A engrenagem capitalista nas artes tem o toque de Sadim (Midas ao contrário): todo ouro que toca vira cascalho. É interminável a lista de grandes talentos que minguaram por se prostituírem ao cinemão, limitando-se a prover as banalidades inócuas que os espectadores medianos apreciam.
Steven Spielberg ocupa lugar de destaque na relação. Poderia ter feito cinema de verdade, a julgar pelo pique inicial. Mas, o primeiro grande sucesso, Tubarão (1975), foi o último grande filme. Nunca mais deixou de bajular os consumidores em troca de um punhado de dólares.
Steven Spielberg ocupa lugar de destaque na relação. Poderia ter feito cinema de verdade, a julgar pelo pique inicial. Mas, o primeiro grande sucesso, Tubarão (1975), foi o último grande filme. Nunca mais deixou de bajular os consumidores em troca de um punhado de dólares.
Estreou com um filme feito para a TV, tão bom que acabou passando antes pelos cinemas: Encurralado (1971). Vocês podem assisti-lo na janelinha abaixo.
O título original, Duel, é mais apropriado. Caminhoneiro antipatiza com um caixeiro viajante (Dennis Weaver) que buzinou insistentemente pedindo passagem.
Por este único motivo passa a persegui-lo e a hostilizá-lo desmedidamente ao longo da estrada, até o pacato sujeito se convencer de que não tem como escapar do duelo. Só sobreviverá se assumir o desafio.
O título original, Duel, é mais apropriado. Caminhoneiro antipatiza com um caixeiro viajante (Dennis Weaver) que buzinou insistentemente pedindo passagem.
Por este único motivo passa a persegui-lo e a hostilizá-lo desmedidamente ao longo da estrada, até o pacato sujeito se convencer de que não tem como escapar do duelo. Só sobreviverá se assumir o desafio.
Afora a maestria com que Speilberg faz crescer o suspense a cada segundo do seu estranho road movie, há todo um simbolismo por trás da ação, remetendo-nos à história bíblica de Davi e Golias: o vendedor tem o alusivo nome de David Mann e confronta um gigantesco monstro mecânico cujo condutor nunca é visto.
Indo mais além, eram tempos de Guerra do Vietnã e da contestação jovem, que desestabilizavam o mundinho careta (segundo o jargão da época) no qual David Mann se acostumara a viver. Assim como ele, a chamada maioria silenciosa sentia-se repentinamente ameaçada, tendo de travar duelos para os quais não se havia preparado. Encurralado flagra tal desconforto.
Situação semelhante é mostrada no filme que representou um divisor de águas na carreira de Spielberg, Tubarão, quando o perigo inesperado se corporifica num monstro marinho, que também surge do nada e atrai para um duelo mortal o xerife prosaico e sem porte de herói (Roy Scheider).
Maior faturamento da história do cinema até então, tonteou Spielberg, tornando-o um obcecado por bilheterias. A partir de então ele realizaria um sem-número de besteirinhas caça-níqueis, além de recorrer a uma apelação manjadíssima (fazer coro com a cantilena dos judeus, os magnatas que comandam Hollywood) quando se dispôs a obter, custasse o que custasse, o seu primeiro Oscar.
Seu A lista de Schindler desperdiçou uma ótima história e um personagem histórico exemplar ao satanizar demais os nazistas, enfatizar demais suas bestialidades e vitimizar demais suas vítimas, acabando por se tornar esquemático, repetitivo e tedioso .
Essencializado, poderia ter sido uma obra-prima. Não consigo lembrar de um filme mais carente de cortes, tantas são as excrescências (pieguices e redundâncias) a clamarem por exclusão.
Essencializado, poderia ter sido uma obra-prima. Não consigo lembrar de um filme mais carente de cortes, tantas são as excrescências (pieguices e redundâncias) a clamarem por exclusão.
4 comentários:
Ei, Celso, já assistiu a ''O Lobo de Wall Street'', do Scorsese? O que achou?
Celso...algumas coisas vc precisa me explicar melhor: como é possível "satanizar demais os nazistas"??? nem os neonazistas poderiam dizer uma coisa dessas..como alguém poderia fazer isso??? (quando Stalin acusa trotskistas de mancomunados com os nazistas a gente até fica com a pulga trás da orelha é ou não é?)
Esquece que em a A Lista de Schindler Spielberg não refresca em momento algum para os Judeus?
ele os mostra negociando o tempo todo, sua imensa covardia de não reagir, a ação dos Kapó, presos judeus escolhidos pelos nazistas para policiar os outros presos...vou te confessar uma coisa: eu te acompanho, o que publica, pq vc é unica voz que destoa do ramerrão da "esquerda" chapa branca, governista..mas não está isento dos vícios e perversões da esquerda geral: antissemitismo, (pq aqueles árabes loucos seriam preferíveis à hegemonia dos hebreus naquelas bandas lá deles??) e montes de desvios lógicos que as vezes desanimam...
Valmir,
filmes não são redundantes como os sermões religiosos. A LISTA DE SCHINDLER insiste em martelar a crueldade dos nazistas, repetindo um montão de vezes o que só precisaria ser mostrado uma vez. A desumanidade e a bestialidade não podem ser omitidas quando enfocamos o nazismo, mas também não devem ser enfiadas sob nossos olhos a cada 10 minutos. São desagradáveis.
Depois, é claro, isso fazia muito mais sentido quando os judeus eram só vítimas do que agora, quando sabemos que fazem coisas semelhantes com os palestinos. Aí, então, a coisa nos impacta como se eles fizessem questão de nos mostrar tanto o que sofreram para que nos esqueçamos o sofrimento que estão causando agora.
E a inclusão dos pecados dos próprios judeus me pareceu também um álibi, para fingir uma isenção que uma produções hollywoodescas desse porte jamais têm. Encontramos filmes equilibrados sobre o nazismo no cinema europeu (até RETRATOS DA VIDA, do Claude Lelouch, dá de goleada em A LISTA DE SCHINDLER!). Os do EUA têm sempre maior ou menor ranço panfletário.
Abs.
Muito bom!
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