Não cometerei a hipocrisia de colocar Jair Rodrigues entre meus artistas favoritos na época dos grandes festivais da Record, pois nunca o encarei desta forma. Sendo aquele um momento de extraordinários compositores, era eles que eu preferia ver no palco, com as limitações técnicas compensadas pela convicção ardente de quem sabia exatamente qual a mensagem de suas músicas e os sentimentos que as haviam inspirado.
Eu gostava de ver JR cantando sambões como "O morro não tem vez" e "Ziguezague", mas achei péssima a sua escolha para interpretar a "Disparada": no momento mais dramático, o da acusação velada à ditadura ("Porque gado a gente marca,/ tange, ferra, engorda e mata,/ mas, com gente, é diferente!"), o público explodia em aplausos... e JR, deslumbrado, escancarava o sorriso, ao invés de, p. ex., erguer o punho fechado. Destoava.
[Felizmente, no vídeo abaixo, a câmara o focaliza de costas no trecho culminante.]
Mas, era simpático, de uma alegria contagiante; um meninão. Impossível não gostar dele.
E eu achava muita graça no rancor (e mal disfarçada inveja) dos tacanhos quando ele e Elis Regina empolgavam-se nos pot-pourris do Fino da Bossa. "Que pouca vergonha, uma moça branca se esfregando com um crioulo na frente de todo mundo!" Ouvir tal besteirol não tinha preço...
Era de lavar a nossa alma o fato de um negro bonito ser ídolo e os racistas enrustidos terem de o engolir. Repetindo, em menor escala, o que acontecia nos EUA, onde Muhammad Ali despertava instintos homicidas em muitos WASP's (ou seja, brancos, anglo-saxões e protestantes).
Que a outra vida, se houver, lhe seja aprazível. Ele merece.
Um comentário:
no clip percebe-se a cara dos caes de guarda embaixo de seus caps,que epoca,tomara que nao volte mais
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