quarta-feira, 15 de abril de 2020

TERÁ A POLÍTICA GENOCIDA DO PRESIDENTE APOIO EVANGÉLICO PORQUE, EM IGREJAS FECHADAS, O DÍZIMO TAMBÉM NÃO ENTRA?

rui martins
BOLSONARO, A GRIPEZINHA E A MÁ ESCOLHA
Como sempre, uma tragédia dessas enche as igrejas, num contrassenso: uns chorando seus mortos, outros pedindo proteção para não morrer. 

Mas podem também ocorrer coincidências reforçando esse aspecto – que poderá ser considerado religioso para os crédulos – da atual pandemia, responsável por uma inimaginável paralisação quase total das atividades humanas no nosso planeta.

Por exemplo, o nome do presidente francês – Emmanuel Macron, que, no original, quer dizer Deus conosco  ou um dos sobrenomes do nosso presidente, Messias, o redentor prometido por Deus

Ao que eu saiba, o francês não é religioso, enquanto o brasileiro seria realmente, segundo nos querem fazer crer os chamados pastores evangélicos (muito deles meros mistificadores e aproveitadores), a manifestação da vontade divina. Se o próprio Bolsonaro acredita ou se aproveita disto, não podemos saber.

A sorte desses pastores e a sorte de Bolsonaro, diante desta mistificação, é não existir mais no Brasil uma revista ou jornal satíricos como eram O Pasquim ou a antiga Careta. A crueza das charges e a ironia e esculhambação dos textos fariam todos eles se esconder com vergonha de suas mentiras.
Se, como dizem os evangélicos, baseados não sei no quê, Jair Messias Bolsonaro foi eleito presidente por vontade divina, então o povo não foi iludido, mas foi Deus quem se enganou. Teria sido mais um erro ou equívoco, a Bíblia conta outros. 

E tal erro fica hoje evidente na questão da proteção dos brasileiros contra o avanço do vírus do apocalipse, negada pela resistência do presidente Bolsonaro à quarentena e ao reconhecimento da pandemia.

Deus errou ao dar preferência às orações dos pastores charlatães mais preocupados em tosquiar suas ovelhas do que em salvá-las. Errou ao pensar que o farsante batizado no rio Jordão, imitando Jesus, e com mensagem colocada e deixada entre as pedras no Muro das Lamentações, faria parte dos 144 mil eleitos celebrados no Apocalipse, o livro bíblico profético do fim do mundo.

Se não tivesse havido a precaução dos governadores, criando e mantendo uma quarentena nos seus estados, o Brasil iria viver nestes meses uma catástrofe pior que a da Lombardia italiana. Só não entendo por que pessoas usando camisetas com a legenda Deus acima de tudo – Aliados patriotas em letras garfafais, que vejo nos vídeos, misturam evangelismo com extremismo de direita, e apoio a Bolsonaro com a sabotagem à proteção do povo contra o coronavírus.

No último dia 13, Macron, prorrogou praticamente por mais um mês, até o dia 11 de maio, a quarentena em todo o país, reconhecendo uma situação de emergência.

Enquanto me chega de São Paulo um vídeo de evangélicos falando em hospitais vazios, a França contabiliza, no dia 13 de abril, um número crescente de vítimas – 117 mil doentes contaminados e 15 mil mortes. O clima parece de guerra, em meio a propagandas e boatos.

Um pretenso operador da Bolsa de Valores de Nova York, um dos lugares mais afetados pela pandemia, distribui áudios e fake news denunciando uma conspiração mundial (da qual faria parte a Organização Mundial da Saúde) e pedindo muita oração para melhorar a vibração no planeta.

Os charlatães estão soltos. Na Bélgica, um extraordinário showman, Jean-Jacques Crevecoeur, denuncia países, complô e fala para o pessoal sair da crise tomando cloroquina e vitamina C.

E, no Brasil, o presidente, que falava em gripezinha e ao qual deve, sem dúvida, faltar um pino na cabeça, incita o povo a romper a quarentena, de maneira irresponsável, sem se preocupar com um aumento no número de mortos. Ele próprio, segundo circula, faria parte dos afortunados já imunizados, depois de uma contaminação sem más consequências, como pode ocorrer.

No Brasil, onde a temperatura começará a baixar com o fim do outono, as contaminações com o coronavírus poderão atingir seu ponto máximo em maio e junho.

Qual o interesse da maioria dos evangélicos em apoiar a política genocida do presidente Bolsonaro, de romper a quarentena e incentivar a propagação de fake news segundo as quais não há pandemia?
Seria a dificuldade em receber os dízimos com as igrejas vazias? Se for isto, é escandaloso demais! 
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(por Rui Martins, de Genebra)

2 comentários:

Ricardo disse...

O autor coloca muito bem a sorte do Bozo e da extrema direita fundamentalista a falta que faz uma publicação estilo Pasquim. Aliás o que a esquerda está esperando para reunir os cacos e usar sua estrutura - ainda conta com gráficas de sindicatos e uma militância com vontade de participar -para ganhar novamente as ruas? E não adianta uma manifestação esporádica ainda que numericamente relevante. O trabalho é cotidiano como fazem justamente essas religiões extremistas e os robôs do inominável.

celsolungaretti disse...

O que falta é a esquerda se convencer de que a fase do populismo acabou e que tem de trabalhar duro para reconquistar a confiança das massas. É o que eu vivo escrevendo.

O Lula acha que o PT se pode omitir vergonhosamente como está fazendo durante uma crise sanitária de extrema gravidade, chegando ao absurdo de negar apoio ao "Fora Bolsonaro".

Quer deixar tudo para 2022, torcendo para que o Bozo ainda seja o presidente, pois é o adversário que ele sonha enfrentar no 2º turno.

Se a esquerda não acordar dessa pasmaceira, é capaz de nem existir mais esquerda em 2022. A nossa luta temos de ganhar em 2020, se não quisermos nos tornar totalmente irrelevantes.

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