A CPI da Petrobrás é um daqueles terrenos minados nos quais não gosto de entrar porque ficam fora do meu foco: interessa-me a política revolucionária, não a política oficial, da qual nada mais espero no sentido da construção de uma sociedade justa e igualitária. A esperança mora nas ruas, não na Praça dos Três Poderes.
Mas, com referência às últimas denúncias da veja e da Folha de S. Paulo, há algo que eu posso elucidar.
Na prática, montou-se o que os profissionais de comunicação empresarial chamamos de media training: uma simulação para entrevistados aprenderem como lidar com uma coletiva de imprensa.
As agências de RP colocam o cliente para ser inquirido por seu pessoal, cada um desempenhando determinado papel. Há o entrevistador agressivo, há o bom argumentador, há o detalhista cricri, há o que prepara armadilhas, há o aparentemente inofensivo que de repente crava um golpe demolidor, há momentos em que falam vários ao mesmo tempo. De vez em quando a simulação é interrompida e explica-se ao fulano que erros cometeu ou elogia-se seu desempenho em tal ou qual tema, conforme for o caso.
Com isto, ele adquire um conhecimento prévio de como transcorrem as entrevistas, qual é o seu clima, que tipo de cascas de banana atirarão no seu caminho, etc. Passar pelo constrangimento de ser maltratado por um repórter contundente na frente de uma platéia o imuniza contra escorregadelas ou perda de controle quando a coisa for pra valer.
Em se tratando de uma CPI sem a participação de oposicionistas, seria muito fácil ministrar-se aos depoentes um treinamento semelhante (o que se passa na dita cuja quase nada difere de uma coletiva de imprensa). Nem precisariam ir tão longe, contando previamente com a boa vontade dos parlamentares, todos situacionistas. É claro que estes levantariam muitas bolas para eles marcarem pontos, como também fazem os repórteres quando querem agradar aos entrevistados (geralmente são poucos os que mordem e muitos os que lambem a mão). Sem ambiente hostil, só cavalgaduras se embananam.
Mas, alguns trapalhões preferiram fazer um desnecessário jogo de cartas marcadas, dando-lhes ciência prévia das perguntas que responderiam.
Ora, é óbvio que não foi nada do outro mundo, em termos de resultados. Mas, na política, as aparências também contam e deixar-se flagrar com as calças na mão é imperdoável. O respeitável público deve ser mantido na sua santa ignorância, não pode ficar sabendo que o Congresso é palco de encenações canhestras, ao invés das atividades legislativas que justificam a mui exagerada remuneração dessa gente toda.
Agora, também para salvar as aparências, alguém precisará pagar o pato, pois é uma daquelas lambanças que não podem ficar totalmente impunes.
E isto porque De Gaulle tinha razão em seu juízo a nosso respeito. Caso contrário, todos os responsáveis e mancomunados responderiam a processos de impeachment ou seriam exonerados de seus cargos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário