quinta-feira, 13 de agosto de 2020

A ALTA NAS BOLSAS SERÁ EFÊMERA, NÃO SINALIZANDO RECUPERAÇÃO ECONÔMICA

dalton rosado
A PIRÂMIDE DAS BOLSAS
A criação das sociedades por ações –por meio das quais se pode comprá-las e participar do lucro empresarial destas, enquanto proposta de acesso popular aos lucros dos empresários, é uma falácia capitalista.

Além de ser mecanismo de falsa participação popular no lucro capitalista, posto que os assalariados em geral não detêm capital para tanto, a distribuição dos lucros, sob a forma de dividendos, é controlada pela diretoria das empresas de capital aberto. as quais estão sempre pressionadas pelo imperativo de reinvestimento dos ditos lucros para obter o crescimento necessário e indispensável à guerra concorrencial de mercado. 

Antes de falarmos sobre o fenômeno que ora provoca as altas das bolsas, cumpre-nos dizer que, mesmo durante a recessão econômica atual (principalmente considerando as mais importantes do mundo), nem sempre os investimentos de longo prazo em bolsas correspondem à certeza de lucros garantidos. 

Vale lembrarmos o período de altas no pós-1ª Guerra Mundial, resultante do impulso que a devastação da Europa deu à economia estadunidense, alavancando a retomada do crescimento europeu. Mesmo assim,  houve o crash na bolsa de Nova York na chamada 5ª feira negra (29/10/1929), que levou muitos investidores à falência e até ao suicídio.

Mais recentemente, a crise do subprime nos Estados Unidos repercutiu em muitos outros países, inclusive na Bovespa brasileira. Em maio de 2008 o Ibovespa cravava 73.153 pontos e, cerca de 12 anos e três meses depois,  o total é de apenas 103.000 pontos.
A 5ª feira negra: um Deus nos acuda!

Se considerarmos a inflação de 109,75% no período acima referido e a valorização das ações em 41,0%, vamos constatar que os investidores tiveram um prejuízo de 33% sobre o capital investido, ou seja, têm apenas 2/3 do seu investimento original, o que significa que, mesmo no longo prazo, as intempéries do mercado podem provocar perdas substanciais para os investidores. 

Ora vivemos um período de profunda recessão, que está a anunciar uma forte depressão econômica mundial, conforme têm alertado o Fundo Monetário Internacional e a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico; os augúrios pioraram substancialmente com a paralisia econômica provocada pela pandemia.

Não há colmo obter-se prosperidade e crescimento linear mundial das relações econômicas nos moldes capitalistas se as regiões que conseguem produzir mercadorias a valores e preços competitivos e, com isto, serem vitoriosas na guerra concorrencial de mercado, o fazem em detrimento das regiões perdedoras as quais assim se tornam essencialmente compradoras, vivendo da exportação de commodities sem alto valor agregado.  

Com seus baixos níveis de produtividade, pouca produção tecnológica e insatisfatório conhecimento tecnológico, as regiões pobres, inseridas na lógica capitalista de mercado, se veem impelidas ao baixo consumo de mercadorias e, consequentemente, ao empobrecimento causado por essa forma de relação social que não admite critério de produção nenhum fora dos seus padrões ditatoriais de mercado. 

Tais regiões estão, portanto, condenadas à eterna prisão da equação insolúvel da acumulação do capital em seu detrimento; as regiões ricas estão condenadas ao empobrecimento futuro graças às próprias contradições dialéticas de seus conteúdos mercantis predatórios.

Quando ocorre um fenômeno diferenciado disso, como vem acontecendo com a China (cuja disponibilidade de uma farta força de trabalho escrava lhe permitiu atrair produtores de mercadorias ávidos de lucro para entrarem em seu território e ali produzirem tais itens a custos baixos), a consequência é a queda de produção nos centros produtores tradicionais.
Pirâmide das cotações acionárias: prestes a ruir

É que nem todos podem viver como ricos e produzir e comprar abundantemente; se alguma região se torna competitiva no mercado e passa a dominá-lo, isto significa que uma outra entrará em depressão. 

Esta é a razão da volta do velho protecionismo, agora defendido por países que até ontem apregoavam a excelência do livre mercado (caso dos Estados Unidos e outros).

As bolsas de valores estão sempre à mercê dos acontecimentos econômicos de mercado, e são os humores da instabilidade capitalista que definem as altas das ações e suas quedas cíclicas, como a história tem demonstrado de modo irrefutável. 

Agora, com a recessão e anunciada depressão econômicas, que reduzem substancialmente os ganhos de capital obtidos com os juros tradicionalmente extraídos das atividades econômicas (a chamada economia real), os ganhos de capital derivam quase que exclusivamente do temerário endividamento público estatal.

O Estado se vê, portanto, obrigado a reduzir as rendas oferecidas pelos títulos públicos; e os bancos, receosos de empréstimos temerários à atividade produtiva privada, se retraem no oferecimento de rendas de capital aos investidores que assim procuram ganhos nas bolsas de valores como se estas fossem detentoras da varinha mágica capaz de reproduzir o capital indefinidamente. 

Ora, como é a lei da oferta e da procura que define o aumento do preço das mercadorias (não do seu valor intrínseco) e as ações em bolsa nada mais são do que uma mercadoria financeira, há uma tendência de alta provocada pela recessão econômica. Um paradoxo capitalista!!! 

"tudo no capitalismo é uma contradição matemática"
A verdade é que, com as altas injustificáveis na relação preço/lucro, o valor das ações já não corresponde ao seu patrimônio de bens e capital, e muito menos aos dividendos decorrentes da participação no capital acionário pelos detentores de ações cujos valores são constantes das cotações dessa relação mercantil de compra e venda das ações em bolsas.

Daí estar ora existindo um castelo de cartas (a pirâmide das cotações acionárias), prestes a ruir tão logo elas atinjam um patamar estratosférico e os investidores, desconfiados da ilusória inconsistência e insubsistência do valor das ações, resolvam converter o seu capital em valores monetários e retirá-los das bolsas.

Tudo no capitalismo corresponde a uma contradição matemática, com graves reflexos na vida social. 

A humanidade vem obtendo consideráveis ganhos de saber, mas já passou da hora de, até mesmo por causa deles, dar-se conta da inutilidade dessa insistência em manter uma lógica de relação social incompatível com a racionalidade e sensibilidade de um viver social humanizado e ecologicamente equilibrado. (por Dalton Rosado).

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