Há uma espécie de colaboração informal, de bastidores, das campanhas de Dilma Rousseff e Aécio Neves, no sentido de derrubarem a de Marina Silva com a mais sórdida campanha de difamações, calúnias e mentiras que o Brasil presencia desde a redemocratização.
Renovo o alerta que lancei desde o início: por mais que, em seu desespero para manter as benesses do poder, os petistas movam uma guerra de extermínio contra a candidata do PSB, continuam sendo duas forças pertencentes ao CAMPO DA ESQUERDA, que jamais deveriam digladiar-se assim.
Antigamente, quando a política se fazia com mais desprendimento revolucionário e menos espírito interesseiro, as forças de esquerda, ao se confrontarem na disputa por seus objetivos, o faziam como ADVERSÁRIAS, enquanto combatiam as que expressavam o capitalismo e a ditadura como INIMIGAS.
Agora, o PT chega ao cúmulo de repetir e trombetear as acusações que o PSDB faz a Marina, num conluio imoral com o INIMIGO DE CLASSE.
Aécio está certíssimo nos seus cálculos, terá grandes chances de ser eleito se conseguir desalojar Marina e for para o 2º turno.
Dilma e o PT estão erradíssimos, não percebem que o desgaste de 12 anos no poder é tamanho, e os escândalos a serem explorados tantos, que a grande imprensa pode, sim, conduzir os tucanos à vitória em 26 de outubro.
Então, por medo de quem tem o mesmo DNA do petismo e é, indiscutivelmente, uma liderança popular, estão se arriscando a abrirem as portas para o retrocesso, com a volta dos tucanos ao governo.
Que chocante transição negativa, a de "sem medo de ser feliz" para "tenha medo do meu rival", a do discurso da esperança para as campanhas do medo e do ódio!
Que chocante transição negativa, a de "sem medo de ser feliz" para "tenha medo do meu rival", a do discurso da esperança para as campanhas do medo e do ódio!
Sei que continuarei sendo uma voz a clamar no deserto, mas advirto agora e os chamarei à responsabilidade depois, caso este pesadelo se consume: a opção que estão fazendo é uma traição aos princípios revolucionários que todos um dia seguimos, que eu continuo seguindo até hoje e nem sei quantos mais (parecem ser bem poucos!)...
7 comentários:
Querido Celsão, você aponta o PT e o PSB como pertendentes ao campo da esquerda, o que é correto. Mas que esquerda?
Mais de uma vez vi uma figura nacional a quem estimo, a Erundida, numa saia justa desgraçada para falar de sua adesão ao PSB. Ela disse ao Abujamra: "Em meu partido, o número de socialistas é extremamente baixo". Quanto ao PT, os beijos e abraços com o inimigo de classe vêm de há muito. E que patético vê-los acusando Marina de ser o novo Collor, eles mesmos pra cima pra baixo com o verdadeiro Collor. Chegasse um viajante do tempo de 2014 a, digamos, 1990, e nos contasse o que se passa hoje, a nossa primeira reação seria a de rechaçar o mentiroso. Mas, após pensarmos um pouco, seríamos levados a considerar a veracidade do seu relato. A CUT já pelagava em 1990, e não devemos nunca pôr em dúvida os desdobramentos que a pelegagem como linha política pode alcançar.
Por outro lado temos o PCB, o PSTU, o PCO e o PSOL. Tenho amigos no PSOL (amigos pessoais, alguns quase que de infância) e conhecidos nos outros partidos. Conversando com eles, tenho a certeza de que não enxergam as coisas corretamente, pelo menos segundo aquilo que a mim me pareceria correto. Os militantes desses partidos, quando vão cumprir o seu papel de "adversários" entre si, fazem-no frequentemente com cadeiradas, espancamentos, ameaças de morte, calúnias e censuras, quem militou ou milita nesse ramo da esquerda sabe que é assim. É o famoso marxismo-leninismo-umbiguismo, incapaz de construir uma plataforma eleitoral em comum, ainda que cada um deles diga que a sua própria construção como partido avança às mil maravilhas. Eles ainda estão no tempo em que o jornal do partido era a grande arma leninista, a "alma da organização" e o "instrumento principal da consciência".
As melhores pessoas DE ESQUERDA que tenho conhecido não pertencem à esquerda, é gente jovem, sem partido, que não provém de nenhuma tradição em específico e que abraça o anarquismo por comodidade em grande medida. Cometem erros grosseiros, assumem com desenvoltura postulados preconceituosos, têm a tendência extremamente irritante de ver o inimigo onde este não se encontra e etc, mas são os únicos a quem vi recentemente permanecendo, comigo, de braço dado comigo, contra a Tropa de Choque do ditador de São Paulo até o fim, na rua, enquanto outros, de bandeira vermelha em punho, fugiam como frangos, para matar-nos de vergonha e forçar-nos a explicar aos mais moços que comunista fujão é coisa que não se admite. Não é que sejam covardes: tẽm todas as condições de se portar no enfrentamento tal como se espera, mas apenas se isto for conveniente para eles.
Qualquer que seja o resultado das eleições, a realidade cultural e política do atual Brasil imporá à esquerda a sua recomposição/reconstrução. Por muitos motivos isto se iniciaria de modo favorável com a vitória de Marina, porque significaria, continuaria significando, uma afirmação das contradições do Brasil, com ênfase sobre a questão da Democraia, essa alienígena entre nós. Se formos forçados a viver a necessidade da nossa recomposição/reconstrução sob um governo Aécio, tanto pior. Até aí, as coisas sempre podem piorar.
Eduardo,
um velho amigo, lá por 1975, dizia que, após os massacres, estava tentando reconstruir a esquerda com a borra que sobrou no fundo do tacho, depois que os melhores foram dizimados.
É como me sinto. Nos dias de hoje, o reformismo aguado e homeopático do PT e do PSB é a esquerda influente. A esquerda revolucionária, por enquanto, não tem influência e só conseguirá reconquistá-la, se o conseguir, nas ruas.
Mas, mesmo num quadro destes, choca-me que o PT mova uma guerra de extermínio contra o PSB, sem levar em conta que o verdadeiro inimigo é o PSDB.
Rapaz, o PT deixou de ser até mesmo reformista, não é mesmo? Mas vou dizer a você e aos demais que acompanham aqui o Náufrago o que me põe em condições de considerar um renascimento de esquerda.
Existem questões globais, na atualidade, capazes de mover muita coisa, e essas questões de ordem global se manifestam no interior das sociedades.
Nós temos a questão da Democracia, finalmente a ser posta sobre a mesa de modo conceitual (e ai daquele que menosprezar a questão da Democracia), e temos um vasto assunto sobre os meios de produção nos dias de hoje: o capitalismo, em seu rol de contradições, gera riqueza por um lado, pobreza e degradação por outro, e também faz nascerem as forças produtivas capazes de promover uma associação entre os trabalhadores, para muito além do simples cooperativismo. Este é um assunto novo para nós embora Marx tenha se dedicado a ele — há quem diga que Marx SÓ tratou disso —, e poderíamos ter uma longa conversa a respeito. Por exemplo, se nos aprofundarmos na obra de Marx, veremos, de modo mais nítido hoje que em qualquer outro período, que a noção trotskista de que a humanidade só não superou o capitalismo até agora porque faltou-lhe a direção revolucionária perfeita, como se tal coisa pudesse existir, é um engano, uma tentativa muito apreciável em 1938, mas incompatível com o que temos na atualidade. O problema são as forças produtivas, sempre em meio a estruturas muitos e muitas vezes mais potentes que qualquer linha política, mesmo a mais revolucionária, e mesmo a mais bem-sucedida em termos de implementação da política. O fracasso do socialismo na Rússia, já que eu mencionei o trotskismo, não pode ser depositado sobre os ombros de Stálin, gostemos ou não gostemos do Bigodudo. As coisas são simplesmente complexas demais.
Por outro lado, a própria existência de uma cultura global, instaurada pelo capitalismo embora tal nunca tenha sido a vontade do capital, está muito a favor da recondução de todo postulado sobre todo grave problema da civilização. Esta aqui pode ser a época das maiores novidades, a época daquilo que eu vi e do que nós veremos como teria gostado de dizer Santos Dumont.
Quando aparecer uma organização de esquerda nova, novinha em folha num país tão cheio de importância como o Brasil, necessariamente um partido político, que reúna todas as condições e toda a vontade de se debruçar sobre o mundo a partir da relação entre ciência e tecnologia, cultura global, a renovação das forças produtivas e os rumos da crise estrutural da economia e da política do capital, será uma coisa tremenda. Tal partido deverá ter uma grande militância de tipo educacional, e deverá ser capaz de mobilizar uma parte do povo em torno a experimentos tecnológicos e econômicos realmente inéditos, é isto possível a partir de agora. E deverá recuperar o pensamento de Mário Pedrosa, segundo quem a pura e simples beleza, das obras de arte, do entendimento científico, da natureza, das pessoas e das coisas pode mais que qualquer programa de partido.
Tenho um modo desajeitado de abordar este conteúdo e não possuo o necessário talento para ser eu mesmo o homem que vai propor a construção de uma linha política/organização com tais características, minha modesta contribuição consiste em trabalhar sobre a obtenção de certas plataformas educacionais a serem utilizadas em larga escala noutro momento, mas é nisso aí que eu aposto.
Eduardo,
sua visão é muito interessante e deve ser avaliada por todos os leitores deste blogue.
No momento, não me vejo com serenidade suficiente para aprofundar-me nesses pontos todos. Fica para qualquer dia depois do 26 de outubro.
Mas, como contribuição, recomendo a leitura destes dois textos em que tratei de temática semelhante, mas tirando conclusões diferentes:
http://naufrago-da-utopia.blogspot.com.br/2011/04/revolucao-do-seculo-21.html
http://naufrago-da-utopia.blogspot.com.br/2011/10/para-sociologo-catastrofe-ambiental.html
Que bacana, Celso. Vou ler os dois textos à noite, após as atividades a que darei início neste momento. Obrigado.
Não sei se o PT está usando de difamações, se está a coisa tá funcionando, pois a candidatura da Marina está se esfarelando, principalmente nas camadas mais pobres da população. Mas acho que foi ela mesma que forneceu a munição, com aquele negócio de tirar a prioridade do Pré Sal, de flexibilizar a CLT, de tripé econômico com o superavit cheio, de rever o regime de partilha no Pré Sal, de rever a necessidade do conteúdo local, dos assessores dela falar em universidade pública paga e tals, tenho colegas trabalhadores nas mais diversas áreas que ficaram apavorados. mO povão já identificou-a como a candidata dos ricos. Por outro ainda continuo achando que é mais fácilk a Dilma derrotar o Poécio no 2o turno que a Marina.
Carlos,
o que conta é o peso da máquina governamental, usada e abusada em prol da candidatura palaciana, a absurda disparidade de tempo no horário política e o uso indiscriminado da mentira, como a de que ela pretenderia mudar a CLT para anular conquista dos trabalhadores. Ninguém é estúpido a ponto de cogitar isto em época eleitoral.
Também nunca teve as intenções que lhe atribuem sobre o Pré-Sal, nem nenhuma dessas distorções que você leu e acreditou. E o povo só a verá como candidata dos ricos se a lavagem cerebral do PT funcionar. mas mentira tem perna curta.
Espero, para o bem da nossa democracia, que essas táticas nazistas e stalinistas de manipulação de massas não sejam bem sucedidas. São um tipo de virada de mesa. Quando resultam, dão pretexto a outros tipos. Todo cuidado é pouco.
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