Ao grande capital agradaria muito o governo Dilma.2 caso o arrocho fiscal estivesse dando certo e a imposição de uma política econômica neoliberal marchasse a contento.
Mas, apesar de todo empenho do Luís Carlos Trabuco e do Roberto Setúbal, os dois maiores bancos privados ainda não determinam os humores nacionais, só mandam nas decisões da Dilma.
Então, a impopularidade extrema da gerentona (o povo não lhe perdoa o estelionato eleitoral, a promessa não cumprida de que sua reeleição evitaria a adoção da austeridade econômica) e o desconforto que a rendição incondicional ao grande capital provoca na própria esquerda chapa branca (pois esta teme os desastres eleitorais que lhe advirão caso sua imagem fique identificada com medidas tão iníquas) simplesmente paralisaram o ajuste fiscal. Ele não anda. E, com isto, a recessão se agrava cada vez mais.
O que temos, portanto, é um vazio de poder. As forças políticas se anulam e a inércia faz a economia deslizar para o abismo.
À medida que todos os índices econômicos piorem, o Brasil sofra sucessivos rebaixamentos por parte das agências de risco, os investidores internacionais retirem seus capitais daqui, o desemprego e a inflação subam às nuvens, o padrão de vida dos cidadãos decaia cada vez mais, etc., o que acontecerá?
O óbvio: saques de supermercados e caixas eletrônicos, manifestações de rua raivosas, convulsão social. Aquilo que o ministro do Exército prevê.
Mas, como essas situações no Brasil acabam sempre sendo resolvidas por conchavões da elite, é quase certo que, às portas do caos, venha a ser parida alguma fórmula para o afastamento de Dilma e constituição de um novo governo. Este certamente aliviaria as tensões, produzindo melhora momentânea, pois aos exploradores não interessa que o Brasil exploda, e eles têm poder de fogo suficiente até para criarem um novo milagre brasileiro, se for necessário.
Quais as alternativas a tudo isso?
Não a da Dilma, que usa todo o arsenal da politicalha sórdida para evitar que o processo de impeachment tramite no Congresso e seja votado. Pois assim apenas se alongará sua agonia, até que ela acabe sendo despejada do Planalto como consequência da agudização da crise econômica. É chocante a falta de uma visão mais ampla por parte desses companheiros de outrora, que, até por seu passado de esquerda, deveriam saber muito bem que colocarem os dedos nas rachaduras do dique só fará com que este acabe desabando sobre suas cabeças.
Muito melhor seria se o Congresso afinal decidisse: ou chutando a Dilma, o que ao menos evitaria que continuássemos marchando para o fundo do poço; ou confirmando seu mandato, o que lhe restituiria um mínimo de condições para governar. Do jeito que está é que não pode ficar.
Finalmente, eis o cenário ideal (no qual, contudo, não aposto pois Dilma não é nem nunca será Allende): a presidenta dar a mão à palmatória, reconhecer que errou rotundamente ao querer apoiar-se na direita, mandar o Levy para o Bradesco que o pariu e apostar a sobrevivência do seu mandato numa outra guinada, desta vez à esquerda e pra valer.
Aí, ou a política revolucionária voltaria a existir no Brasil, ou pelo menos a Dilma cairia pelos motivos certos, coerentes com seu passado ilustre, e não como uma patética ex-guerrilheira que quis aplicar a cartilha econômica dos inimigos e nem para isto teve competência.
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