segunda-feira, 24 de fevereiro de 2020

"MADURO, GOVERNANTE HORROROSO, É UM MESTRE NA ARTE DA SOBREVIVÊNCIA"

mathias alencastro
NINGUÉM SE LEMBRA MAIS DAS PROMESSAS SOBRE
A VENEZUELA FEITAS NO CARNAVAL PASSADO
Ditadores ridículos podem aguentar-se bom tempo no poder...
Em 23 de fevereiro de 2019, a capital do mundo era uma cidade colombiana na fronteira com a Venezuela.

Cúcuta reunia magnatas, governantes, ativistas, jornalistas e milhares de apoiadores que pensavam celebrar o começo do fim da época bolivariana.

Exatamente um mês antes, Juan Guiadó havia sido virtualmente alçado à Presidência pela quase totalidade do mundo ocidental. 

Uma jogada em grande parte articulada por um quase desconhecido, o recém-empossado Ernesto Araújo.

A mudança de regime na Venezuela teria garantido ao diplomata um lugar de destaque no quadro de honra do Itamaraty. Ele teria sido imediatamente comparado a Antonio Francisco Azeredo da Silveira.

Ao estimular o governo Ernesto Geisel, em 1975, a ser o primeiro a reconhecer o governo independente de Angola, o lendário chanceler projetou o Brasil numa nova era. 
...como foi o caso de Gaddafi ...

Passado um ano, é difícil quantificar a magnitude desse primeiro grande fiasco do governo Bolsonaro.

Depois de sucessivas vitórias pírricas e pequenas humilhações, Guiadó, ícone para alguns, embuste para outros, continua recebendo tapas nas costas dos poderosos. Mas ninguém acredita na sua capacidade de virar o jogo.

Com efeito, o ditador venezuelano Nicolás Maduro não apenas resistiu a uma sequência de insurreições armadas e sanções internacionais, como também inaugurou um modelo social completamente novo.

O Executivo declaradamente socialista entregou o controle dos enclaves ricos de Caracas a empresas de segurança privada e passou a ignorar leis tributárias e trabalhistas, controles de preços e de câmbio.

Em plena recuperação econômica, a capital venezuelana opera como um paraíso fiscal onde o dólar é a moeda corrente. O Carnaval deste ano promete ser o melhor da última década.

Se Caracas é Dubai, o resto do país é Somália. Paramilitares apoiados pelo crime organizado assumiram o monopólio da violência e do território no lugar das autoridades oficiais.

A população rural está aprendendo a viver sem a presença do Estado. Palco da revolução, Cúcuta se estabeleceu como principal ponto de passagem dos quase um milhão e meio de refugiados venezuelanos que residem na Colômbia.

Já ninguém se lembra das promessas feitas no último Carnaval.
...mas temos a sorte de nosso aspirante a ditador ser, além do mais, incompetente e trapalhão até a medula
Inconcebível até para os mais pessimistas, a distopia venezuelana tem tudo para se prolongar. Estados falhados e marginalizados não estão necessariamente condenados.

O governo do líbio Muammar Gaddafi, que entrou na mira dos Estados Unidos depois do atentado de Lockerbie, em 1988, arrastou-se por quase duas décadas até ser brutalmente derrubado em 2011.

Na África subsaariana, inúmeros autocratas se perpetuaram no poder controlando pouco mais do que a capital e as regiões ricas em recursos naturais. 

Por Mathias Alencastro
O último ano mostrou que Maduro, governante horroroso, é um mestre na arte da sobrevivência.

Em clima de euforia, ele decidiu antecipar o feriado de Carnaval neste ano e, com um toque de sadismo, conclamou os venezuelanos a renovarem as suas energias.

O Brasil deve se acostumar à ideia de que existe um Estado falhado firmemente instalado na sua fronteira. 
Toque do editor — Decerto haverá leitores que, trocando Marx por Maquiavel, desaprovarão a forma depreciativa como Alencastro se refere a esses ditadores que deram certo no sentido de perpetuarem-se no poder, embora comandando regimes execráveis.

Mas, para o revolucionário que sou e serei até a morte, os Gaddafis e Maduros constituem verdadeiros pesadelos, pois a defesa que a parcela pragmática/amoral da esquerda faz de seus militarismos brutais dá à direita munição inesgotável para campanhas de desmoralização dos ideais igualitários e libertários. 
Por Celso Lungaretti

E, coerente com o marxismo, continuo convicto de que o destino do mundo se decidirá sempre nas nações mais desenvolvidas economicamente, e não nas periféricas. 

É uma péssima troca apoiarmos tais distopias, como bem qualificou Alencastro, ao preço de vermos nossas utopias desmoralizadas na Europa, p. ex. 

2 comentários:

Anônimo disse...

"E, coerente com o marxismo, continuo convicto de que o destino do mundo se decidirá sempre nas nações mais desenvolvidas economicamente, e não nas periféricas."

Por acaso, a Rússia de Lênin, a China de Mao, Cuba de Fidel e Che, o Vietnam de Ho Chi Minh eram todos países desenvolvidos à época ?

O marxismo tem muitas versões...qual a verdadeira?

celsolungaretti disse...

A do Marx, obviamente. Ele sempre projetou a revolução socialista se iniciando nos países com as forças produtivas mais desenvolvidas e estendendo-se depois para as demais, assim como a revolução democrático-burguesa começou na Inglaterra e na França.

No sentido marxista, nenhum dos países que implantaram regimes ditos socialistas estavam prontos para o socialismo, daí todas as distorções que marcaram tais experiências.

A ideia era de que se compartilhassem melhor as riquezas, de forma que beneficiassem o conjunto da população, não a de administrar a pobreza.

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