Sempre detestei o tal do voto útil, aposta no mal menor que acaba se tornando um empecilho ao bem maior. Conformamo-nos com o mínimo e deixamos de lutar pelo máximo, que é a medida exata para um país com injustiças tão extremas e desigualdade tão gritante como o Brasil.
Mas, as situações concretas das eleições presidenciais acabam me obrigando a engolir essa pílula amarga.
Na última, p. ex., tínhamos a meramente reformista Dilma Rousseff (revolucionária ela deixara de ser há muito tempo!) contra um José Serra tão obcecado pelo poder que não hesitou em fazer todo tipo de aliança com a direita, inclusive com os ratos dos porões.
Eu não poderia permanecer em cima do muro. Para não me sentir violentado demais, evitei, no segundo turno, fazer campanha em favor de Dilma. Limitei-me a ser contra Serra. Uma nuance que deve ter passado despercebida para a maioria, mas me fez sentir menos culpado.
Em 2014, eu supunha que a diferença entre Dilma (ou Lula), Aécio Neves e Eduardo Campos seria apenas quantitativa, não qualitativa: três candidatos sem nenhuma intenção de acabarem com a exploração do homem pelo homem, mas também sem aparente disposição de colocarem o País no rumo de uma nova ditadura de direita.
Ou seja, tanto em termos positivos, quanto negativos, eu não estava encontrando motivo para tomar partido entre o reformismo representado por Dilma e Campos e a direita civilizada encarnada em Aécio.
Um artigo do André Singer (vide íntegra aqui) na Folha de S. Paulo deste sábado, entretanto, bagunçou o meu coreto.
Segundo ele, Aécio e Campos estarão se comprometendo com uma recessão em 2015, enquanto Dilma continuaria resistindo a mais este agravamento da iniquidade capitalista:
"O que está em jogo nos movimentos [dos três] é a posição das candidaturas majoritárias a respeito da necessidade de se fazer um ajuste de caráter recessivo no país em 2015. Há uma espécie de frente ampla capitalista em torno de tal perspectiva, que se expressa nas menções, cada vez mais comuns, às pretensas 'dificuldades' que aguardariam o Brasil no ano que vem".
Evidentemente, se Aécio e Campos sinalizarem que servirão mesmo aos objetivos de tal frente ampla capitalista, no frigir dos ovos eu terei de me posicionar firmemente do lado oposto, favorecendo de novo os petistas, embora esteja careca de saber eles que não fariam a revolução avançar um milímetro nos quatro anos seguintes. Pois cruzar os braços diante de uma ameaça recessiva para mim é impensável.
Como eu gostaria de ter opção melhor!
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