O subtexto do filme: confronto entre um personagem de ficção... |
Quando foi lançado O Cavaleiro das Trevas (d. Christopher Nolan, 2008), um tal João Pereira Coutinho, de quem eu nunca ouvira falar, escreveu um artigo superlativo chamado Adultos em pijamas, que a Folha de S. Paulo publicou.
Vale a pena citar alguns trechos:
Vale a pena citar alguns trechos:
“...morro de rir quando vejo um ator, supostamente adulto e racional, enfiado num pijama colorido e disposto a salvar a humanidade das mãos maléficas de um vilão tão ridículo e tão colorido quanto ele. Sem falar dos fãs: homens feitos, alguns casados, que continuam a acreditar que um super-herói em pleno voo compensa todas as ereções falhadas.
...durante meses e meses e meses, uma máquina publicitária que não pára tentou convencer o mundo de que O Cavaleiro das Trevas era o melhor da série e, juro que ouvi, um dos maiores filmes de toda a história do cinema.
E os atores? Os atores seriam exemplos de um realismo ainda mais brutal, com destaque para o Coringa, papel que pode valer a Heath Ledger o Oscar póstumo. Alguns (...) acrescentam que Ledger morreu de overdose precisamente por causa das exigências do papel. (...) Suspeito de que Heath Ledger morreu de overdose porque, depois de assistir ao resultado, não agüentou a vergonha. E quem o pode censurar?
O Cavaleiro das Trevas apresenta o herói (Batman) em luta final contra o mestre da anarquia (Coringa), um lunático que não deseja dinheiro nem poder como os vilões tradicionais, mas sim pura destruição. Na cabeça dos criadores, essa oposição simplória entre civilização/caos seria uma metáfora sobre o mundo pós-11 de setembro: um mundo em que o terrorismo niilista não deseja um objetivo político preciso, mas simplesmente mergulhar o Ocidente num clima de paranóia destrutivo e autodestrutivo.
Confrontado com Batman e Coringa, nenhum adulto equilibrado vê um super-herói e um super-vilão. Vê, simplesmente, dois dementes em pijamas que fugiram do asilo da cidade”.
O Coringa de Health Ledger: canhestro e superestimadíssim |
O filme, confesso, nem remotamente me atraíra. Mas, ao deparar com essa rara manifestação de vida inteligente corporificada no texto de Coutinho (que, pelo Google, fiquei sabendo tratar-se de um jornalista português de 32 anos), resolvi checar. E não é que ele estava certo?!
Trata-se de mais uma tralha cinematográfica com ação exageradíssima e quase ininterrupta, como convém aos produtos concebidos para adolescentes viciados em videogames. Aqui e ali, tiradas pomposas para dar a impressão de que se trata de algo mais do que o caça-níqueis que realmente é.
O tal Health Ledger não passava mesmo de um ator mediano. O personagem é que chama a atenção, independentemente da interpretação canhestra. Ficou a quilômetros de distância do Jack Nicholson, este sim competente e carismático, cujo Coringa permanece insuperável.
E salta mesmo aos olhos que o filme tenta reforçar a paranóia dos estadunidenses com a destruição do WTC. O Coringa foi reciclado para se tornar algo semelhante à imagem deturpadíssima que eles têm de Osama Bin Laden.
Sempre fui visceralmente contrário a quaisquer ações armadas que atinjam civis. Mesmo quando se defende uma causa justa, quem não é participante do conflito deve ser mantido, tanto quanto possível, a salvo da violência.
O Coringa de Jack Nicholson: brilhante e divertidíssimo |
Era esta a convicção predominante entre os que pegamos em armas contra o regime de arbítrio e tirania instaurado pelos golpistas de 1964. Planejávamos exaustivamente as operações para minimizar a possibilidade de derramamento de sangue.
Mas, mesmo não sendo aceitável para quem preza a civilização construída com tanto sacrifício, a reação de Bin Laden nada ficou a dever às ações terroristas e genocidas cometidas pelos EUA e seus protegidos israelenses contra a população dos países árabes.
Nem de longe um terrorista niilista querendo criar o caos, Bin Laden simplesmente voltou contra os estadunidenses as mesmas práticas de bestial intimidação que seu povo sofre há décadas. É, sim, um criminoso. Tanto quanto George W. Bush, que invadiu duas nações soberanas a partir de pretextos falaciosos e as desestabilizou por completo.
Bush e Laden merecem ter o mesmo destino de Saddam Hussein. E, dos três, os menos desprezíveis são os dois que, pelo menos, tiveram a coragem de arriscar a pele por suas convicções; o outro não passa de um poltrão que, bem protegido no seu gabinete luxuoso, ordenou os piores massacres.
2 comentários:
Celso, pelo que entendi você acredita que o episódio das Torres Gêmeas foi causado pela Al Qaeeda, mas tem muita gente, mesmo dentro dos EUA, que acha que tudo foi causado pelo sistema Bush. E o tal documentário que esteve em voga na internet, relatando, com minúcias como todo teria sido feito? Ele é falso?
Sinceramente, para mim a hipótese de conspiração faz muito mais sentido no assassinato de John Kennedy do que no ataque ao WTC.
Algum dia teremos certeza histórica sobre o que aconteceu. Por enquanto, o que há são possibilidades, conjeturas. Não superestime esse documentário só porque se trata da versão que mais lhe agrada.
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