flávia piovesan
NA JUSTIÇA E NO GOVERNO, BICUDO TINHA
COMO TAREFA LUTAR PELOS DIREITOS HUMANOS
O ponto alto de sua trajetória |
A devoção à causa dos direitos humanos foi a expressão maior da vida de Hélio Bicudo [que faleceu nesta 3ª feira, 31/07, aos 96 anos, de vários problemas de saúde].
Nos anos 70, como promotor de justiça, assumiu com o desafio de combater o chamado esquadrão da morte.
Investigou a violência de agentes policiais que despejavam cadáveres de criminosos comuns ou acusados de cometer delitos nas periferias.
Em suas memórias, Bicudo confidenciou que a consciente decisão de romper com uma atuação meramente burocrática no Ministério Público foi inspirada por um artigo de Miguel Reale, publicado em 1969, em que, ao tratar do esquadrão da morte, realçava: “Creio que já silenciamos em demasia e devemos todos nos penitenciar de tão longa omissão”.
Foi com a mesma convicção que Bicudo teve destacada atuação nos poderes Legislativo e Executivo.
Deputado por dois mandatos sucessivos pelo PT, centrou seus esforços em propostas visando reformas institucionais.
Lutou pela mudança do Judiciário, guiado pela ampliação do acesso à justiça e por transformar o STF em verdadeira corte constitucional. Lutou pela reforma da segurança pública, advogando a desmilitarização da Polícia Militar e sua desvinculação do Exército, a profissionalização da Polícia Civil e a unificação de ambas.
Em 1996 foi aprovada a chamada Lei Bicudo, que finalmente transferiu da Justiça Militar para a Justiça Comum o julgamento dos crimes dolosos contra a vida cometidos por policiais militares, constituindo um importante avanço no combate à impunidade.
Devoção à causa dos Direitos Humanos |
Na Câmara dos Deputados foi presidente da Comissão de Direitos Humanos, tendo promovido a realização de um tribunal simbólico para demandar a punição dos responsáveis pelos massacres de sem-terra de Corumbiara e Eldorado do Carajás. Presidiu, ainda, um Tribunal Interamericano sobre o Trabalho Infantil nas Américas.
No Executivo, atuou no governo Carvalho Pinto, que, no marco das inovações do planejamento estratégico, veio a criar a Fundo de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo.
Na gestão municipal de Luiza Erundina (PT), assumiu a Secretaria Municipal dos Negócios Jurídicos e na de Marta Suplicy foi vice-prefeito, contribuindo com a fundação da Comissão Municipal de Direitos Humanos de São Paulo, em 2002.
Participou ativamente da criação do PT em 1980, tendo sido dirigente nacional e municipal do partido e membro da Direção Nacional por 18 anos, tendo deixado o partido em 2005.
Já nonagenário, foi um dos signatários da ação que provocou o impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT), o que surpreendeu antigos aliados de esquerda.
Na área dos direitos humanos, dedicou-se ao Centro Santo Dias, fundado em 1980, para socorrer as vítimas de violência policial.
Era um dos quadros mais importantes do PT dos bons tempos |
Também atuou junto à Comissão Teotônio Vilela, criada em 1983, com o objetivo de combater a violência nas delegacias, cadeias, penitenciárias e manicômios.
Participou, ainda, da Comissão Justiça e Paz, fundada em 1972, e foi membro da Comissão Interamericana de Direitos Humanos —importante órgão para a democratização nas Américas.
Participou, ainda, da Comissão Justiça e Paz, fundada em 1972, e foi membro da Comissão Interamericana de Direitos Humanos —importante órgão para a democratização nas Américas.
Bicudo defendeu dom Paulo Evaristo Arns, quando processado por calúnia pela publicação do livro Brasil: Nunca Mais, retrato da violência da tortura, dos desaparecimentos forçados e dos assassinatos do regime militar ditatorial. Movido pelo ideal cristão, somou-se à Igreja Católica no trabalho das pastorais sociais.
Em suas memórias, Hélio Bicudo afirma ser sua tarefa “lutar por direitos”, procurando “nunca negligenciar este dever”.
Ao final, conclui: “Valeu a pena defender o que era necessário ser defendido, e, sobretudo, aqueles que se encontravam sem defesa”. (por Flávia Piovesan)
4 comentários:
Pena que no crepúsculo da vida sujou sua biografia sendo coautor de uma peça farsesca juntando-se a figuras patéticas e reaças empedernidos.
Eu falo um pouco sobre isto no post seguinte.
Mas, não acredite na propaganda petista, é enganosa como sempre.
Os motivos alegados para o impeachment não eram "farsescos". Apenas, nunca haviam sido aplicados neste sentido. Ficou aquela impressão de "aos amigos tudo, aos inimigos a lei".
A condenação do Lula, idem. Houve rigor inusitado, mas não uma violação da lei.
Eu não gosto que a esquerda incorra nesses simplismos demagógicos, pois começa a convencer só os desinformados e os mal informados.
Poderia dizer que os inimigos foram com uma lupa procurar alguma justificativa para o que queriam fazer e acabaram encontrando.
Mas, dizer que a lei não contemplava nem o impeachment nem a condenação do Lula é bobagem. Aliás, em nossas confusas leis os juristas encontram quase tudo de que necessitam para seus casos, só que às vezes os adversários encontram também. São um samba do crioulo doido.
Ah, percebo que deixei de dizer 2 coisas na resposta ao anônimo de cima.
1) Evidentemente, nos dois casos em questão se trataram de processos POLÍTICOS. A Dilma perdeu a presidência porque não conseguiu que sequer um terço dos deputados votasse a favor dela; porque:
a) colocou o Brasil na pior recessão de sua história e não estava mais nem mesmo tentando reverter o quadro, pois só se ocupava, obsessivamente, da inútil batalha para tentar evitar o impeachment; e
b) porque, com mais 2 ou 3 meses de piora na situação econômica, começariam os saques, depredações e revoltas. Então, para derrubá-la, foram procurar justificativas legais, encontraram umas fraquinhas mas que dava para sustentar, e as usaram.
2) Sempre desconfiei de que nossas leis são confusas e até conflitantes (têm dispositivos que contrariam um ao outro) exatamente para destacar o trabalho dos advogados. O melhor advogado, explorando com mais perícia as contradições existentes, prevalece. Portanto, a parte mais rica prevalece, pois é a que pode bancar o melhor advogado.
Os amigos que viraram inimigos. É bom que se diga.
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