segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

O SAGRADO DIREITO AO CANIBALISMO

Aqui atrasamos em uma hora os relógios nos meses de verão.

Na Arábia Saudita os relógios estão permanentemente atrasados em... um milênio!

Este bizarro despacho é da Agência France Presse:
"Uma mulher, condenada à morte por bruxaria, foi decapitada nesta segunda-feira, anunciou o ministério saudita do Interior...

Amina bent Abdelhalim Nassar foi executada na província de Jawf (norte).

A prática de bruxaria é estritamente proibida pelo Islã.

Esta decapitação eleva a 73 o número de execuções na Arábia Saudita desde o mês de janeiro.

O estupro, o homicídio, a apostasia, o roubo a mão armada e o tráfico de drogas são passíveis de pena capital na Arábia Saudita, que aplica estritamente a sharia (lei islâmica)".
Ou seja, ao lado dos piores crimes, os obscurantistas das Arábias colocam a apostasia (renúncia de uma religião ou crença, abandono da fé, renegação).

Se um saudita praguejar à maneira dos espanhóis anticlericais --os quais, usando linguagem mais crua, diziam (dizem?) defecar no Todo Poderoso--, isto lhe custará a vida.

A existência desses bolsões intocados pelo iluminismo, onde até hoje perduram as trevas medievais, colocam um dilema para as nações e povos que seguiram galgando os degraus da civilização --da qual o respeito aos direitos individuais (liberdade religiosa inclusa) é um dos principais pilares, uma condição  sine qua non.

Há os que pregam a conivência com a barbárie para que seja preservada a  integridade sócio-cultural  dos povos primitivos --o que, em última análise, implicaria permitir-se aos indigenas continuarem praticando o canibalismo e a algum Vlad Dracul redivivo, empalar à vontade os inimigos derrotados (o cambojano Pol Pot chegou perto...).

E há os que, pelo contrário, consideram ser um dever dos civilizados lutarem contra a barbárie.

Que, portanto, devem ser multiplicadas as pressões para forçar os bárbaros a abandonarem as práticas intolerantes e desumanas.

E que não deve haver omissão quando governos impopulares exterminam seus cidadãos para perpetuarem-se no poder por meio da intimidação e do terror, como faz Bashar al-Assad, o  açougueiro de Damasco.

Infelizmente, as nações que deveriam defender a civilização têm-se apresentado divididas por seus interesses mesquinhos em tais ocasiões.

Algumas se omitem, o que impede o problema de ser resolvido por  simples isolamento diplomático e embargo econômico --os quais, se fossem cumpridos à risca (governos pestilentos devem ser submetidos à mais rigorosa quarentena...), certamente teriam prostrado a Líbia e, agora, a Síria, sem necessidade do recurso às armas.

Algumas querem ir além da mera defesa de cidadãos massacrados, incorrendo em excessos como os cometidos na campanha contra Muammar Gaddafi.

O mandato conferido pela ONU às tropas da Otan era apenas para impedirem um genocídio em Benghazi, a cidade rebelde.

Quando extrapolaram sua missão, tornando-se as principais responsáveis pela reviravolta militar e consequente derrubada do tirano, deram péssima imagem às chamadas  forças de paz, reforçando a posição dos que defendem o  sagrado direito ao canibalismo.

Ruim de um jeito, ruim do outro. A racionalidade parece banida do planeta, tornando atual a soturna frase com que Edgar Allan Pöe iniciou seu conto "Metzengerstein":
"O horror e a fatalidade têm tido livre curso em todos os tempos. Por que então datar esta história que vou contar?"

Nenhum comentário:

Related Posts with Thumbnails