(continuação deste post)
A ABSOLUTA NECESSIDADE HISTÓRICA DE UMA NOVA CONSCIÊNCIA SOCIAL – O espírito do tempo atual está prenhe de transformação social; o exemplo mais palpável disto é a tragédia social e ecológica que se abate sobre todos nós.
Há, portanto, por absoluta necessidade histórica, uma nova consciência social em gestação, derivada de uma capacidade de produção tecnológica de bens e serviços que mostra a incongruência de determinados modos de comportamentos sociais que já não se coadunam com a consciência social decadente anterior.
Então,
Então,
— se jornais impressos são substituídos por jornais eletrônicos;
— se bombeiros heróis que enfrentaram a morte diante de um desmoronamento fatal, como aqueles que sucumbiram nas torres do World Trade Center, são agora substituídos por robôs inteligentes que poupam vidas;
— se a comunicação eletrônica é imediata e visual, portanto bem diferente daquela usada pelo soldado grego que correu 42 km para anunciar a vitória de Atenas sobre os persas em Maratona;
— se o sistema de correio postal é residual em face da comunicação eletrônica instantânea (os e-mails);
— se médicos fazem cirurgias por intermédio de equipamentos mecânicos;
— se já chegamos com nossos equipamentos a Marte;
— se temos capacidade de produção de bens e serviços superior à satisfação das necessidades dos nosso 7,6 bilhões de habitantes, dentre tantas outras evidências do alto grau de desenvolvimento tecnológico do saber adquirido pela humanidade,
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perguntamos:
— Por que não somos capazes de prover o sustento cômodo de todos os seres humanos existentes no planeta Terra?
— Por que relutarmos em viver socialmente sob o novo espírito do tempo que se delineia e que deve substituir o atual e trágico espírito do tempo?
— Por que continuarmos a insistir num modelo sócio-político-econômico esgotado e que, por mais que se usem urnas eletrônicas para a escolha pelo voto de representantes do povo (que somente representam uma ordem institucional falida e que não se coaduna com a realidade do saber adquirido pela humanidade), está mais para o espírito do tempo da consciência social iluminista da revolução burguesa republicana francesa do final do século 18 do que para a chamada pós-modernidade?
— Por que temos que ser induzidos a assistir a um debate político que falseia ou omite as verdadeiras causas das precárias condições existentes de vida social, prometendo-nos um futuro próspero, mas que, na verdade, será sombrio a se permanecer com essa mesma lengalenga?
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Há momentos na história da humanidade que condensam toda uma trajetória de acontecimentos sociais apontando para o esgotamento de um modelo. Tal condensação, no atual estágio do desenvolvimento capitalista, traduz-se numa única palavra, crise.
Tal crise, já em curso, evidencia-se em três aspectos distintos, concomitantes e conjugados, quais sejam:
— barbárie social;
— intensificação das guerras por hegemonia econômica de regiões, com aceno para uma guerra nuclear (as ameaças são cada vez mais frequentes); e
— e desequilíbrio ecológico planetário.
São fenômenos que indicam a possibilidade de eliminação da vida animal e vegetal planetária, impondo, portanto, a necessidade de superação urgente do modelo capitalista, cujo móvel funcional (forma e conteúdo) tornou-se obsoleto.
Não querermos ver o que salta aos olhos e não nos debruçarmos sobre a análise da crise estrutural e suas causas mais profundas (não apenas periféricas, como querem os políticos reformistas ou conservadores), no sentido da sua superação, é atitude suicida, ou ainda, para os conscientes omissos, é um crime de lesa-humanidade.
A obsolescência do atual espírito do tempo reside no fato de que o valor, expresso na mercadoria e no dinheiro, já não conta com a substância vital da sua formação constitutiva, o trabalho abstrato, de vez que foi substancialmente substituído pelo trabalho morto (das máquinas) como nunca antes havia sido e, assim, todo o edifício jurídico-institucional construído ao seu derredor desmorona irremediavelmente.
Aquilo que antes pôde crescer, embora de modo segregacionista (a riqueza abstrata sempre correspondeu a um mar de pobreza material), agora já não pode mais sequer existir como fator social minimamente eficaz.
O ato de produzir para vender corresponde a um fetiche macabro e a forma-valor torna-se obsoleta como modo de mediação social na pós-modernidade, vivendo o seu ocaso.
Superemo-la a tempo e deixemos nascer essa criança que está desenvolvida no ventre do novo espírito do tempo e que clama pelo sopro da vida. (por Dalton Rosado)
2 comentários:
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Bom artigo Dalton.
Nele estão quatro perguntas.
Se bem entendi a sua respostas para todas elas é: porque produzimos para vender.
Aproveitando-me da eterna problematização, que é sua praia, também pergunto:
Por que produzimos para vender?!
Não me leve a mal. E nem me queira mal por isso. Mas, espero instigá-lo a responder a essa pergunta de fundo e, quem sabe, fazê-lo pensar a respeito de quem é este que produz para vender.
Que em todos os seus comportamentos mostra o viés da competição, do medo, da cobiça e da memória. Que é dividido e, assim, nem sequer se pode dizer que seja um indivíduo. Que só existe se for em relação a alguma coisa. E que pensa que é o que outrem diz que ele é.
Talvez você perceba que, para lá do comezinho viver social-econômico-político, há algo que perdeu-se de si na dialética infindável com a qual busca definir-se como ser.
Caro SF,
o intercâmbio de objetos de consumo entre os seres humanos de comunidades separadas é algo salutar e necessário. As regiões do mundo, principalmente nos continentes ligados pelos dois meios de transporte conhecidos (marítimo e aéreo), necessitam que seus produtos sejam levados para o atendimento do consumo.
O intercâmbio pode e deve ser feito sem a mediação da forma-valor. O intercâmbio dos produtos transformados em mercadorias, e mensurados por um determinado valor que estabelece diferenciações quantitativas e qualitativas, embute um conceito segregacionista que nasceu do sentimento escravagista no qual alguns seres humanos submetiam seus semelhantes.
A compra e venda de mercadorias nada mais é do que uma troca quantificada em valor, e se constitui como o moderno modo de escravização no qual os trabalhadores assalariados, produtores de valor, não recebem o quantum de valor produzido, e é isso que provoca a acumulação do capital.
É dentro de uma lógica que atingiu seu limite existencial graças às suas contradições internas, funcionais, que o próprio capital se volta agora até mesmo contra os próprios controladores controlados do capital (a agressão ecológica, por exemplo, atinge a todos indistintamente), que já não podem manter o mínimo equilíbrio social de outrora e se vêem ameaçados de muitas formas (a rejeição européia aos imigrantes da periferia do capitalismo é sintoma da atual luta entre despossuídos e possuidores).
É evidente que caminhamos para a abolição dessa coisa macabra chamada compra e venda que parece a nós como natural e indispensável, como se sempre houvesse existido historicamente (que não é verdade), mas que é o instrumento de toda a segregação social moderna e carrega em si uma essência destrutiva e autodestrutiva.
O escambo dos primórdios, mesmo que ingênuo, já era um modo de relação social resultante da escravização em curso e a semente de todo mediação social segregacionista que viria a ser feita pela forma-valor desenvolvida.
Um abraço e é bom ler os seus questionamentos novamente.
Dalton Rosado
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