dalton rosado
O ÓDIO SOCIAL, E NÃO O AMOR, É O QUE ESTÁ NA BASE DO APOIO A BOÇALNARO, O IGNARO
Há exatos cinquenta anos vivíamos a era da contracultura, que encarnava a defesa do amor em contraponto à guerra (principalmente a do Vietnã) e aos comportamentos conservadores hipócritas.
Movimentos como o maio de 1968 na França tinham como bandeira reivindicatória central um novo modo de viver em liberdade; isto abalou o establishment preocupado com a possibilidade de estar despontando uma tendência de consolidação de um novo e revolucionário modo organização e de produção social.
Em Paris se liam frases como é proibido proibir, não trabalhe jamais e a política está nas ruas, não nas urnas, que fugiam da mesmice dos partidos políticos de todos os matizes (inclusive o Partido Comunista Francês) e das centrais sindicais abarrotadas de pelegos.
As bandeiras hippies eram extensão de um sentimento de fraternidade, mas, por não terem um suporte de consistência sobre um novo modo de produção social abrangente que lhes desse continuidade, terminaram sufocadas pelo tecnicismo burocrata que sobreveio nos anos 70. Deu-se então a afirmação de jovens tecnocratas apelidados de yuppies, que, laçados pela gravata, nada mais queriam além de serem ricos e sofisticados.
Um slogan de 1968: "Sejam realistas, exijam o impossível" |
A contracultura deu lugar à adeptocracia tecnicista comportada e infeliz.
Os anos 70 representaram mundialmente um recuo com relação aos avanços dos '60; no Brasil, assistimos ao endurecimento do regime militar, com ostensivo apoio econômico dos EUA aos generais ditadores.
Por sua importância estratégica na geopolítica sul-americana, nosso país foi aquinhoado pelas potências capitalistas com os fartos investimentos que garantiram o efêmero sucesso do milagre brasileiro (durou só até 1973). Ditadores sanguinários como Emílio Garrastazu Médici, durante esses poucos anos de vacas gordas, sentiram-se confortáveis para mostrar a cara aos geraldinos e arquibaldos (os pobretões das gerais e a classe média das arquibancadas), nos clássicos que eram disputados aos domingos no Maracanã.
Neste final de década em que se evidencia cada vez mais a debacle capitalista mundial (a exceção são os Estados Unidos, cuja economia ameaçada será sustentada artificialmente até sabe-se lá quando), a grande mídia induziu a mesma classe média que então caiu no conto do milagre a engolir as lorotas de um candidato rústico e com desempenho parlamentar obscuro durante quase trinta anos, como se ele fosse capaz de reverter o declínio do seu poder aquisitivo.
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UM FALSO OUTSIDER TÍPICO – A grande mídia formadora de opinião; a classe média vestida de verde-amarelo; e segmentos empresariais como a Fiesp são os cavaleiros de nosso mini-Apocalipse.
Mesmo hospitalizado ele repetia a pantomima de cowboy |
Formaram o trio capaz de induzir a massa exasperada pelo desemprego e subemprego a acreditar que todos os problemas brasileiros possam ser resolvidos pela força das armas e pelo hipócrita combate à corrupção.
O próprio presidente empossado não cansa de repetir que, se acabarmos com a corrupção, haverá dinheiro para tudo. E como pretende erradicar esse mal secular da vida brasileira? A simbologia gestual por ele adotada em campanha sugeria que ele o fará na marra. Ela foi algo ainda pior do que a saudação nazista Heil, Hitler!, pois o então candidato se fazia a todo momento filmar e fotografar com suas mãos imitando uma arma.
Os que colocam nos ombros da corrupção (que deve ser combatida como subproduto do capital) a causa principal dos nossos males, desconhecem os números desta questão, que está longe de representar o ponto fulcral da nossa miséria social.
Grassa no Brasil uma ignorância epidêmica. Já ouvi inúmeras pessoas dizendo que o novo presidente vai dar um jeito nas facções criminosas e na violência urbana, ao mesmo tempo que atribuem aos defensores dos direitos humanos a responsabilidade pelos altos índices de criminalidade (e não à dinâmica excludente do capital, que ignoram por completo!).
São falácias eleitorais que, repetidas mil vezes pela mídia e ecoadas por uma classe média deformadora de opinião (temerosa, exclusivista, egocêntrica e superficialmente informada), terminaram por calar fundo nas inconsciências populares.
E tudo isso está sendo embalado por uma vertente teocrática pentecostal que quase nada tem a ver com a doutrina da qual se diz seguidora, estando mais para um fundamentalismo religioso cego do que para a fraternidade pregada pelo Cristo (apesar de o designarem como seu Senhor num slogan).
Assim, é o ódio e não o amor que subiu a rampa do Planalto em Brasília neste nefasto dia 1º de janeiro. Nós o lamentaremos por quatro longos e tenebrosos anos. (por Dalton Rosado)
Observação: o Dalton recomenda, no espírito do artigo acima, que os leitores
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