No quarto final da minha carreira jornalística, atuei numa empresa de relações públicas cujos clientes frequentemente requisitavam serviços de administração de crises. E, por haver trabalhado na Coordenadoria de Imprensa do governo paulista e ser, portanto, o redator mais experiente para pisar em tais terrenos minados, os textos respectivos ficavam sempre sob minha responsabilidade.
Como também na esfera privada eu tivera de travar, ao longo da vida, muitas batalhas que exigiram o convencimento da opinião pública e/ou de círculos influentes, desincumbia-me dessas tarefas com um pé nas costas.
Enfim, creio conhecer um pouco o metiê. E fico pasmo com o amadorismo dos governos petistas em termos de comunicação.
Agora, p. ex., todos os homens da presidenta tentam desacreditar o Tribunal de Contas da União, repetindo uma linha de argumentação indefensável: a de que os mesmos delitos ora flagrados não eram punidos em situações anteriores. Como se a impunidade passada justificasse e legitimasse as presentes e futuras. Só que país nenhum pode oficializar uma licença para delinquir sem se tornar casa da mãe Joana.
E daí? --perguntará, obviamente, o cidadão comum. Como se trata de ilicitudes, este tende a encarar a coisa sob o aspecto oposto, o de que finalmente tais práticas começam a ser coibidas. Então, os atletas e torcedores do time da estrela ficam sozinhos na sua indignação e os resultados práticos são nulos, mero jus sperniandi. Nos casos do mensalão, do petrolão e, agora, das pedaladas fiscais, não colou. Nem colará adiante. Por que continuarem insistindo, então?
O editorial desta 6ª feira (9) da Folha de S. Paulo é um exemplo de como a imprensa burguesa lida facilmente com a contestação petista, inclusive admitindo que ela tem fundamento, mas induzindo os leitores a encararem como extremamente positiva a mudança de atitude do TCU.
Era a chamada caçapa cantada, os tentáculos da indústria cultural seguirem por este caminho. E extremamente constrangedor companheiros que são ou deveriam ser de esquerda estarem perdendo de goleada, nos quesitos inteligência e competência, dos servos do capitalismo. Está aí um dos motivos pouco citados da debandada da classe média: no século passado éramos nós os mais convincentes e articulados, ahora no más...
Eis o que queríamos demonstrar (trechos do editorial Terra arrasada):
"...a alvissareira decisão tomada na quarta (8) pelo Tribunal de Contas não deve encobrir uma constatação incômoda –a medida saneadora aguardou que a irresponsabilidade orçamentária chegasse ao ponto de derrubar a economia do país e a sustentação política do Palácio do Planalto.
Contabilidade criativa, receitas fictícias, pedaladas e outras invenciones não surgiram em 2014. Desde o final da década passada, imposturas do gênero vinham sendo empregadas em doses crescentes para embelezar os balanços e dar continuidade à gastança.
...De tão contumazes, tornaram-se folclóricas as projeções oficiais fantasiosas de crescimento econômico –e arrecadação tributária– do primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff (PT). Descumpriram-se assim, desde 2012, as metas fixadas para o superavit primário (o saldo entre receitas e despesas, excluindo juros).
O desfecho foi desastroso: o gigantesco deficit orçamentário hoje alimenta a inflação e a dívida pública, eleva o dólar e os juros, aprofunda a maior recessão em 25 anos.
Cabe, portanto, examinar aperfeiçoamentos legais capazes de coibir desmandos antes da necessidade de uma medida extrema como a agora aplicada pelo TCU".
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