Yo soy un hombre sincero. E tendo a pensar sempre o melhor dos outros, o que já me acarretou imensas decepções.
Quando tentava me firmar como crítico cinematográfico, atuando em pequenos veículos, fui em 1979 convidado para uma exibição antecipada de Alien, o oitavo passageiro, na cabine do circuito Sul Paulista. Compareceram todos os medalhões da crítica.
À saída, travaram verdadeira competição de quem lembrava mais filmes antigos dos quais Ridley Scott teria chupado alguma coisa. Quem os ouvisse, necessariamente concluiria que Alien não passava de uma colcha de retalhos, reaproveitando muito do que se fizera na ficção-científica dos anos 50.
Quando fui ler as críticas por eles escritas, constatei que todos haviam saído pela tangente, procurando fórmulas que nem fossem um elogio rasgado ao filme, nem afugentassem o público e atraíssem contra eles a ira da empresa cinematográfica. Nem sim, nem não, muito pelo contrário.
Evidentemente, carreira adentro, várias vezes me depararia de novo com a mesmíssima atitude: a opção de ficarem em cima do mudo para não matarem a galinha dos ovos de ouro.
Então, não foi nenhuma novidade para mim a conivência de quase todos os cronistas esportivos com a malandragem de Corinthians e Atlético Mineiro, que deram um jeitinho de serem eliminados da Copa do Brasil porque lhes convinha preservar seus times para o Campeonato Brasileiro.
Ambos estão na frente e têm grandes chances de conquistarem o título do Brasileirão ou, pelo menos, a vaga para a Taça Libertadores da América (que os três primeiros colocados garantem e o quarto pode obter na repescagem).
Face a isto, passou a ser para eles um estorvo a participação na Copa do Brasil, competição simultânea e de importância inferior, que dá direito a uma única vaga na Libertadores (o campeão se dá bem e todos os demais saem de mãos abanando...).
Se Corinthians e Atlético Mineiro fossem adiante, disputariam mais duas, quatro ou seis partidas, com elencos já desgastados e correndo sério risco de perderem seus melhores jogadores por contusão.
Então, o técnico corinthiano Tite, desde o início, pretendeu dar um merecido descanso a alguns titulares. Houve uma reunião com o presidente Roberto de Andrade e aparentemente ficou decidido o contrário. Na verdade, bolaram um estratagema para dourar a pílula.
O Corinthians entrou com sua força máxima na Vila Belmiro... mas logo saltou aos olhos a falta de empenho. Nós fingimos que fomos dominados e vocês fingem que ganharam de verdade...
No jogo de volta, nesta 4ª feira (26), Tite foi mais longe ainda, poupando de cara os meiocampistas Jadson e Elias, além do lateral Fagner. No intervalo, trocou também o meiocampista Bruno Henrique. Com isto, claro, entregou numa bandeja a vaga para o Santos, que já esteve ameaçado de rebaixamento e atualmente, em fase de reação, é o 11º colocado no Brasileirão.
Pior ainda fez o Atlético Mineiro: deu um jeito de ser desclassificado pelo coitadeza Figueirense, que está em 14º no Brasileirão, apenas dois pontos acima da zona de rebaixamento. Quem engolir isso como normal compra até terreno em Marte, pagando à vista...
Incrivelmente, nenhum cronista esportivo escreveu, taxativamente, que torcedores e telespectadores foram logrados. O que chegou mais perto disto foi o Juca Kfouri, com ironias e indiretas.
Ao não serem sinceros, deixam de levantar a questão de que é simplesmente desumana a maratona de jogos imposta aos atletas, tipo do boi só se perde o berro.
Mesmo com seu pulo do gato, os alvinegros de São Paulo e de Minas completarão seis semanas consecutivas jogando duas partidas por semana; já os que avançaram na Copa do Brasil, oito.
Destes últimos, os que ultrapassarem a barreira das quartas de final terão finalmente, na nona semana. 6 ou 7 dias de intervalo entre uma partida e outra, voltando em seguida ao regime massacrante.
Como o futebol atual é de alta intensidade, Corinthians e Atlético Mineiro deverão levar uma significativa vantagem sobre seus perseguidores Grêmio, Fluminense, Palmeiras e São Paulo na reta final do Brasileirão. Talvez até já tenham assegurado para si o campeonato e o vice, só restando definir quem será qual.
Mesmo com seu pulo do gato, os alvinegros de São Paulo e de Minas completarão seis semanas consecutivas jogando duas partidas por semana; já os que avançaram na Copa do Brasil, oito.
Destes últimos, os que ultrapassarem a barreira das quartas de final terão finalmente, na nona semana. 6 ou 7 dias de intervalo entre uma partida e outra, voltando em seguida ao regime massacrante.
Como o futebol atual é de alta intensidade, Corinthians e Atlético Mineiro deverão levar uma significativa vantagem sobre seus perseguidores Grêmio, Fluminense, Palmeiras e São Paulo na reta final do Brasileirão. Talvez até já tenham assegurado para si o campeonato e o vice, só restando definir quem será qual.
É lamentável que técnicos conscienciosos como Tite e Levir Culpi, para fazerem o certo (descartarem um torneio menor, que poderia detonar seus times) tenham de recorrer a tais subterfúgios.
E é também lamentável que todos continuemos fechando os olhos à forma peculiar de exploração do trabalhador futebolista --mesmo os que ganham uma fábula (e estão muito longe de serem maioria), não deveriam ser obrigados a esforços muito além do salutar e do aceitável. Entre outros motivos, por causa de uma leizinha assinada em 13 de maio de 1888.
O capitalismo tem o toque de Sadim: transforma em excremento tudo que toca.
2 comentários:
Lungaretti, curiosidade: qual é a sua opinião sobre o crítico de cinema Rubem Biáfora? Conviveu muito com ele?
Matheus,
ele era um tipo de militante do bom cinema, empenhava-se muito em tornar conhecidos os cineastas de valor. Sua seção dominical no Estadão, quando apresentava as estreias da semana, constituía leitura obrigatória.
Politicamente, reacionário. Mas, só o vi manifestar este lado em discussões artísticas, reprovando filmes engajados. Hoje, não seria dos que vão à Paulista.
Entrevistei-o uma vez, creio que sobre os posteres de porta de cinema, alguns dos quais, naquele tempo, chegavam a ser verdadeiras obras de arte.
Depois, crítico iniciante, precisei certa vez de informação sobre um filme qualquer e o Biáfora disse para passar onde ele morava. Fui lá e ele pegou um tipo de ficha do filme, manuscrito em caligrafia minúscula, no qual anotara tudo que precisava lembrar, inclusive as datas em que havia sido lançado e relançado.
Como sua vista já não estava muito boa, lia com dificuldade o papelucho. Sua dedicação ao ofício me fascinava. Era praticamente uma monomania.
A última lembrança que tenho dele é ruim. Algum cineclube programou um filme favorito dele e o Biáfora foi convidado a dizer algumas palavras sobre o ator principal, o Michel Lonsdale, do qual gostava exageradamente.
Mas, já meio afetado por doença, ele não acabava a arenga e o público, ansioso pelo filme, começou a fazer ruídos de propósito. O coitado se enervou, ficou vermelho, temi até que tivesse um piripaque. E não parava de falar, repetindo-se. Foi muito constrangedor.
Se fosse hoje, eu certamente interviria para desatar o nó. Naquele tempo ainda me faltava desembaraço e presença de espírito. A lembrança me causa mal estar.
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