Cucciola e Volonté, perfeitos... |
A dramaticidade do episódio se deve a ter sido um dos piores assassinatos legalizados cometidos pela Justiça estadunidense em todos os tempos: um sapateiro e um peixeiro italianos foram condenados à pena capital, sem provas, por um latrocínio ocorrido em abril de 1920.
A evidente tendenciosidade do tribunal de Massachussetts causou enorme indignação --manifestações de protesto reuniram multidões por todo o mundo, um sem-número de celebridades e juristas deram declarações candentes e até o Papa tentou evitar que eles fossem executados. Tudo inútil.
O fato de serem ambos anarquistas havia sido o fator preponderante para sua condenação --os EUA viviam um período de histeria anticomunista após a revolução soviética de 1917-- e a inevitável politização do caso acabou determinando a não aceitação de provas e de uma confissão que os inocentavam.
Ou seja, quando surgiram gritantes evidências de que os crimes haviam sido cometidos por bandidos comuns, as autoridades já tinham ido muito longe e preferiram perseverar no erro do que o admitir honestamente. Cometeram homicídio premeditado, portanto; elas sim mereciam a cadeira elétrica!
...nos papéis de Sacco e Vanzetti. |
Esta saga foi levada às telas em 1971 pelo diretor e roteirista Giuliano Montaldo, um especialista em cinebiografias e dramas que têm acontecimentos históricos como pano de fundo (Giordano Bruno, Deus está conosco, L'Agnese va a morire, L'addio a Enrico Berlinguer, a mini-série Marco Polo, etc.).
Ele foi feliz em apresentar uma síntese bem essencializada do caso, sem prejuízo da sua enorme carga emocional. E teve a felicidade de contar com uma dupla de atores magníficos, extremamente identificados com seus papéis (Gian-Maria Volonté e Riccardo Cucciola); e com mais uma trilha musical memorável do gênio Ennio Morricone, incluindo a felicíssima escolha de Joan Baez para interpretar as três partes da Balada de Sacco e Vanzetti e o tema final, Here's to You.
Na minha opinião, o Caso Battisti foi um Caso Sacco e Vanzetti que acabou bem. Assistindo ao filme, vocês poderão tirar as próprias conclusões.
Os abomináveis patrulheiros dos direitos autorais tiraram do ar
o Sacco e Vanzetti com legendas em português, tanto no
Youtube quanto em vários blogues. Escapou apenas
este vídeo aqui, falado em italiano...
2 comentários:
Olá Celso. É uma pena que só tenha visto sua publicação agora. Sou ator na companhia Ensaio Aberto, conhece? Estamos no Rio de Janeiro, no Armazém da Utopia, Cais do Porto. Sob direção de Luiz Fernando Lobo, estreamos em abril de 2014 o espetáculo "Sacco e Vanzetti" e seria um privilégio tê-lo recebido em nosso espetáculo.
As boas novas são que reestrearemos em março de 2015.Desde já, o convido não só para assistir o espetáculo, bem como participar dos nossos ensaios, que retornam em janeiro de 2015.
Eu interpreto o advogado de defesa, William Thompsom e gostaria muito de manter contato com você a fim de obter materiais sobre a temática e o caso. Att, João Raphael Alves
Raphael,
fico lisonjeado. Tenho uma ligação sentimental muito grande com o caso Sacco e Vanzetti, pois o livro do Howard Fast sobre os últimos dias de ambos foi um dos primeiros de esquerda que me entusiasmaram, quando eu tinha uns 13 ou 14 anos. Retirei-o por acaso numa biblioteca circulante.
Gostei tanto que procurei outros do Fast, como "Spartacus".
Nunca imaginei que estaria no centro de uma luta semelhante, a do Battisti. E que, como que "corrigindo" o erro histórico anterior, nós a levaríamos à vitória.
Talvez seja este o ângulo que eu poderia passar para vocês: como, quase um século depois, a intolerância e a injustiça eram tão semelhantes. Eu ficava até com uma certa sensação de déjà vu.
Vc pode me escrever diretamente:
lungaretti@gmail.com.br
Um forte abraço!
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