um homem que soube amar fervorosamente uma primeira mulher, ficou traumatizado com a sua morte em acidente e soube reconstruir a sua vida marital dentro de laços de relação afetiva menos exibicionistas (Joe Biden, pelo menos, não nos parece ser um daqueles moralistas rançosos que não admitem relações maritais homoafetivas ou com diferença acentuada de idades...);
— enquanto um endeusa déspotas mundiais que foram recentemente bafejados pelo desgaste que todos os governantes (de esquerda e de direita) experimentam nesta fase de debacle irreversível do capitalismo (e que agora, tal como o presidente Destrumpelhado, já estão sendo expelidos do poder estatal burguês pelo simples fato de não representarem solução, mas apenas uma catastrófica piora com relação a um passado que já fora ruim), o outro representa a ala de políticos dispostos ao diálogo e capazes de ceder os anéis para que o sistema conserve os dedos; 
— enquanto um não hesita em recorrer à calúnia, à difamação e ao uso indevido da máquina estatal contra seus adversários políticos, bem como andou cogitando seriamente tentar se manter no poder pela via do 
tapetão jurídico caso se consumasse sua derrota nas urnas, o outro, perdendo no voto, teria a elegância de reconhecê-lo rapidamente;
— enquanto um dá força aos supremacistas brancos (tribo da qual faz parte) e tem destes a integralidade dos votos, o outro recebe o voto das minorias raciais negras dos EUA, numa prova inconteste de que o perseguido sabe identificar claramente quem é seu perseguidor, ainda que algumas ovelhas desgarradas do rebanho, representando a exceção que confirma a regra, queiram ser como os velhos feitores de escravos, etc.

A derrota de Trump não representará a redenção da iminente dificuldade dos Estados Unidos em se manter à custa de mecanismos financeiros (moeda e sistema bancário internacional), do qual detém hegemonia, uma vez que as suas perspectivas de manutenção no topo capitalista são cada vez mais remotas graças à lógica de migração do capital em busca de regiões de mão-de-obra barata que realizem lucros cada vez mais exíguos e indispensáveis à reprodução vital do capital.

Também não implicará uma relação mercantil civilizada com a China na via de mão única das mercadorias chinesas, ainda que os dois estejam tão entrelaçados em interesses de relações mercantis dependentes que isto acaba por empurrá-los para o caminho do respeito mútuo, justamente porque no capitalismo não há equilíbrio linear de prosperidade (na guerra concorrencial de mercado não há empate).

E não acarretará retaliações explícitas ao Brasil (a qual, de certa forma, o próprio Trump já vinha promovendo, dentro da sua política de
America First), pois, no contexto mercantil mundial o que prevalece ao final são interesses recíprocos a serem preservados, ainda que haja facadas pelas costas quando isto se torna conveniente. O que deverá mudar é o servilismo brasileiro aos Estados Unidos por questões de amor ideológico, ainda que não correspondido.

A vitória de Joe Biden, portanto, representará uma reversão tendencial e conceitual de perspectivas quanto ao que poderemos fazer daqui pra frente, daí a derrota de Trump ter um significado educativo, o que, por si só, já é algo expressivo. 

Tudo deverá permanecer dentro da acentuada autofagia capitalista em curso, independentemente da linha ideológica governamental a ser adotada pelos Estados Unidos, mas o caminho deverá ser trilhado doravante sob bases mais humanistas, de vez que até agora estávamos seguindo por trilhas sombriamente tortuosas. 

Agora poderemos ao menos sonhar com transformações radicais nas relações sociais mundiais ditadas pelo processo dialético histórico das ditas cujas, expressas na falência de um modelo que se exaure a olhos vistos. 

Quem viver, verá. (por Dalton Rosado) 

2 comentários:

SF disse...

Calma Dalton,

O jogo só acaba wuando termina, já dizia Vicente Matheus.

Ou, não se de contar com o ovo no forevis da galinha.

Lembra da Hilary?

Assisti o novo filme Borat e vi que aquele povo é completamente sem noção.
Tudo pode acontecer.

Depois de amanhà saberemos.

celsolungaretti disse...

Já sabemos, companheiro.

A orientação para assumirmos a inevitabilidade da vitória do Biden foi do blog.

Há momentos em que temos de confiar em nossas intuições e convicções. Este é um deles.

Nesta 2ª feira o blog avaliou que, embora as pesquisas eleitorais desse a Trump uma chance em dez, a real era... nenhuma! Ele estava derrotado.

Então, os artigos de ontem saíram com esta definição clara e foi atendendo a meu apelo que o bom Dalton não adotou uma posição mais cautelosa.

Pois este blog quer dar exemplo em vários sentidos, inclusive neste: fazemos análises profundas e confiamos nelas, então por que haveríamos de ficar em cima do muro?

Há muito vimos dizendo que ninguém se reelege carregando tantos caixões de defunto nas costas. Ontem, vieram somar-se a esta avaliação óbvia uma série de indícios, inclusive o de que a votação recorde se deva à necessidade que os estadunidenses civilizados desta vez sentiram de dar um basta à barbárie.

A posição do blog está assumida. Depois da vitória do Biden, a explicaremos melhor num editorial. (CL)

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