A LIÇÃO DAS RUAS
Tão fortes como os protestos contra a violência racista dos policiais estadunidenses que seguem a orientação supremacista do governo recém-demitido do presidente Destrumpelhado estão sendo as manifestações de rua em várias cidades sobre a importância da contagem de todos os votos por lá.
É na hora da derrota, e não da vitória, que se conhece a grandeza dos homens. Neste quesito Donald Trump mostra o que verdadeiramente é: um prepotente bilionário, nascido em berço de ouro e que não admite ter seus caprichos contrariados.
Não é uma constatação nova. Todos já sabíamos ser ele um homem convicto de que o poder do capital pode prevalecer sobre todas as coisas. Mas, bem dizia o poeta Drummond: "São tão fortes as coisas... Mas eu não sou as coisas, e me revolto!".
As manifestações de rua são as expressões mais legítimas de uma população que começa a conhecer o seu imenso poder de contraponto à tirania; que é capaz de manifestar em praça pública a sua revolta, capaz de calar a intransigência da ignorância dos que equivocadamente consideram que seus algozes e suas formas de relações sociais sejam o esteio das vidas precarizadas que suportam.
Como a tirania tem medo das ruas! Como se apressa em qualificar os manifestantes de vândalos predadores e promotores do caos, sem perceber que eles, os tiranos, são os principais mantenedores da tirania implícita à sociedade dividida em classes sociais.
[Classes estas cada vez mais dissociadas e antagônicas, por causa da concentração de renda nas mãos de uns poucos e da penúria nas existências de tantos!]
Como é ridículo alguém querer parar uma contagem de votos e se declarar vencedor das eleições antes mesmo do término da apuração dos ditos cujos!
Como é ridículo vermos alguém que exatamente foi eleito há 4 anos por tal processo eleitoral negar a lisura e eficácia desse mesmo processo!
Como é ridículo vermos o inconformismo de alguém que se elegeu com promessas agora desnudadas de redenção social capitalista!
Como é ridículo e perigoso tentar convulsionar um país tentando impor a ideia de que só ele representa a cura do mal (quando, na verdade, é ele quem está a promover o incremento do próprio mal, a exploração capitalista)!
O menino mimado que se considera merecedor de todos os privilégios e obediência irrestrita não aceita que lhe tirem o doce e ameaça levar a bola embora quando perde a partida!
É na derrota, repetimos, que se conhece a grandeza do perdedor, e esse não é o caso do presidente Destrumpelhado.
Joe Biden não representa, obviamente, a emancipação popular, pois esta só virá a partir de um novo modo de relação social, que se expresse numa diferente forma de produção e regramento da organização social (horizontalizada, nos dois aspectos!).
Mas a sua vitória tem um significado educativo, daí a importância que atribuímos ao despertar da força da manifestação da soberania popular nas ruas dos Estados Unidos.
O processo de educação das multidões quanto ao conhecimento de sua própria força é o aspecto mais importante na vitória de um candidato como Joe Biden, que, mesmo sendo conscientemente preso à institucionalidade estatal vertical do Estado burguês e defensor do sistema de dominação capitalista, tem postura mais civilizada e abertura ao diálogo.
Mas não devemos nos enganar com os limites de tal comportamento, ainda que estejamos satisfeitos por termos destituído do poder político o mais expressivo representante e apologista do capital e de toda a sua prepotência intrínseca.
O capital em crise ainda vai nos criar, nos anos vindouros, dificuldades antes inimagináveis, daí a importância de combatermos decididamente os negacionistas irracionais como Donald Trump e seu submisso similar tupiniquim de igual estatura moral e menor poder político.
É importante que os Estados Unidos, como maior emissor mundial de gás carbônico na atmosfera, tenham na presidência alguém capaz de reconduzi-los ao consenso da Conferência do Clima Paris 2015 e que seja capaz de buscar soluções (mesmo sendo elas infrutiferamente contraditórias pelos fundamentos capitalistas) para a produção mercantil fora de padrões ecologicamente suicidas.
É importante que tenhamos na presidência dos EUA alguém sensível ao drama de imigrantes, pelo menos no quesito do tratamento humano às crianças. Elas, coitadas, nem sequer sabem o motivo de estarem sendo tão rudemente maltratadas!
Biden continuará a defender os interesses de uma nação que detém a hegemonia capitalista no mundo, mas com dificuldades para fazê-lo, de vez que o capital em crise já dá sinais claros de que tal hegemonia não se manterá indefinidamente, graças ao abalo que seus alicerces estão a sofrer com a erosão causada pela dinâmica do processo dialético histórico, o qual terminará por demonstrar a insubsistência dos fundamentos de uma relação social escravista por excelência.
Hoje subimos um degrau, mas, apesar de a escada ser longa e íngreme, mais forte é o poder da vontade soberana de um povo consciente de sua força!
(por Dalton Rosado)
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