Vinícius Torres Freire |
VELAS PARA LULA E A
ESQUERDA NO ESCURO
A pichação velha diz R$ 3,20, jamais. Está lá desde junho de 2013, no cruzamento da avenida Paulista com a rua da Consolação, centro de São Paulo. Era um mote contra o aumento de vinte centavos das passagens.
O pixo tem efeito hipnótico. Sempre me faz perguntar que fim levou tudo isso. Nesta semana, me lembrou dos secundaristas que ocupavam escolas em protesto contra a reforma do ensino médio, a PEC do teto de gastos etc. Quanto tempo faz isso? Dois, três anos?
Faz apenas um ano, neste outubro. A greve grande de abril, contra a mudança na Previdência, parece igualmente remota. Ajudou a plasmar a péssima imagem pública das reformas e a assustar parlamentares, que assim arrumaram um pretexto quase final para não bulir com as aposentadorias. Desde então, a esquerda entrou de vez em coma, no hospício ou fugiu para as montanhas.
O movimento dos secundaristas virou fumaça, como se esvaneceram no ar os jovens do MPL, Movimento Passe Livre, o dos vinte centavos, que riscou o fósforo na casa cheia de gás sem cheiro que era o junho de 2013.
Em outubro, os secundaristas ocupavam mil escolas pelo país, a maioria no Paraná. O movimento pipocava desde o fim de 2015, quando estudantes paulistas tomaram umas 200 escolas, derrubaram um secretário da Educação e o prestígio de Geraldo Alckmin. A história, porém, não poderia render nem rendeu mais do que autocongratulações esquerdistas iludidas sobre o renascimento do movimento estudantil e louvações do idealismo renovado da garotada, essas cafonices.
As centrais sindicais tentaram reviver a greve de abril nos meses seguintes, o que deu em grande fiasco. A reforma trabalhista passou sem um pio das ruas. Os sindicatos ora se limitam a pedir um capilé a Michel Temer, a volta de alguma contribuição sindical. As centrais se tornaram o Centrão do que um dia foi o movimento dos trabalhadores.
Os trabalhadores se viram. Em 2016, houve mais de 2.000 greves, segundo o Dieese, inédito desde FHC 1. As paralisações haviam minguado para 400 ao ano sob Lula e voltaram a crescer em 2010.
Repressão desembestada em 2013. O PT lavou as mãos... |
Nos tempos idos da alegria petista, até 2013, a maioria das greves reivindicava reajuste de salário. No ano passado, a maioria cobrava salários atrasados. No entanto, mal se ouviu falar dessas greves de 2016, mesmo da boca de sindicalistas. Para espanto de gente com ideias antigas, a esquerda se divorcia do trabalho.
O PT, entre a rua do hospício e a praça da cadeia, passou os meses recentes a bajular o ditador do horror venezuelano, Nicolás Maduro, e no mais limita a Lula lá sua esperança de evitar ruína ainda maior nas eleições de 2018. Seus parlamentares negociam acordões, como a reforma política salafrária.
Amigos abnegados da militância de esquerda contam que coletivos de periferia e outros movimentos novos estão vivos, embora pequenos, mas se articulando, evoluindo nos casulos para emergirem depois do fim do período de trevas, quem sabe em meia dúzia de anos. Por ora, parecem mesmo na periferia, à margem.
Do centro à extrema-direita, articulam-se novidades ou a ressuscitação de frankensteins das trevas do inferno. A esquerda oficial acende velas para seu morto vivo, Lula. No mais, escuridão.
Celso Lungaretti |
Observação – Como publiquei este artigo do Vinícius Torres Freire para estimular a reflexão e o debate sobre os muitos aspectos importantes que levanta, não faria sentido colocar de imediato minha visão, que nem sempre coincide com a dele.
Mesmo assim, há algo entalado na minha garganta, que eu me sentiria mal se não destacasse desde já: a luta contra o aumento da tarifa dos transportes coletivos e o #naovaitercopa poderiam ter ensejado a afirmação de uma nova esquerda, que oxigenaria nossas fileiras, revitalizando-as quando já marchavam para a mesmice e a incapacidade de suscitar esperanças (conforme se constataria na campanha presidencial de Dilma Rousseff em 2014).
O PT reagiu pessimamente à chegada desses jovens rebeldes de esquerda, cruzando os braços enquanto eram reprimidos com violência extrema e suas manifestações, criminalizadas; solidarizando-se de preferência a algum oficial da PM levemente ferido do que às dezenas de estudantes e jornalistas barbarizados pela repressão; e ajudando a aprovar uma fascistoide lei antiterrorismo.
Conseguiu intimidar tão bem os idealistas emergentes do nosso lado que, em 2016, só restavam na avenida Paulista ativistas do outro lado. [A ponto de o PT ter de recorrer, na vã tentativa de equilibrar a disputa, a uma massa comprada que não foi páreo para os direitistas...]
Tratou-se da chamada mágica besta. Tanto que, como diz outro velho clichê, o castigo veio a cavalo...
4 comentários:
E na ocasião dessas gigantescas manifestações,o burgomestre paulistano estava em Paris com um santo tucano.
De lá disse que não recuaria nos R$ 0,20. Politicamente, começou mal, que, entre outros grandes equívocos amadores, políticos e administrativos [ o famigerado 50 Km nas marginais é um exemplo], redundou na derrota que desmanchou os sonhos petistas. Não conseguiu passar para o segundo turno na disputa com Doria.
A direção do PT perdeu toda noção de entrosamento com as massas. Imagine que depois dessa tremenda derrota na tentativa da reeleição existe um blog com o nome HADDAD TRANQUILÃO, destacando a figura do ex prefeito. Tranquilão em quê?
O Haddad era detestado pelos paulistanos típicos, daí ter conseguido o prodígio de entregar o ouro já no 1º turno. Só quem gostava dele era a esquerda chique, politicamente correta.
As faixas para ciclistas dificultavam o tráfego em vias que, em si, já eram muito congestionadas. E eram bem pouco utilizadas nos dias úteis. Como foram implantadas de forma açodada, sem planejamento consistente, mataram uma boa ideia. Deveriam tê-las deixado restritas aos sábados, domingos e feriados.
Quanto à velocidade exageradamente lenta nas marginais, levava os motoristas a dirigirem de forma truculenta ao extremo, quase todos furiosos. Estudos, os governantes encomendam do jeitinho que precisam para servirem a seus fins. Mas, quem tem prática de volante, não se deixa enganar. Aquilo era uma baita artificialidade.
Se nem em Sampa ele emplacou, vai emplacar no Brasilzão? Nem a pau, Juvenal. Até porque o jeitão elitista dele não tem absolutamente nada com a "cara" do PT. O Haddad mais parece um FHC 30 anos mais moço...
Creio que junho de 2013 não poderia ser estopim da nenhuma "nova esquerda" pois o sentido das manifestações foi sempre tentar criar um clima de caos em um país que, bem ou mal, estava atacando o problema da má distribuição de renda através de politicas sociais inclusivas dos excluídos, melhoria salarial proporcionada pelo pleno emprego e inserção maciça de jovens pobres nas universidades. Tais políticas incomodavam a elite e a parte fascista da camada média da sociedade. Foram eles que chamaram o governo nacionalista de Getúlio Vargas de "mar de lama" e apoiavam Carlos Lacerda assim como fizeram as manifestações contra João Goulart e contribuíram para a queda dos dois líderes trabalhistas. São os "coxinhas" de hoje, que vêem na ascensão dos pobres uma ameaças aos seus privilégios na sociedade brasileira. As reivindicações sobre transporte público rapidamente foram substituíidas pela pauta da corrupção, sempre tão cara a direita. Foram ideologicamente organizadas pela mídia, que teve treinamento e logística do Instituto Millenium. A sociedade civil "coxinha" foi arregimentada por movimentos "fake" como MBL, Revoltados On Line e Vem pra Rua. A aliança com setores "coxinhas" do MP gerou a autoritária PEC 37 e a famigerada "Operação Lava-Jato". Tudo organizado pelo governo estadunidense, com as petroleiras dos "Koch Brothers" sendo apenas uma das arregimentadoras e financiadores de "lideranças" como Kim Kitaguri e seus asseclas. O grande erro do PT no processo foi não agir de modo firme para derrotar a conspiração. Com a ABIN, setores republicanos da PF seriam muito fácil desmascarar o Millenium e os tais "movimentos" que promoviam as manifestações. Um ministro da Justiça fraquíssimo, José Eduardo Martins Cardoso, achava que as agressões a pessoas vestidas de vermelho, bonecos de Lula e Dilma pendurados e enforcados em viadutos e incêndios criminosos a sedes do PT eram manifestações "republicanas". Uma Lei de Mídia, que tornasse a radiodifusão pública majoritária no Brasil (como é nos países mais civilizados da Europa) acabaria de vez com a força da manipulação midiática que buscava criminalizar o PT e toda a esquerda. Não foi por falta de alertas. Desde blogueiros independentes, passando por publicações como a revista Rolling Stone estadunidense e acadêmicos como Luiz Alberto Moniz Bandeira (veterano estudioso das relações Brasil-EUA) todos alertaram para a natureza nada espontânea das manifestações e a semelhança com a ação da CIA em "revoluções coloridas" em países como Bolívia, Ucrânia, Egito e outros. Quem agiu com firmeza, como os governos bielo-russo, boliviano e venezuelano venceu os conspiradores. Já os governos paraguaio, hondurenho e brasileiro foram derrotados. Agora, está como os inimigos de um Brasil justo e soberano querem. As riquezas naturais estão nas mãos de estrangeiros e os pobres só entram em aeroportos e faculdades para lavar os banheiros e limpar o chão.
Marcos,
vc repete todas as justificativas que o PT utilizou para voltar as costas a uma juventude DE ESQUERDA, promissora e combativa, unica e tão somente porque não vinha ao encontro do seu projeto de poder. Mas, a História já deu resposta suficiente a esta racionália de fracassados. Então, como Cristo prefiro deixar os mortos enterrarem seus mortos, enquanto cuido dos vivos.
Temos de tentar colar os cacos da viola, atraindo os jovens para o nosso lado e afastando os velhos esquerdistas que se aburguesaram e perderam o ânimo de lutar pela revolução.
O período de hegemonia petista está encerrado e seu saldo foi PERDA TOTAL. Pior do que praga de gafanhoto. Temos de reconstruir o movimento revolucionário praticamente da estaca zero.
Abs.
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