nada no bolso ou nas mãos,
eu quero seguir vivendo,
amor, eu vou.
Por que não? Por que não?"
(Caetano Veloso, Alegria, Alegria)
Que bom se a alegria habitasse em nossos sentimentos de modo mais permanente do que a tristeza, e se esta última somente existisse de maneira fugaz!
Como é bom poder dar um testemunho da existência da alegria como, por exemplo, daquela que invadiu a alma do compositor Paulo Soledade ao sair do hospital aos 40 anos, curado de uma tuberculose, e que em 15 minutos de alegria incontida compôs o clássico da música popular brasileira Estão voltando as flores, gravada na voz belíssima de Helena de Lima, e que evoca a alegria de viver, nas suas frases:
Como é bom poder dar um testemunho da existência da alegria como, por exemplo, daquela que invadiu a alma do compositor Paulo Soledade ao sair do hospital aos 40 anos, curado de uma tuberculose, e que em 15 minutos de alegria incontida compôs o clássico da música popular brasileira Estão voltando as flores, gravada na voz belíssima de Helena de Lima, e que evoca a alegria de viver, nas suas frases:
"Vê, estão voltando as flores;
Vê, nesta manhã tão linda;
Vê, como é bonita a vida;
Vê, há esperança ainda.
Vê, as nuvens vão passando;
Vê, o novo céu se abrindo;
Vê, o sol iluminando;
Por onde nós vamos indo."
Que bom poder falar da alegria! Porque, afinal, como diz a conhecida, repetida e bela metáfora: "ainda que o sistema insista em roubar as rosas dos nossos jardins, ele não pode impedir a chegada da primavera".
Que bom poder falar da alegria! Porque, afinal, a nossa denúncia do mal não é para exaltar a miséria social, a ignomínia, o egoísmo, a prepotência do poder político e econômico, a mesquinhez, mas o seu contrário, ou seja, a esperança e a crença no ser humano.
Quero falar de alegria, porque o revolucionário é um ser que vive um milhão de anos de felicidade no momento fugaz em que se recusa a se ajoelhar diante da injustiça, ainda que isso lhe custe caro, pois, afinal, o amor e a solidariedade moram nos corações revolucionários, e não o ódio e a ambição.
Quero falar da alegria simplesmente porque ela somente é integralmente possível numa consciência em paz.
Quero falar da alegria porque existem pessoas que conseguem enxergar beleza num gesto simples de fraternidade e se emocionar com ele.
Quero falar da alegria porque existem pessoas que conseguem enxergar beleza num gesto simples de fraternidade e se emocionar com ele.
Quero lembrar com alegria que a bomba de Hiroshima formou uma rosa de fogo como a nos avisar que a vida é mais importante do que a morte, e que a morte, após uma vida fraternalmente bem vivida, é suave, e o é exatamente pelo exemplo que encerra e fica.
Quero falar da beleza da alegria do menino negro e de origem humilde que vai superar todas as dificuldades e chorar de alegria com a conquista da medalha de ouro nos jogos olímpicos, pois no esporte (ainda que transformado em mercadoria e com o uso desonesto do doping) pode prevalecer a capacidade física de um filho do povo sobre o poder instituído, tal qual o do jamaicano Usain Bolt.
Quero falar da alegria tropicalista preguiçosa, do jornal Sol em que trabalhava a namorada do Caetano Veloso, vivo contraste com a caretice dos que só traziam amargas bem comportadas, enquanto o sol, astro-rei, batia em cheio nas bancas de revistas...
Quero falar da alegria do riso sarcástico da música A banca do distinto, de Billy Blanco para Dolores Duran, sua namorada de então, ironizando o ricaço arrogante que sempre a tratava com injúria racista durante o show, e sob o beneplácito do dono da boate, e que sequer percebeu a crítica que lhe fora feita nos versos ferinos:
Quero falar da alegria do riso sarcástico da música A banca do distinto, de Billy Blanco para Dolores Duran, sua namorada de então, ironizando o ricaço arrogante que sempre a tratava com injúria racista durante o show, e sob o beneplácito do dono da boate, e que sequer percebeu a crítica que lhe fora feita nos versos ferinos:
"Não fala com pobre, não dá mão a preto
Não carrega embrulho
Pra que tanta pose, doutor
Pra que esse orgulho
A bruxa que é cega esbarra na gente
E a vida estanca
O enfarte lhe pega, doutor
E acaba essa banca
A vaidade é assim, põe o bobo no alto
E retira a escada
Mas fica por perto esperando sentada
Mais cedo ou mais tarde ele acaba no chão
Mais alto o coqueiro, maior é o tombo do coco afinal
Todo mundo é igual quando a vida termina
Com terra em cima e na horizontal"
Quero dizer que a alegria é riqueza sensível à alma, imaterial, a exemplo do conteúdo da letra da música Testamento de Vinícius de Morais na qual ele ironiza a avareza da riqueza abstrata e real dizendo:
"Você que só ganha pra juntar
O que é que há, diz pra mim, o que é que há?
Você vai ver um dia
Em que fria você vai entrar
Por cima uma laje
Embaixo a escuridão
É fogo, irmão! É fogo, irmão!
(...) Você que não pára pra pensar
Que o tempo é curto e não pára de passar
Você vai ver um dia, que remorso!
Como é bom parar
Ver um sol se pôr
Ou ver um sol raiar
E desligar, e desligar
Você que só faz usufruir
E tem mulher pra usar ou pra exibir
Você vai ver um dia
Em que toca você foi bulir!
A mulher foi feita
Pro amor e pro perdão
Cai nessa não, cai nessa não
(...) Você que não gosta de gostar
Pra não sofrer, não sorrir e não chorar
Você vai ver um dia
Em que fria você vai entrar!
Por cima uma laje
Embaixo a escuridão
É fogo, irmão! É fogo, irmão!"
Quero que a alegria seja perene na sua eterna capacidade de ser retomada, transformando a sua inevitável finitude num breve lapso de tempo apenas para nos mostrar que existe, e contrariando o poeta, que não nos seja breve como "a gota de orvalho numa pétala de flor que brilha tranquila, e depois de leve oscila e cai como uma lágrima de amor".
Quero, por fim, que a alegria seja um estado de permanência, ainda que entremeada de momentos de tristeza, e que da mesma forma como o grande só existe como referência do pequeno, que a tristeza seja apenas o perecedouro tempero existencial da própria alegria e da felicidade! (por Dalton Rosado).
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