quinta-feira, 4 de julho de 2019

SERGIO MORO ABRAÇA O NEOFASCISMO

O tenentismo togado, tanto quanto seu congênere militar, sempre foi autoritário, tendo dado provas disto ao longo da Operação Lava-Jato. No entanto, ainda faltava assumir por completo tal característica política. Agora, ao que parece, não falta mais. 

A ida de Sérgio Moro para o Ministério da Justiça do presidente neonazista Jair Bolsonaro já indicava uma proximidade de comunhões entre lavajateiros e a gangue miliciana que tomou conta do poder. 

As recentes revelações do The Intercept, no entanto, mostraram que a vocação bolsonarista da Lava-Jato estava expressa desde muito tempo atrás. Ali, é possível visualizar plenamente o desprezo pela lei e a vocação a justiceiros, características tão arraigadas no ethos bolsonariano. Desnudou-se nos vazamentos não um juiz, mas um miliciano de toga, pronto para perseguir desafetos e fazer imperar sua vontade tirânica. 

E tal prática volta agora, com a revelação de que a Polícia Federal de Sérgio Moro estaria investigando as atividades do jornalista Glenn Greenwald, chefe do time de investigadores responsáveis por levar a público as entranhas do lavajatismo. 

Atitude deplorável por si mesma, típica de regimes ditatoriais, mas que não poderia surpreender vinda de um integrante do governo exaltador da ditadura militar, da tortura e das violações de direitos humanos. 

Quem não se sentia incomodado em obedecer ao troglodita Bolsonaro, certamente não verá qualquer problema em violar a liberdade de imprensa e a Constituição. 

Violações, de resto, perpetradas desde a época dos processos em Curitiba, conforme revelam os vazamentos. Moro, indo ao congresso explicar-se, apenas conseguia oscilar entre a hipocrisia, a candidez e o desprezo pela inteligência alheia.

Em sua primeira participação no Senado, blindado pela bancada lavajista, conseguiu diluir as graves acusações e posar de vítima. Na câmara, no entanto, contando apenas com patéticas figuras como Boca Aberta e delegado Waldir, não teve outra opção a não ser ignorar solenemente as perguntas difíceis e se sair com um discurso manjado e robótico. Após ser, corretamente, chamado de juiz ladrão pelo deputado Glauber Braga, bateu em retirada. 
O óbvio ululante ainda precisa ser repetido no Brasil de hoje

Não se trata aqui de negar os crimes cometidos ou a existência real de corrupção, até do ex-presidente Lula. No entanto, é importante frisar as práticas absolutamente corruptas usadas pelo ex-juiz e sua força-tarefa no desenvolvimento de um programa político de destruição do sistema político até então vigente e sua substituição por forças de extrema-direita. 

O padrão autoritário, messiânico e pró-capital financeiro ficou, ao longo da operação, escancarado nos abusos de autoridade, seletividades, no fundamentalismo religioso e na não investigação do papel do sistema bancário nas fraudes reveladas (alguém realmente acredita que Geddel Vieira retirou aquele montante de dinheiro de um cofrinho do seu banker ou que milhares de reais em propinas andavam pelo mundo em cuecas?

Ao atacar o sistema vigente e respectivos operadores empresariais, Sérgio Moro e seus funcionários lotados no MPF não fizeram outra coisa senão abrir o caminho para um projeto de poder neofascista, em que bancos, milícias, igrejas e latifundiários poderiam tomar a cena. 
Uma vez conquistado o poder, o outrora campeão da virtude esqueceu-se de sua virulência saneadora e perdoou crimes de colegas, fechou os olhos para os dos filhos do chefe e passou a validar toda ação pró-milícia de um presidente corrupto e sanguinário.

A perseguição a Gleen Greenwald é apenas o ato final da máscara de Moro caindo e sua face neofascista emergindo. (por David Emanuel de Souza Coelho)

Nenhum comentário:

Related Posts with Thumbnails