quinta-feira, 13 de setembro de 2012

AINDA NÃO CONSIDERO CUMPRIDA MINHA MISSÃO

São Paulo, setembro de 2012.

Prezado eleitor,

não estranhe se for eu mesmo, candidato a vereador de São Paulo, que estiver lhe entregando esta mensagem. Minha campanha é humilde e feita com muita dificuldade, como costumam ser as dos candidatos que não se comprometem a, eleitos,  retribuírem  as doações recebidas dos ricos e poderosos.  

Sei que despejam propaganda política demais na vossa cabeça; mas, humildemente, peço uns minutinhos de atenção. Pois o que lerá aqui não são falsas promessas nem frases feitas. É uma história de vida.

Disputo a primeira eleição já sexagenário, mas meus ideais vêm de muito longe: aos 16 anos eu já discutia com meus colegas de escola formas de ajudarmos os melhores brasileiros a resistirem à ditadura mais bestial que este país já conheceu.

Tornei-me líder secundarista e, quando os golpistas de 1964 passaram a responder aos protestos pacíficos com assassinatos e torturas terríveis, não recuei: ao lado de sete jovens companheiros, ingressei no movimento de resistência armada ao despotismo que fora instalado pelas armas.

Mas, o que poderiam fazer uns tantos idealistas destreinados e mal armados contra aqueles que, além de terem as armas como instrumentos do seu ofício, contavam com esmagadora superioridade em efetivos, armamento e recursos? Dos oito que éramos, dois acabaram mortos; cinco, fomos presos e barbaramente torturados; e uma escapou ilesa, mas, traumatizada pela perda do marido e perseguições sofridas, nunca mais seria a mesma.

Quando enfim me libertaram, tive de reconstruir minha vida nas piores condições, com uma lesão permanente e várias sequelas, ameaçado, vigiado, estigmatizado.  

Mesmo assim fiz longa carreira jornalística e continuei sempre defendendo as bandeiras que norteiam minha existência: liberdade e justiça social.

Até que os barões da imprensa, incomodados com minhas verdades, me privaram do direito de trabalhar nas suas redações e até de ser citado em suas publicações. Mas, limitado à internet, minha influência até cresceu e eu pude dar boa contribuição para várias causas; orgulho-me de, como defensor dos direitos humanos, haver evitado graves injustiças e ajudado a salvar pessoas valorosas.

Ainda não considero cumprida minha missão, nem completo o legado que quero deixar às minhas filhas, netos, e ao meu povo.

A São Paulo dos meus sonhos não é esta de qualidade de vida tão ínfima, de transporte tão infernal e de tamanho descaso com as necessidades e direitos mais elementares dos cidadãos -- palco, ademais, de episódios chocantes como o de coitadezas sendo escorraçados a pontapés  (ao invés de civilizadamente tratados da dependência química que os está levando à morte) porque atrapalham grandes empreendimentos imobiliários.

Admito sinceramente que o maior problema paulistano não pode ser solucionado por prefeitos e vereadores: é o fato de que aqui os interesses individuais prevalecem sobre os coletivos. Numa sociedade regida pela ganância em detrimento do bem comum, jamais a população será respeitada como merece.

Mas, a administração pública não precisa ser tão medíocre e desumana como a atual; nem os representantes do povo, tão traidores do povo.

Então, sem demagogia nem planos mirabolantes, eu apenas me proponho a continuar fazendo o que fiz durante toda a minha vida adulta: defender os direitos e os interesses dos humildes, contra a gula insaciável e as infames maquinações dos poderosos.    

Pode parecer pouco, em relação ao que tantos  prometem. No entanto, é bem mais do que eles  entregarão.

Ficarei muito grato se merecer o vosso apoio.

Cordialmente,

Celso Lungaretti

2 comentários:

Sonia Amorim/Abra a Boca, Cidadão! disse...

Reproduzirei amanhã no meu blog. Que pena, Celso, que os que se denominam "blogueiros progressistas" não o sejam tanto assim... São mais militantes, mais governistas, o que impede que apoiem a candidatura de um blogueiro com uma magnífica história de vida e de luta como você, mas... do PSOL... Se cada um deles pelo menos reproduzisse teu post em seus blogs... você certamente teria uma votação expressiva. Não sei como ajudar mais... Abraços!

celsolungaretti disse...

Sônia,

uma das minhas frases cinematográficas favoritas é a dita por Paul Newman no sumário do julgamento de "O Veredicto": "age como se você tivesse fé, e a fé te será dada".

Luto sempre até o fim e gasto cada cartucho. Ou ganho ou saio com a consciência tranquila, por haver feito tudo que estava a meu alcance.

Mas, também sou realista. Então, sabendo das dificuldades (essas que você aponta), procurei fazer da campanha um exercício de reflexão sobre campanhas, do ponto de vista revolucionária.

Creio que, vencendo ou perdendo, terei contribuído para aclarar conceitos e inspirar posturas mais consistentes do nosso lado.

Um forte abraço, blogueira cidadã!

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