terça-feira, 16 de julho de 2019

UM RECORDE NEGATIVO DO DESGOVERNO BOLSONARO: NUNCA TANTO APOIO FOI PERDIDO EM TÃO POUCO TEMPO.

joel pinheiro 
da fonseca
RISCO CONTROLADO
Espero sinceramente que ninguém esteja chocado pelo desejo do presidente de nomear seu filho sem qualquer experiência diplomática e com inglês rudimentar para a embaixada em Washington. Nomear parentes e amigos sem qualificações profissionais era justamente um dos traços mais marcantes dos gabinetes da família Bolsonaro. 

Entre o pai e os filhos, foram 13 parentes contratados (ex-mulher, sogro, sogra, cunhados etc.) —sem falar nos parentes de amigos, como a filha de Fabrício Queiroz, contratada por Jair Bolsonaro quando era deputado, mas que não pisou em Brasília no tempo todo em que foi remunerada pelos cofres públicos. 

Não acho que isso seja motivo de escândalo; é a coisa mais comum do mundo na pequena política brasileira, da qual Bolsonaro faz parte.

O surpreendente em alguém como Bolsonaro e seus filhos é justamente o discurso revolucionário, antissistema, que ele tem reproduzido e o qual usa para defender ações fisiológicas como essa. Se a mídia critica, diz o presidente, “é sinal que a pessoa é adequada”. 

É a retórica do combate ao sistema sendo usada para defender o que há de mais fisiológico: nomear o filho a um cargo em que ele possa ter algum destaque, dado que, na Câmara dos Deputados, outros o têm ofuscado. O plano evidente de Eduardo é se tornar presidente.

Esse discurso vai contra a natureza de Bolsonaro. Ele não é o líder decisivo e dado a grandes gestos. É vacilante e sempre pronto a recuar do que parecia uma decisão tomada. E o contraste entre discurso radical e realidade venal enfraquece o apoio ao presidente mesmo entre seus defensores mais aguerridos. 

A possível indicação do filho desceu muito mal. Assim como desce mal para a militância radicalizada ver um governo que abre as torneiras das emendas parlamentares, entra em tratados internacionais globalistas e falha na entrega de suas promessas mais simbólicas (como posse de armas).

Indeciso entre optar de vez pelo caminho revolucionário de enfrentamento das instituições (que depende da ameaça de uma ruptura que ele sabe não ter a força para levar adiante) e fazer política como sempre se fez (que lhe custaria a militância espontânea, seu único suporte), Bolsonaro fica imobilizado. Em seu lugar, o Congresso deve tomar o protagonismo.

A grande incógnita é como o presidente reagirá a um Congresso que não só neutraliza seus projetos e ações mais ousados (se sentiriam à vontade inclusive para barrar o filho embaixador e o esperado ministro do STF terrivelmente evangélico?) como também propõe a pauta de reformas daqui em diante. 

Ser a rainha da Inglaterra de um país que volta a crescer inclui receber os créditos da retomada. Ou então os agentes revolucionários de seu governo (entre os quais se inclui o filho Eduardo) o convencerão de que o apoio das massas está ali adormecido, só esperando o momento para atacar.

O governo Bolsonaro começou em meio a enorme entusiasmo da população e do Congresso. Nunca tanto foi perdido em tão pouco tempo. O Congresso mais conservador da história não confia no presidente mais conservador da história. 

A aprovação popular segue baixa e mesmo os militantes mais fanáticos começam a duvidar da coragem do mito para acabar com tudo que está aí. O perigo de uma guinada populista eficaz (que de fato submeta as instituições ao poder central) parece agora bastante controlado. 

O desejo que a subjaz, contudo, continuará a nos rondar por muito tempo. (por Joel Pinheiro da Fonseca)

2 comentários:

Fausto Neves disse...

Olá, boa noite

Acabo de ver o vídeo de Eric Nepomuceno
"NEM EM 64 HOUVE UM PROJETO TÃO ÁVIDO DE DESTRUIÇÃO DO PAÍS COMO O DE BOLSONARO"
comvem ver!!
Já pelo título (este artigo) me parece amenizar o olho do furacão em que nos encontramos.
A poeira do tropel da manada de rinocerontes deste governo esconde até o sol.

Tenho lido as notícias do Correio da Manhã de 64/65 e as edições da Revista Civilização Brasileira

Até as charges do livro "Hay Gobierno" de 1964, remetem para hoje
https://ibb.co/zH7nKw7
https://ibb.co/9GTNCcR
https://ibb.co/K5ybpT1

Abraços

celsolungaretti disse...

Fausto,

tudo é uma questão de perspectiva.

Para quem acredita na democracia burguesa, o retrocesso sob o Governo Bolsonaro é de enorme gravidade.

Eu já considerava péssimo tudo que estava aí, então não me parece nenhum fim de mundo. Piorou o que não prestava.

Seria uma real ameaça se ele tivesse sido capaz de levar em frente aqueles planos malucos de autogolpe, mas a minha avaliação é de que ele já foi impedido e caiu na real (até porque nem as Forças Armadas nem o grande capital respaldariam uma virada de mesa que ele tentasse dar).

Como revolucionário, meu dever é tentar ir além tanto do Governo Bolsonaro (isto é facílimo!) quanto do quadro anterior, que tantos esquerdistas desvirtuados teimam em querer defender.

Não, a democracia burguesa que vigorou nos governos petistas jamais será nosso ponto de chegada. Nem a Previdência daquele tempo era flor que se cheirasse, a ponto devermos direcionar nossos esforços para sua defesa.

Ela realmente caminhava para o empasse em termos capitalistas, assim como todo o capitalismo marcha para o impasse.

Só teremos uma Previdência de verdade se a desatrelarmos da relação receitas/despesas, passando a considerar o tratamento digno para os idosos como um DEVER da sociedade.

De onde tirar os recursos? Extinga-se o lucro e tudo que gira em torno do lucro: sobrará o necessário para que todo idoso leve vida de gente. Hoje, a grande maioria vegeta. E nos governos do PT igualmente vegetava.

Temos de lutar por muito mais do que aquilo. Não apenas para voltarmos ao status quo ante.

Temos de ousar ser revolucionários e ousar nos assumirmos como revolucionários.

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