quinta-feira, 15 de outubro de 2015

PIOR DO QUE ESTÁ AINDA DEVE FICAR: RUMAMOS PARA O OLHO DO FURACÃO!

A guerra do impeachment está sendo um pesadelo. Mostra o pior dos nossos Poderes, uma sucessão interminável de chicanas, chantagens, subornos, traições, falácias e desinformação. O abuso de poder está sendo amplo, geral e irrestrito. Ninguém é imparcial, uns conseguem disfarçar sua parcialidade melhor do que os outros. E o País afunda cada vez mais.

A briga de foice no escuro apenas alonga a crise, sacrificando os trabalhadores e o povo. Qualquer cidadão que se posicione a partir da reflexão isenta, ao invés de considerar apenas seus interesses mesquinhos, perceberá que não vai haver governabilidade nem recuperação econômica enquanto o impedimento da presidente que cometeu estelionato eleitoral não passar pelo crivo do Congresso.

Se for impedida, irá para casa. Se for prestigiada, poderá enfim governar. Deveria, se tivesse um mínimo de compaixão pelos coitadezas, submeter-se logo a tal prova dos nove. Mas, foge da batalha digna como o diabo da cruz. 

Prefere as nauseantes lutas na lama que vem travando há vários meses contra os Cunhas da vida, como se o seu verdadeiro problema fossem os caciques adversários e não a devastadora recessão que se abate sobre os brasileiros.

Por isto, ao invés de perder tempo com essas escaramuças sórdidas, prefiro sempre a visão de médio e longo prazos. No deserto de estadistas que é hoje o Brasil, a política se tornou imprevisível e ziguezagueante, mas a economia, não. Esta lida com o concreto, então podemos depreender facilmente aonde nos conduzem os cenários atuais, e quais as consequências que daí advirão, inclusive na esfera política.

Neste sentido, o artigo desta 5ª feira (15) do jornalista econômico Vinícius Torres Freire é simplesmente obrigatório. Merece ser lido com atenção e espírito aberto por todos.

FIM DOS TEMPOS

Por Vinícius T. Freire
"O tempo da política não é o tempo da economia." Até agosto, pelo menos, era o que diziam os líderes do PMDB a fim de espinafrar Joaquim Levy. No tempo do ministro da Fazenda, o governo acabaria antes de a economia se recuperar da recessão, na análise dos caciques maiores.

O tempo da economia não é o tempo da política. Seja qual for o governo em 2016, terá de enfrentar a recessão, a esta altura mais do que encomendada para o ano que vem. Remendos e projetos de reforma que poderiam atenuar a crise não serão aprovados até bem entrado o ano, na expectativa mais otimista.

Caso Dilma Rousseff permaneça no cargo, terá de lidar com o fato de que o número de baixas entre a "população civil", o cidadão comum, estará crescendo com mais rapidez. Muito difícil que não seja assim até meados do ano (quando então o número de baixas ainda continuará crescendo, mas mais devagar).

Suponha-se que isso que vamos chamar sarcasticamente de "elite política" decida não levar Dilma Rousseff para o cadafalso. Uma presidente que não será mais popular do que agora governará pessoas com a vida ainda mais avariada pela crise.

Não há motivos para esperar melhoria material da vida cotidiana.

A renda continuará a cair, devido a mais desemprego, reduções ou reajustes menores de salário, inflação baixando bem menos do que o imaginado.

O total de dinheiro emprestado cai, pois os bancos relutam em emprestar e a taxa de juros é insuportável. Dado que desemprego e quebras de empresas vão aumentar, dificilmente bancos ficarão menos relutantes. Os juros não cairão no ano que vem, pelo menos para todos os efeitos práticos.

As expectativas ruins para a economia não serão aliviadas pela política: haverá ainda zum-zum de deposição ou uma presidente impopular. Logo, difícil acreditar que a confiança do consumidor se recupere do colapso que a abateu ao mínimo que se tem registro.

Neste cenário pavoroso, parece até prosaico citar uma estatística econômica importante da vida real. As vendas nos hiper e supermercados caíam por quatro meses, até agosto. Devem ter caído em setembro.

Note-se a reação de economistas ao resultado das vendas do comércio, divulgado ontem pelo IBGE: o varejo continuará a cair até o final do ano. Para quem se aventura a previsões daí em diante, caem até o Carnaval ou Semana Santa de 2016. O desemprego continuará em alta até o final do ano que vem.

Esse é o cenário de degradação normal (o ambiente é propício a desastres; a inflação pode ganhar ritmo). A sobrevida do governo Dilma Rousseff terá sequelas horrendas.

A política não tem levado em conta que o seu tempo, o seu ritmo, está encomendando recessão ainda maior para 2016 e produzindo ainda mais entulhos que vão dificultar a retomada econômica, que talvez não venha nem em 2017.

Caso a chicana político-judicial-parlamentar redunde na deposição de Dilma Rousseff, o tempo da economia também será curto para os responsáveis e envolvidos. Até agora, todos eles se comportam feito uma malta de irresponsáveis e depredadores do país. É bom que comecem a pensar em um plano do que fazer da terra arrasada. 

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