sexta-feira, 30 de outubro de 2015

ALCKMIN, O EXTERMINADOR: EM 2012 ELE BARBARIZOU O PINHEIRINHO. EM 2015 ESTÁ BARBARIZANDO A EDUCAÇÃO.

Desocupação do Pinheirinho: bestialidade sem limite.
Detestei cada minuto dos quase quatro anos em que trabalhei no serviço de imprensa de um governador, na década retrasada. Ficara desempregado num momento de crise no mercado jornalístico e o meu antigo diretor de redação, que também estava na olho da rua, investiu na conquista de um cargo público, fazendo campanha de graça para o candidato.

Ganhou a aposta e recebeu a contrapartida: passou a coordenar a redação que trombeteava os feitos e justificava os malfeitos de Sua Excelência. 

Alguns meses depois me fez uma oferta irrecusável, para ser seu redator de confiança na equipe que herdara. 

Aluguei minha competência profissional, mas não as minhas convicções. Não me filiei ao partido do governador nem procurei aproximar-me do seu esquema político, o que teria sido muito fácil nas circunstâncias. Encarava aquilo tão somente como ganha-pão.

O que não me impediu de simpatizar com uma política daquele governo: a colocação do ensino como prioridade primeira.

Logo no início, foram convidados cem luminares para fazerem um diagnóstico em profundidade da educação, formulando um programa para sanar as grandes deficiências existentes.

O resultado foi o projeto das escolas-padrão, que procurava fazer com que algumas escolas estaduais se tornassem ilhas de excelência, com equipamento adequado, autonomia para gerir seus gastos e incentivos aos professores.

As primeiras a serem transformadas serviriam como cartões de visita e teste na prática. Todas as outras, com o passar do tempo, as seguiriam.

Deu tudo errado.

Os professores não mostraram o mínimo interesse em participar da gestão dos recursos no que seriam, digamos, associações de pais e mestres com poderes ampliados e recursos para investir. Isto foi encarado por eles, apenas, como mais trabalho.

Também recusaram, indignados, a proposta de terem aumentos salariais desde que fizessem cursos de aprimoramento didático. Queriam receber aumentos salariais sem se obrigarem a nada.

E fizeram uma interminável greve que, no desempenho das minhas funções, acabei acompanhando passo a passo.
Reestruturação do ensino: iniquidade sem limite.

Nossa redação tinha uns 20 jornalistas, distribuídos entre a manhã/tarde e a tarde/noite. Quase todos simpatizávamos com os professores e os assalariados em geral.

Mesmo assim, era impossível não notarmos que a greve, a partir de certo ponto, foi prolongada unicamente para criar constrangimentos políticos ao governo.

Chegou o momento em que foi colocada a proposta definitiva e última do governador. Mesmo assim, os líderes do magistério mantiveram a paralisação por mais duas ou três semanas, o que não fazia nenhum sentido em termos reivindicatórios. Os motivos eram outros.

Depois recuaram, aceitando integralmente a proposta que haviam rechaçado de pronto.

O governador amaldiçoou o dia em que pensou em fazer do ensino a vitrine do seu governo. Adotou outras prioridades e para elas canalizou os recursos adicionais que iria utilizar em educação.

Os professores perderam o poder de barganha e, portanto, a chance de obter melhor remuneração. Não se deram conta de que, jogando o jogo com mais sutileza, teriam alcançado patamares salariais bem mais condizentes com sua nobre função.

Os estudantes foram sensivelmente prejudicados, pela não concretização das melhoras e também pela perda de dias letivos.

Eu mesmo, acreditando nas belas promessas das escolas-padrão, transferi minha filha para uma delas. No final de um ano praticamente perdido, tive de levá-la de volta para o colégio de freiras, com o rabo entre as pernas.

Fiquei decepcionadíssimo por constatar que raríssimos professores levavam em conta seu papel na formação dos cidadãos, seu acesso privilegiado aos corações e mentes dos jovens brasileiros e, por extensão, de suas famílias.

Queriam mesmo é números diferentes nos holerites. Que acabaram não conseguindo.

Senti-me muito velho ao compará-los com meus veneráveis mestres de outrora, que se viam sobretudo como formadores das novas gerações, difusores do saber e responsáveis pelo aperfeiçoamento das instituições.

Meus pais e avós diziam a mesmíssima coisa, que os professores haviam piorado desde seus tempos de escola. Ou todos estávamos com a sensação errada, ou nosso ensino vem há muito descendo a ladeira.

Quem parece ter entendido bem tal lição é o governador atual, Geraldo Alckmin, que escolheu o ensino como alvo prioritário do corte de despesas nestes tempos bicudos de recessão. Decerto prefere poupar programas que lhe rendem mais dividendos eleitorais. E que se dane o futuro do Estado e do País, condenados a terem, adiante, cidadãos e profissionais de poucas luzes! 

Mas, como todos sabemos, o horizonte dos políticos vai apenas até o último mandato que poderão exercer antes de descerem ao inferno; se depois vier o dilúvio, que lhes importa?

Assim, Alckmin está fechando 25 escolas estaduais na capital paulista --nove nas regiões centrais onde as famílias geralmente podem bancar ensino pago e 16 nos bairros mais pobres, em que talvez isso fulmine a chance de jovens promissores virem a ser alguém na vida.

Em todo o Estado, serão 94 escolas assassinadas e 754 que passarão a ter apenas uma etapa de ensino (ou Fundamental 1, ou Fundamental 2, ou médio).

O governador alega que há espaços ociosos na rede. Eu diria que há espaços vazios nos cofres estaduais e que para preenchê-los vale tudo, até dificultar o acesso dos carentes, que não têm carro próprio nem podem pagar kombis escolares, sendo obrigados a juntar-se às outras sardinhas que se espremem nas latas do dantesco transporte coletivo de São Paulo. 

A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico divulgou há alguns meses um novo ranking mundial de qualidade da educação. Entre os 76 países avaliados, o Brasil ficou num melancólico 60º lugar.

Se depender dos Alckmins da vida, dias piores virão.

5 comentários:

Eduardo Rodrigues Vianna disse...

As lutas sociais, inclusive por educação pública, adquirirão outro significado a partir deste momento em que somos promovidos à condição de "terroristas". Isso aí não deixa de ter, até certo ponto e de certa forma, o seu lado bom. Serve para que todos os interessados na mobilização da sociedade metam na cabeça de uma vez por todas que isto aqui NÃO é uma democracia, e que o governo Dilma, fiador da lei "antiterrorismo", nada tem de "popular".

Francisco Viana disse...

Celso,

Sou professor e concordo até certo ponto com o que você falou em relação à classe, pois penso que, sim, existem professores que não fazem jus à importância que a função tem. No entanto, tenho algumas considerações a fazer quanto ao projeto interessante que esse governador quis implantar em São Paulo.

Primeiro, realmente não sei se os cursos de aperfeiçoamento devem ser uma obrigação. O professor não necessariamente vai ensinar melhor porque tem um curso a mais ou a menos. Ele pode, sim, ensinar melhor com um curso de aperfeiçoamento como ele pode também, mesmo com o curso, continuar com práticas que não são as melhores.Isso infelizmente é muito relativo.

Segundo, é louvável que os professores e a comunidade sejam engajados na gestão dos recursos da escola. Porém, como isso foi conversado com o corpo docente? Muitas vezes, o que sinto é que existem falhas graves na forma como os projetos governamentais (até aqueles que são benéficos) chegam até a escola. Os professores participam dessa gestão de recursos como parte da sua carga horária semanal de trabalho ou é algo posto em um dia a parte, um sábado, por exemplo, que, às vezes, nem é letivo, e que se torna um trabalho a mais dentro de uma sacrificada jornada de 40 horas semanais?

No mais, concordo com muitas postagens suas e louvo suas posições.

Att.

Francisco Viana

Filipe Santos disse...

Celso, isso que o Alckmin está fazendo não tem semelhanças com os cortes na educação que o Governo Dilma também está praticando?
Quanto a relação entre movimentos sociais de terrorismo, creio que mobilização pacífica é muito diferente de depredação, ameaças a civis e violência. Se algum grupo apela a isso, é sim terrorismo!

celsolungaretti disse...

Felipe,

não faltará oportunidade para falarmos dos cortes federais. Como aqui em SP a reação à medida do Alckmin está sendo forte, era hora de fazer algo para dar uma força à moçada que está protestando.

Quanto à lei contra terrorismo é uma aberração, claro. Mas, essa coisa demorará para chegar ao desfecho. Se não conseguirmos barrá-la no Congresso, será obrigação da Dilma vetá-la, caso ainda esteja na Presidência. Ou vai estar arrancando a máscara de vez.

Abs.

celsolungaretti disse...

Professor Francisco,

o projeto de "escola-padrão" foi tentado na década de 1990 e, como ninguém empunhou pra valer tal bandeira, foi descontinuado. Eu lamentei porque, trabalhando na imprensa do governador, li e aprovei o diagnóstico e as medidas propostas pelos 100 grandes educadores, cientistas sociais e outras personalidades acadêmicas.

No papel era perfeito, tanto que resolvi matricular minha filha numa dessas escolas. Na prática, a teoria foi outra.

Mas, sempre tive muita bronca de companheiros que fazem política à base do "quanto pior, melhor". As lideranças do magistério conseguiram detonar o prestígio do governador, era o que elas queriam.

Mas, os professores que as seguiram lucrariam muito mais se tivessem ficado focados na luta reivindicatória, ao invés de servirem para puxar tapete de governante. Fiquei com pena, pois, com melhores líderes, eles obteriam muito mais do que acabaram conseguindo.

Num país em que a Educação raríssimas vezes é erigida em prioridade principal, não se deveria desestimular dessa maneira governantes que talvez pudessem trilhar o mesmo caminho. Quem acompanhou o processo e viu o resultado, contudo, nunca mais cogitou fazer nada semelhante.

Quanto à reestruturação atual do Alckmin, consiste apenas no fechamento de escolas e "especialização" de todas as unidades, que passarão a oferecer apenas Fundamental 1, ou Fundamental 2, ou curso médio. E que se danem os coitadezas que tiverem de percorrer longas distâncias, ao invés de cumprirem todas as etapas de ensino perto de casa. O governo poupa, os alunos sofrem.

Abs.

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