quinta-feira, 27 de dezembro de 2018

LEMBRANDO GIULIANO GEMMA, 'MOCINHO' AMERICANIZADO DOS WESTERNS ITALIANOS.

Mea culpa: deixei passar em branco o quinto aniversário da morte do ator italiano Giuliano Gemma, falecido em outubro de 2013. Tinha 75 anos e foi vítima de um acidente rodoviário.

Mas, ainda que com um indesculpável atraso, aí vai um pequeno tributo.

Giuliano Gemma, cujo nome real era mesmo este, foi o grande mocinho à antiga  do western italiano. 

Interpretava o bom rapaz, na contramão de Franco Nero, Clint Eastwood, Anthony Steffen, George Hilton, Tony Anthony, Gianni Garko e outros que personificavam  anti-heróis, geralmente caça-prêmios (até Terence Hill, antes de se consagrar em clave humorística como Trinity, fazia o gênero soturno).

A diferenciação até que o favoreceu, pois Gemma pôde se projetar como contraponto ao niilismo e amoralidade dos spaghetti-westerns –cuja característica mais marcante era a desmistificação dos congêneres estadunidenses, colocando a feia realidade histórica no lugar das fantasias edificantes e do maniqueísmo forçado. 

Neles não existiam vaqueiros rigorosamente escanhoados e respeitadores das pudicas moçoilas em quaisquer circunstâncias, nem o primado da  lei & ordem, mas, tão somente, indivíduos selvagens, dispostos a tudo para atingirem seus objetivos.  
O professor e o aprendiz: 10 lições para tornar-se pistoleiro
Sua carreira de coadjuvante vinha desde 1958, mas foi em Os filhos do trovão (1962) que Gemma começou a decolar. Atlético e bem apessoado, levava jeito para os épicos da Cinecittà. Após outros cinco, a um passo do estrelato, nova porta se abriu para ele: os bangue-bangues, ciclo iniciado por Sergio Leone em 1964, com Por um punhado de dólares.

Utilizando nos seus três primeiros bangue-bangues um pseudônimo americanizado (Montgomery Wood), Gemma encontrou o caminho do sucesso no ano seguinte, como o astro dos também americanizados Uma pistola para Ringo e O dólar furado. Na esteira faria outros 15 westerns, além de passar sem destaque por outros gêneros.

No Brasil, seu maior êxito foi O dólar furado, que permaneceu uma eternidade em cartaz... mas estava longe de ser um grande filme. Talvez o atrativo maior tenha sido o par romântico (outra raridade no filão) formado por Gemma e Ida Galli, além da inesquecível canção principal, "Se tu non fossi bella como sei".

Bem melhor é o abaixo disponibilizado Dias de Ira (1967), de Tonino Valerii, aplicado discípulo de Sergio Leone –o mestre até lhe permitiria ser creditado como único diretor de Meu nome é Ninguém (1973), embora o tivessem dirigido a quatro mãos.
A canção principal fez razoável sucesso avulso, cantada por Fred Bongusto
.
A história é de um órfão, Scott (Gemma), que foi criado por prostitutas e faz os piores trabalhos, como o de recolher os baldes de excrementos de porta em porta. O pistoleiro Talby (Lee Van Cleef) chega à cidade e simpatiza com ele, mas não a ponto de aceitá-lo como discípulo.

Scott persevera e, após salvar a vida de Talby, é finalmente admitido como seu aprendiz. Depois de assumirem juntos o controle da cidade, Talby passa a encarar Scott como uma ameaça e tenta se livrar dele. 

Scott, que não conhecera o pai biológico, havia adotado como figura paterna um velho homem da lei (Walter Rilla), mas transferira sua devoção a Talby. É tangido, contudo, ao  confronto mortal com o pai substituto, quando utiliza apropriadamente as lições que dele recebera.  
A qualidade da cópia aqui oferecida está acima da média. Aproveitem!  

2 comentários:

Anônimo disse...

Oi Celso, tudo bem?

Aqui é o Hebert.

Parabéns, mais cronicas com estas.

Gostaria de sugerir, crônicas sobre música também.
Comecei e descobri por acaso, o blogueiro e jornalista, Alexandre Figueiredo
dos blogues Mingau de Aço e linhaça Atômica, inclusive
foi através dele, que descobri Náufrago da Utopia.
Mingau de Aço ( infelizmente extinto ), trazia crônicas sobre o papel da música
na vida dos brasileiros, sobretudo o chamado "hit do povão" ( "funk carioca", axé, forró eletrônico, pagode romântico, sertanejo ), descrito por Alexandre, como música de cabresto e seu papel nocivo na sociedade, atribuindo ao povo suas piores mazelas e defeitos, como se fossem qualidades a serem ostentados com resignação e orgulho.
Sempre enxerguei música ruim, como besteirol musical ( inofensiva, e com o papel de fazer rir ), mas que vem sendo levada muito a sério, pela "capa" criada por "pensadores" que dominam a cultura de massa, a ponto de se criar grande celeuma, caso alguém mostre simples indiferença a este estilos musicais.
Como se a indiferença ou crítica, fosse desdem, preconceito, ou até racismo, ao povo.
Uma teoria bem interessante, que faz bastante sentido pra justificar o bom e velho orgulho de ser pobre, de viver sob péssimas condições, as mulheres do funk, "livres", mas submissas aos padrões machistas.
Algo em que até as esquerdas, feminismo, o emponderamento e o progressismo caíram.
Me lembrei que a equipe de "funk" furacão 2000 de Rômulo Costa, sempre foi ligada, fazendo vários showmícios a políticos do PMDB, e sua ex esposa Verônica Costa ( mãe loira ), tem mais de 20 anos de carreira política sob a legenda, embora hoje não seja mais filiada ao partido.
Veja por exemplo o tal "divisor de águas", rap da felicidade:
"eu só quero é ser feliz, andar tranquilamente na favela onde eu nasci,
e poder me orgulhar, e ter a consciência que o pobre, tem seu lugar. "

Sobre Gemma, creio que o único filme que gosto, é o Dia da Ira, embora tenha aqui Sela de Prata, mas que nunca cheguei a ver.
Nunca consegui apreciar o seu estilo galã-bom moço-empolado, semelhante a Robert
Redford, a quem só passei a considerar após o filme A última Fortaleza, devido a dignidade intacta de seu personagem, e o resgate da mesma, a todos os internos.

Forte Abraço, e mais listagens de filmes, por favor!!!

celsolungaretti disse...

Hebert,

vendo o que se tornaram a música e o cinema na atualidade, vêm-me à lembrança os artigos em que o Paulo Francis dizia que a indústria cultural estava forjando um inferno pamonha.

Quando estou com minhas filhas (uma de 10 e a outra de 16 anos) no carro e elas escutam suas músicas prediletas me dá uma sensação de que o retrocesso nas artes foi pior ainda que o na política.

Me dá desânimo até de tentar compreender como chegamos a esse fim de feira.

Vez por outra ainda escuto meus rocks velhos bem blueseiros; as incursões do Focus, Steeleye Span, Jethro Tull, Moody Blues, etc., por sonoridades de outras épocas e de outros países, aprecio letras primorosas como as do Dylan, do Leonard Cohen, do Neil Young, do Paul Simon, do Pete Sinfeld.

Escrever o quê, hoje, sobre esses ídolos de ontem? Creio que minha descoberta mais recente foi a Loreena McKennitt, cujo apogeu se deu na década passada.

Só mesmo quando algum dos meus favoritos morre.

Talvez meu desencanto tenha algo a ver com a ligação da música com esperanças do passado que não frutificaram. É melancólico lembrar tudo aquilo com que sonhávamos e comparar com o que se nos apresenta agora.

O Gemma não era um dos meus favoritos, mas fez parte de uma época de descobertas em minha vida. E atuou em bons filmes que não eram westerns, como "Corbari", "O deserto dos tártaros" e "Advertência".

Meu tipo de western eram mais os protagonizados pelo Franco Nero. Uma cena incrível de um filme menor ("Adeus, Texas): ele está num saloon bebendo e alguém provoca o irmão dele para uma briga e lhe dá uma tremenda surra. Aí ele se vira lentamente e sua expressão já prenuncia toda a explosão de violência que virá em seguida. Como é que ele conseguiu transmitir tanta raiva no olhar? Estaria pensando em algum inimigo da vida real? O cinema tem esses momentos inesperados.

Talvez o maior de todos seja o do Vittorio Gassman em "Perfume de mulher". Inconformado por ter sofrido um acidente e ficado cego, ele passa o filme inteiro sendo grosseiro com todos que o rodeiam. No final, faz um pacto de suicídio com outro ex-militar mas acaba vacilando, enquanto o outro o cumpre. É quando aquela postura agressiva se estilhaça e ele fica confuso, pasmo. A forma como o Gassman consegue "passar" essa perplexidade e transfiguração do personagem é uma das mais perfeitas que vi nas telas e no palco durante minha vida inteira. Arrepia.

O Robert Redford nunca me entusiasmou, mas teve atuações que não foram de jogar fora, como em "Butch Cassidy", "Caçada humana", Willie Boy" e "Mais forte que a vingança".

Um abração!

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