A decadência do cinema comercial nas últimas décadas é gritante no que se refere aos filmes sem pretensão a se tornarem obras de arte, destinados aos espectadores comuns, mas que, mesmo assim, conseguiam ter qualidade, enredos inteligentes, atuações marcantes, músicas que acabavam virando hits, etc.
Hoje, quando adultos são reduzidos à infantilização pelos filmes da Marvel Comics, por besteiróis que se pretendem comédias e pela enxurrada de fitas sobre algo tão repulsivo quanto inverossímil (zumbis), sinto muitas saudades dos westerns italianos dos anos 60 e 70, dos policiais franceses idem, das comédias italianas e de alguns filmes de ação estadunidenses dos '50 aos '80, etc.
Eu era feliz e não sabia. O cinema comercial nada ficou a dever ao grande retrocesso político e social das últimas décadas.
Então, como o encontrei pela primeira vez disponibilizado no Youtube, trouxe para cá O grande búfalo branco, que é exatamente um desses filmes sem nada de excepcional, mas plenamente satisfatório como entretenimento para adultos, que era o que predominava antes da era da infantilização.
O diretor J. Lee Thompson, basicamente um artesão sem maiores ambições, fez o seu trivial: nem belo de admirar, nem feio de espantar. Exatamente como em Os canhões de Navarone, Círculo do medo, Taras Bulba, A senhora e seus maridos, O ouro de Mackenna e As minas do rei Salomão, seus trabalhos mais conhecidos.
E sempre simpatizei com Charles Bronson e outros atores que passavam uma eternidade (no caso dele duas décadas. nos Estados Unidos) se dividindo entre o cinema e os seriados de TV e tendo de aceitar tudo quanto era papel, até que de repente eram alçados por um golpe de sorte ao estrelato.
Como santo de casa não faz milagre , ele só foi reconhecido após uma temporada bem sucedida na Europa, contracenando com Alain Delon em Adeus, amigo (d. Jean Herman, 1968) e com Henry Fonda em Era uma vez no Oeste (d. Sergio Leone, 1968). E chegou ao estrelato nos EUA com Desejo de matar (d. Michael Winner, 1974).
Em O grande búfalo branco (1977), ele interpreta um Wild Bill Hickok já no fim de sua trajetória (morreu aos 39 anos), com visão reduzida e obcecado com um enorme búfalo branco que o atormenta em pesadelos.
Ao finalmente decidir caçar o animal, seu caminho se cruza com o de um indígena (Will Sampson) que viria mais tarde a se tornar o grande guerreiro sioux Crazy Horse e que precisa matar a fera e envolver com sua pele o corpo da filhinha por ela morta, para a criança poder sair do limbo e ir para o paraíso de suas crenças.
A união improvável de duas figuras lendárias, tão diferentes entre si (e que, claro, nunca aconteceu na vida real) é fascinante, mantendo o interesse do espectador até o final.
Dá até para relevarmos as sequências de ação que agora nos parecem canhestras, como todas as anteriores à atual excelência dos efeitos especiais. (por Celso Lungaretti)
2 comentários:
Puxa Celso...
Você me forneceu uma viagem de volta aos anos 70 e suas emoções...
A minha está na cena em que a fera arremete na direção dele, e, exatamente por conta dos efeitos especiais não serem ainda muito aprimorados, como na atualidade, ficou gravado em minha mente aquele galope "forçado" e o desespero dele; e na sequencia a luta deles com o Búfalo.
Ramon,
há muitos desse tipo na seção "filmes para ver no blog", clique no ícone que está na coluna à direita.
Infelizmente, nem todos os filmes têm links ativos e eu não dou conta de ficar atualizando a cada momento. Quando percebo que algum caducou, tento encontrar substituto. Às vezes não existe nenhum.
Abs.
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