terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

CAOS NA LÍBIA

Estão eufóricos os defensores de ditaduras como supostos males menores: a Líbia não consegue voltar à civilização, o governo central está sem controle dos grupos autônomos que se uniram para derrubar o tirano Mummar Gaddafi e estes, agindo como lhes dá na telha, cometem brutais retaliações contra cidadãos identificados com o regime deposto.

A última vítima foi Hala Misrati, apresentadora de TV --para piorar, morta na prisão, quando cabia às autoridades estarem zelando por sua vida e por sua integridade física e mental.

Repetiu-se o drama do próprio ditador, que jamais deveria ter sido emasculado e executado daquela maneira, mesmo pesando sobre ele a responsabilidade por haverem recebido tratamento semelhante tantos e tantos cidadãos líbios, inclusive meninas e meninos. Mas, o  olho por olho, dente por dente  é a justiça dos pastores de cabras dos tempos bíblicos, não tem mais lugar no século 21.

Denúncias de gravíssimas violações dos direitos humanos vêm sendo feitas pela ONU, a Anistia Internacional e a ONG Médicos Sem Fronteira.

Mantenho o que disse durante a crise: 
  • havia mesmo que se impedir o massacre dos rebeldes pelas forças governamentais, mas a Otan extrapolou em muito o mandato que lhe foi conferido pela ONU, passando a atuar como força invasora e não como missão de paz;
  • com Gaddafi, havia a certeza de que os cidadãos líbios continuariam sendo torturados e executados para que fosse mantida a tirania familiar na qual desembocara sua quartelada de milicos nacionalistas (1);
  • com os rebeldes no poder, o leque de possibilidades se abriria e, se prevalecessem as piores hipóteses, seria o caso de denunciarmos o novo governo tanto quanto denunciávamos o antigo;
É o que estou fazendo agora (2), a cobrar da ONU e da Otan providências para corrigirem o mal causado por sua intervenção desvirtuada e desatinada.

É de supor-se que, se a luta para a derrubada de Gaddafi fosse conduzida pelos próprios rebeldes, eles acabariam, no transcurso de uma campanha bem mais longa, sendo obrigados a criar um comando único, embrião do futuro governo.

Tendo a Otan assumido a dianteira e liderado as operações militares --precipitando, portanto, os acontecimentos--, chegaram ao poder ainda como um amontoado de grupelhos autônomos de guerrilha, divididos por querelas tribais, religiosas e políticas.

Derrubado Gaddafi, a ONU e a Otan omitiram-se de sua evidente responsabilidade na reconstrução do país --começando por darem ao novo governo os meios para impor sua autoridade e, tarefa imediata, desarmar e desmobilizar os grupos guerrilheiros.

Era a receita óbvia do caos; e o caos aconteceu.

1 Para verdadeiros revolucionários, tanto os regimes de força instaurados pelos golpes de estado de cunho nasserista quanto as tiranias familiares  das mil e uma noites  nada, absolutamente nada têm a ver com a construção de sociedades igualitárias e livres, nas quais os explorados assumissem o papel de sujeitos da História, ao invés de continuarem instrumentalizados e intimidados, apenas trocando de senhores.
2 Durante longo tempo, Trotsky considerou que o desvirtuamento da Revolução Soviética não seria definitivo enquanto  a economia se mantivesse coletivizada. Certa vez lhe perguntaram o que faria se, pelo contrário, ficasse confirmado que a  nomenklatura  se tornara uma classe dominante, só que de novo tipo. Face à possibilidade de a obra de sua vida adulta inteira ter ruído, ele simplesmente respondeu: "Então, passarei imediatamente a organizar a luta dos servos do coletivismo burocrático". Da mesma forma, será patético nos lamentarmos de que a derrubada de Gaddafi (como a daquele outro tirano, o czar) não tenha levado aonde se queria. Temos é de voltar à luta, tantas vezes quantas forem necessárias para a verdadeira emancipação do povo.

2 comentários:

Ronaldo disse...

Estou estranhando tudo isso, professror(confessor que só acompanhei os acontecimentos pela grande mídia). Imaginei que a OTAN e seus lacáios (ONU) tomariam imeidatamente conta da situação, para garantir os interesses europeus e estadunidenses na região. Um ótimo texto. Grande abraço!

Ronaldo.

Unknown disse...

È meu caRO Lunga! O mesmo vai acontecer na Siria e ja esta acontecendo no Yemem. Trocaram um Ditadura pelo caos cruento e sem rumo dos rebeldes a serviço do Imperialismo. A OTAN e ao EUA só interessam as riquezas destes paises, não o bem estar de seus povos.

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