domingo, 31 de julho de 2016

CRÔNICA DA CRIMINALIDADE HEGEMÔNICA E DA CIVILIZAÇÃO AGÔNICA

MUITAS CAUSAS...

"Se disserem que o crime 
não compensa, você tem 
de lembrar que é porque 
quando compensa não é 
crime." (Millôr Fernandes)
As sociedades mercantis, capitalistas, são fábricas de ricos bandidos de colarinho branco, e cada vez mais, do crime organizado por bandidos que querem ficar ricos e de delinquentes juvenis pobres atraídos pela busca do dinheiro farto que lhes falta. 

O dinheiro é o móvel primário do crime e a crescente decrepitude moral social decorre da descriminalização da apropriação indébita de parte do trabalho abstrato pelo capital, que assim oficializa e valida a lei de Gerson (expressão inspirada nos comerciais de cigarro em que o futebolista campeão de 1970 aparecia dizendo que gostava de sempre levar vantagem)

O problema se agrava porque à tradicional desigualdade social agora se acresce o desemprego estrutural. E como, enquanto houver dinheiro, ele não será suficiente para todos – principalmente agora, na sua fase de impossível reprodução no nível de exigência da expansão monetária válida advinda da chamada economia real –, o crime campeia solto.    

Primeiramente, devemos reafirmar o nosso repúdio ao crime generalizado em todas as esferas sociais. Ele tem como exemplos midiáticos: 
  • a corrupção política; 
  • a cooptação de jovens para a prática de barbáries pseudo-religiosas como a dos fundamentalistas islâmicos, que se constituem no estágio mais visível do atual retrocesso civilizatório da humanidade; 
  • e os recorrentes latrocínios no Brasil (assaltos à mão armada com mortes, e mais de três assaltos a bancos por dia), que pontuam como evidências de uma patologia social profunda. 
Destarte, devemos nos debruçar sobre as razões do terreno fértil sobre o qual o crime planta as suas sementes de barbárie e ódio cego. Não podemos fugir da análise das causas estruturais, como se elas não existissem e a criminalidade derivasse de uma patologia mental criminosa coletiva, desvinculada de nossa ação ou omissão, como se fora mero caso de polícia. 

O aumento da criminalidade tem causas e razões sociais indesculpáveis, das quais somos parte, por via da nossa servidão voluntária ao sistema; fugir de sua discussão é omissão covarde ou resultante de uma inconsciência social. Devemos encará-la, até porque ela está batendo à nossa porta.

Entre outros fatores, as matérias-primas dessa indústria da criminalidade e da decadência moral são o desemprego estrutural e o subemprego; a falência dos serviços públicos essenciais (educação, saúde e segurança pública); e a precariedade da previdência social, que, com sua anunciada futura falência, angustia os velhos aposentados já empobrecidos. 

Vejamos alguns das condicionantes do aumento da criminalidade:
  • o desemprego, numa família, que somente pode manter sua subsistência com o dinheiro do salário, significa desespero. E o desespero, sem consciência das formas de superação do problema (que consiste na superação do próprio emprego), é um significativo  fator de indução ao crime;
  • o despreparo intelectual, numa sociedade de produção tecnológica de mercadorias e serviços, inviabiliza o acesso dos analfabetos funcionais à inclusão social; 
  • a perda da capacidade do Estado de prender, processar e condenar (o uso recorrente das tornozeleiras eletrônicas é exemplo disso), pois um preso é mais caro do que um professor denuncia a falência sistêmica de modo ilustrativo e irrefutável;
  • lei de Gerson, como norma de conduta moral, é referência comportamental criminosa.
A resultante disso tudo é a barbárie generalizada que vemos pela televisão ou ao abrirmos a janela, e que não é apenas culpa de um ou outro governo (embora o agrave quando incompetente e corrupto), mas de um modelo social que se tornou anacrônico. 

E, se assim é, a questão central não nos remete à escolha eleitoral dos nossos dirigentes, numa transferência de responsabilidade cômoda e inócua, mas sim à compreensão da nossa responsabilidade com a natureza e essência do nosso modo de ser social, bem como da necessidade de sua superação por algo que seja consentâneo com o conceito atual de modernidade, apenas existente nos ganhos admiráveis em ciência e tecnologia, mas que nunca chegam ao campo social. 
.
... E UM EFEITO.
(ou: O TRISTE FIM DO ROSENILDO)

Rosenildo era filho de Rosa Maria e José Nildo, que se casaram no final dos anos 70, quando os dois vieram do interior para Fortaleza em busca de melhores dias. Nasceu em Fortaleza, em 1983, e desde então a família morava na favela Cidade Aflita, num barraco de alvenaria, sem reboco externo, com piso de cimento e três pequenos cômodos, juntamente com seus três irmãos. 

Agora no ano de 2016, José Nildo, semialfabetizado, que contava 63 anos e havia trabalhado a vida inteira como ajudante de pedreiro, jardineiro, vigia e zelador, vinha tendo problemas de saúde que lhe foram causados pelo diabetes e pressão alta. Estava sendo (des)tratado pelo SUS – Sistema Único de Saúde quando soube da sentença em uma ação de reintegração de posse promovida pelo proprietário do terreno, que ordenava a desocupação de todos os moradores da favela em 90 dias. A família passou a viver um pesadelo.

Rosenildo era bom de bola, o que havia gerado na família dele a esperança de que se tornasse um Neymar, para ganhar muito dinheiro. Mas, aos 33 anos, era apenas titular do time da Sociedade Esportiva Cidade da Esperança; o sonho dourado de virar celebridade esportiva havia se frustrado. 

A situação pessoal e familiar de Rosenildo, que queria casar com Maria Rita, com quem já namorava há oito anos, colocara-o num impasse: repetir a vida do seu pai, que após anos de trabalho, já velho e doente, teve como resultado um despejo e um atendimento médico público como o que conhecemos, ou procurar uma saída do tipo se vira nos trinta

Revoltado e perplexo, Rosenildo aceitou a proposta de entrregar drogas para os clientes de um conhecido traficante local, apelidado Cara de Cavalo. Inicialmente ganhou um dinheiro fácil e até comprou uma moto. Já se preparava para o casório quando foi instado, sob ameaça, a fazer uma parada para seu chefe. 

Tratava-se do recebimento de cocaína que chegria de um país da América do Sul, com a promessa de ganhar grana suficiente para resolver o problema do despejo da família, cuidar melhor da saúde do seu pai e, ainda, casar. 

O sonho se desfez quando a polícia, avisada por traficantes concorrentes que mantinham conluio com os hôme, fez uma batida e prendeu os envolvidos. Rosenildo, tentando fugir, foi atingido por um tiro e morreu no local.
[Esta é mais uma desesperada e repetida notícia da nossa decadente sociedade mercantil. Diante de tantos fatos e evidências, qual a eficácia do voto na escolha dos prefeitos e vereadores nas próximas eleições que se aproximam, independentemente de pessoas e partidos?] Por Dalton Rosado
.

.
De frente pro crime ('Tá lá um corpo estendido no chão")

6 comentários:

Valmir disse...

aqui em Minas já tomaram as medidas necessárias:
1- assalto ao cliente que acaba de sair do banco (proíbem uso de celular)
2- morticínio nas estradas causadas por loucos e bêbados em geral (farol aceso de dia)
3- violência em geral (proíbem motoristas de caminhão usar a faquinha de picar fumo e descascar laranja)
4- assassinatos em geral (o publicitários oficiais recomendam a todos contar até dez antes de matar alguém)
como alguém pode duvidar do empenho do governo em resolver os problemas???

william Orth disse...

Caro Celso sem querer fugir do tema. Há cerca de 15 anos ou mais, ouvi em um programa na Joven Pam nas palavras de Israel Gimpel (já falecido) correspondente no Rio de Janeiro uma informação que da o verdadeiro peso à frase " levar vantagem em tudo". Segundo Israel , Gerson teria entrado em grande depressão em função desta frase. Pois ficou conhecido como a frase da "malandragem". Disse Gerson:" que foi o maior erro de sua vida ter aceitado fazer a propaganda com esta conotação". Ficou conhecida como "lei de Gerson". No entanto Gerson sempre foi honesto e correto mas levou uma fama que não é verdadeira. Galã mas jamais desonesto .
Abraço.

celsolungaretti disse...

William, certamente o Gerson pensou só na grana que ganharia com aqueles anúncios. Não adivinhava que eles repercutiriam tanto, nem avaliou se é uma boa alguém personificar a amoralidade. O pior é que o povão confunde o personagem como o ator. Muita gente ficou pensando que ele era assim na vida real. Já houve até caso de hostilizarem vilã de telenovela na rua...

celsolungaretti disse...

Caro Valmir,

Os governos são parte do problema e não a solução, na medida que existem para dar sustentação ao modo social mercantil que é causa do aumento da criminalidade no seu atual estágio de decadência acelerada. Assim, não são os governos que têm que consertar esse estado de coisas, mas nós mesmos, a partir da nossa consciência sobre a necessidade de superação do modo de mediação social atual (aí incluídos os próprios governos).

Um abraço, Dalton Rosado.

celsolungaretti disse...

AH, IA ESQUECENDO DE DIZER QUE A RESPOSTA ACIMA É DO DALTON ROSADO PARA O VALMIR. RECEBI POR E-MAIL E POSTEI, A PEDIDO DELE.

william Orth disse...

Celso, é verdade.... Segundo fiquei sabendo posteriormente, NINGUÉM mais quis ter o nome Gerson associado a sua empresa ou marca.Teve muita dificuldade de trabalho . Abraço.

Related Posts with Thumbnails